A meritocracia brasileira
Um dos grandes defeitos
dos governos do PT, foi não fazer com que as pessoas que estavam sendo
beneficiadas pelos programas de governo que buscavam diminuir a desigualdade, entendessem
que a melhora da qualidade de vida estava relacionada a estas ações
governamentais. É justamente quando estas medidas passam a ter resultados e
estas diferenças começam a ser constatada de forma clara, que as pessoas
passaram a acreditam na meritocracia. E o que mais nos impressiona e contraria
todas as analise critica é constatar que é justamente onde há maiores
diferenças entre ricos e pobres, isto é no sul e sudeste do país, que encontramos
mais pessoas que aceitam que o mundo é justo e que com esforço qualquer um
consegue chegar ao sucesso.
Quando
tomamos consciência que vivemos num mundo dominado por um enorme
individualismo, que valoriza a autodeterminação e a independência, todas estas
coisas passam a ter sentido para gente. O ser capaz de ter sucesso por si
próprio, o ser “special one”, diferente dos outros. Por isso, afirmar
que se deve aos outros o sucesso pessoal seria um gesto de coragem e enfrentamento
a ideologia burguesa vigente, mas foi à pura verdade. A psicologia social
mostra que muitas das nossas escolhas e mesmo a ideia que fazemos de nós
próprios são determinadas em grande parte pelas relações que mantemos com as
outras pessoas. Como é que um jovem negro, que estudou em escola pública a vida
toda, chega a uma universidade federal através de cotas é recebido pelo
conjunto de alunos oriundos de camadas abastardas e de alguns professores que
reproduzem uma ideologia de classe, é justamente nesta hora que passamos a
entender a importância do Movimento Negro e das ONGS que fazem este trabalho para
que os jovens negros possam construir uma autoestima positiva diante de tanta “diversidade”.
A
crença no individualismo é mais que uma certeza é uma ideologia que perpassa
todas as camadas da nossa sociedade burguesa e tem como primícias que, com
força de vontade, cada um consegue superar as dificuldades que enfrenta e ter
sucesso, estão profundamente enraizadas. E está associada outra crença muito
difundida e que não prestamos atenção como governo: a da meritocracia.
Acredita-se que o mundo é justo e que o sucesso se alcança através do mérito
pessoal. Que quem se esforça sempre alcança que quem merece irá ser bem-sucedido,
e que quem é pobre, alguma coisa fez para isso, alguma culpa tem.
Estas
ideias de sucesso – ou de insucesso – pressupõem pensar nas pessoas como
indivíduos isolados, vivendo num vacum social, como se todos
fôssemos iguais e não houvesse barreiras ou incentivos às nossas ações. É uma
ideia profundamente falsa, porque sabemos que o jogo é de carta marcada e que o
juiz é parcial, que os pilares da nossa sociedade foram assentados em
desigualdades que não têm nada haver com justiça. Que não é necessariamente
quem merece que tem mais, que nem sempre o esforço ou a bondade são
recompensados.
Desta
forma, de acordo um estudo de uma equipa de psicólogos sociais e sociólogos com
dados recolhidos junto de amostras representativas da população brasileira, as
ideias meritocracias estão muito difundidas entre nós. Só cerca da metade das
pessoas discordam de afirmações como a de que, “de uma maneira geral, as
pessoas merecem aquilo que lhes acontece”, o que mostra que existe ainda uma
grande adesão a estas ideias meritocracias.
Enquanto
continuarmos acreditando que merecemos e conquistamos tudo
sozinhas, sentiremos menos que devemos algo e, em decorrência disto poderemos
continuar com a nossa neutralidade em decorrências as lutas que se travam na
sociedade.
Padre Carlos
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