segunda-feira, 5 de agosto de 2019

ARTIGO - A Teologia da Libertação é resgatada ( Padre Carlos )


A Teologia da Libertação é resgatada


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            Quando fiquei sabendo através da imprensa sobre o convite feito pala Pontifícia Comissão para a América Latina convidando o padre peruano Gustavo Gutiérrez para, no congresso comemorativo dos 40 anos da Conferência de Puebla (no Vaticano de 2 a 4 de outubro), falar sobre a opção preferencial pelos pobres, na hora passou um filme na minha mente e agradeci a Deus por ter me dado esta oportunidade de poder assistir o grande encontro da Igreja com os oprimidos.
          
  Este convite ao teólogo que é considerado um dos "pais da Teologia da Libertação" me deu alento e me fez acreditar, que se trata de um novo passo do Vaticano na reabilitação dessa corrente teológica.
            As coisas não acontecem por acaso, em setembro de 2013, o Papa já havia recebido Gustavo Gutiérrez na Casa de S. Marta e foi justamente naquele encontro ou poderia dizer, naquele abraço fraterno que o Pontífice lhe dera, que me chamou a atenção para a possibilidade deste fato. Na sua visita pastoral a Lima, voltou a se encontrar com este teólogo, no início de 2018. Ainda no ano passado, quando o teólogo peruano completou 90 anos, o Papa endereçou-lhe uma afetuosa carta: "Uno-me à tua ação de graças a Deus e agradeço-te pela tua contribuição à Igreja e à humanidade através do teu serviço teológico e do teu amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade", escreveu o Papa. Nessa carta auforia, Francisco agradeceu também a Gutiérrez os seus esforços e a sua "forma de interpelar a consciência de cada um, para que ninguém fique indiferente perante o drama da pobreza e da exclusão".
            O convite a Gutiérrez para falar em Roma põe fim a décadas de condenação do seu pensamento teológico e salvaguarda o aspeto mais relevante da Teologia da Libertação: a opção preferencial pelos pobres. Um conceito a que o Concílio Vaticano II abriu caminho e que as Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano consolidaram. A terceira delas decorreu em 1979, na cidade de Puebla de Los Angeles, no México.
            É verdade que a Teologia da Libertação, ao fazer uma leitura marxismo, defendeu postulados que a Igreja não podia acolher – é justamente daí que vinheram as sucessivas condenações por parte da Congregação da Doutrina da Fé. Nem tudo, porém, está errado nesta teologia. E essa parece ser a mensagem que o Vaticano e o Papa pretendem agora passar ao acolher e louvar um dos seus proeminentes teólogos.
            A Teologia da Libertação sempre deu muita relevância, para algumas ferramentas de pesquisas, são estas às ciências humanas e sociais. A antropologia, a psicologia, a sociologia foram durante anos olhadas com desconfiança ela instituição, mas a Igreja não pode descartar o seu interesse para a sua ação pastoral. Pelo contrário, deve acolher as suas contribuições e utilizar tudo aquilo que ajude a compreender melhor o homem, a cultura e a sociedade para melhor anunciar o Evangelho.
     
       Sabemos que o responsável por não aceitar a TL não o fazia por maldade, mas, o medo na guerra fria, era deixar corromper o anúncio do Evangelho com uma filosofia, psicologia ou sociologia. Este perigo não é de hoje. Já aconteceu com o platonismo, que introduziu na fé cristã o dualismo de alma e corpo, que não é cristão. Como falei esta semana em outro artigo, para Jesus Cristo, o corpo não era mau, sujo e pecaminoso, nem a alma pura, bela e encarcerada num corpo do qual tinha de se libertar.
            Diante disto tudo, podemos hoje afirmar, que a filosofia marxista tem conceitos válidos para serem utilizados pela teologia na proclamação do Evangelho, como tem também outros que são inaceitáveis. A Teologia da Libertação terá que entender que esta filosofia é mais uma ferramenta de estudo e interpretação. Só assim poderá ser útil a uma Igreja ao serviço dos pobres.

Padre Carlos



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