sábado, 3 de agosto de 2019

ARTIGO - A morte não é o fim ( Padre Carlos )




A morte não é o fim




            “Disse-lhe Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá.” João 11:25 (NVI)

            Uma das questões que tem me chamado atenção nestes últimos tempos é como temos nos relacionamos com a morte e com a vida, com o existir e com o partir.
            Podemos constatar nos últimos anos, uma enorme crise na sociedade ocidental. O pós-guerra marcou no inconsciente desta geração que sobreviveu aquela barbárie a uma busca incessante de um espetáculo, voltada para tê-lo, para consumi-lo sem limites, e a necessidade de viver de forma intensa o presente, o existencial.  A partir daí, ficou uma grande lacuna um verdadeiro vazio e o partir e a morte? Da qual se fez tabu!
   
         Não precisa ser sábio para entender, que uma sociedade que não sabe conviver, aceitar e entender a morte também não saberá viver com a vida, isto é com sua existência. Penso que, para entender e conhecer uma sociedade, o mais importante não é saber como é que nela se vive e sim, saber como é que ela se relaciona com a morte, como nela se morre e como este povo se relaciona com os seus mortos. Ora, na nossa sociedade, sobretudo por causa do desprezo em relação à religião, já não há esperança em relação à ressureição, a vida eterna. Então, numa sociedade que não tem no seu inconsciente as primícias da eternidade, só lhe resta à certeza dos instantes, estes infelizmente não tem capacidade de formar um todo e, por isso, se devoram uns aos outros. Este talvez tenha sido um dos grandes motivos que levaram Sartre e o existencialismo exercer uma forte influencia em toda uma geração.   
            A um agora se segue outro agora... e assim sucessivamente. E é preciso viver com ansiedade o instante, consumir, correr, afirmar-se até esgotar todas as nossas forças, porque, depois, não há mais nada. Este é hoje o nosso problema maior. Não sou a favor do pensamento mórbido sobre a morte - infelizmente, a própria Igreja também utilizou o medo da morte para exercer o poder -, mas penso que o pensamento sadio sobre a morte traz sabedoria ao viver.
            Não podemos esquecer que o poder é fundamental para entendermos as grandes questões que envolveram e envolve a problemática em torno da história da Igreja, concretamente na sua contradição com o cristianismo originário. O cristianismo tem a ressurreição como resposta à morte, mas não sabe falar dela. O platonismo engessou o cristianismo e não podemos conceber o ser humano como composto de duas partes diferentes e separadas: o corpo (material) e a alma (espiritual e consciente). 
            A ressurreição deve entender-se na dinâmica do corpo-pessoa aberto à transcendência. Uma vez que a Igreja não sabe lidar com o corpo, termina falado só da alma. Mas hoje, no quadro da antropologia, não se pode pensar em dualismo de alma e corpo
     
      O que eu quero dizer é que quando nos relacionamos com morte, ficamos sem palavras, ficamos sem discurso e sem uma resposta em relação ao corpóreo. É o indizível. Porque nós estamos preparados para pensar dentro de um contexto de espaço e tempo, e a morte retira-nos precisamente do espaço e do tempo. Mas a fé do cristianismo na ressurreição é essencial. Quem acredita em Deus que é amor crê que não será abandonado por Deus nem mesmo na morte. Na morte, em vez de cair no nada, o crente espera entrar na plenitude da vida eterna, da vida em Deus

Padre Carlos.




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