sábado, 31 de agosto de 2019

ARTIGO - Uma Igreja com novos caminhos ( Padre Carlos )




Uma Igreja com novos caminhos



            O Sínodo de outubro sobre a Amazónia constitui para todos os cristãos, uma esperança para vivenciarmos o Concílio e construir uma Igreja que seja de todos e todas.
        
    São “Novos Caminhos para Uma Igreja e ecologia integral”, que todos e todas devemos percorrer, juntamente com os povos indígenas da Amazónia, as grandes cidades, as zonas rurais, e cada esquina de cada viela, onde nos encontrarmos. A Amazónia é tão importante, que para além da defesa deste importante território, abrangendo diversos países, temos a nossa cidade e o nosso país. Sim, Esta Amazónia que corre nas nossas veias, com o sangue derramado das comunidades extrativistas e indígenas, deixam profundas marcas no planeta e nas nossas vidas. Os pulmões da Amazónia vivi atualmente em uma “cultura de morte e descarte”, é uma região de muitos povos que vivem em harmonia entre si e com a Natureza, a sua riqueza está na biodiversidade, na pluralidade das suas culturas e tradições religiosas. É toda a Humanidade, a Vida e o seu Criador que estão sendo derrubados, pela intervenção humana. É uma região espelho de toda a Humanidade, por isso é nossa responsabilidade como cristãs e cristãos a sua defesa e exigência de mudanças que regimes autoritários, não querem. Lutar contra governos predadores e que com o seu discurso de desprezo aos povos da Amazônia, destrói o país e ameaça a soberania nacional, é nosso dever como cristão e ser desta mãe que acolhe seus filhos, chamada planeta terra. Não podemos negar que foi a estupidez deste governo em relação ao meio ambiente e o estímulo à exploração de garimpeiros, madeireiros e ruralistas em áreas preservadas que levou nestes últimos dias ao caos ambiental.
            Se este Sínodo já foi notícia maior, por nele se defender a possibilidade do retomar a vida plena na Igreja das mulheres e da ordenação de homens casados como presbíteros, o que é em meu entender -, um importante avanço na Igreja Católica Romana e uma singular posição de atualização da Igreja – já tardia, diga-se -, não pode apagar aquilo que é de mais substantivo no Sínodo, o querermos viver um futuro tranquilo, ou o “Bem-Viver”, como está bem explícito na Carta da Terra, na construção de um planeta e cosmos que rompa com estruturas que sacrificam a vida, que Deus nos concedeu. A “cultura do encontro” com todas e todos permite um diálogo intercultural, não colonizador, que faça renascer a Fé no descobrir o Reino de Deus, que não é preciso construir, pois ele já está entre nós, é necessário só descobrir, porque está abafado pelas nossas iniquidades.
    
        Nossa esperança não está somente na possibilidade do retomar a vida plena na Igreja das mulheres e da ordenação de homens casados como presbíteros, mas, na liberdade de vivenciar o nosso batismo, em uma ecologia ambiental, em uma ecologia social, em uma ecologia econômica, em uma ecologia cultural, dentro da nossa Igreja. Teremos que vivenciar dentro da Igreja a Boa Nova de Jesus, para podermos pregar e levar aos irmãos.


Padre Carlos


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

ARTIGO - 40 anos - Minha história, minha vida! ( Padre Carlos )




Minha história, minha vida!


     Quando Rosa Luxemburgo, disse que a liberdade é sempre a liberdade de quem pensa diferente, queria dizer, que as minorias e/ou maiorias que impeçam a livre manifestação do pensamento divergente contribuem para fortalecer o caldo cultural autoritário – também presente na esquerda brasileira. A liberdade de expressão é uma conquista e os militantes tem o direito de ser reconhecido pela direção partidária e portar seus símbolos ideológicos. Talvez a insistência surta mais efeitos negativos do que positivos, afinal o constrangimento pode afastar seus quadros, mas é uma questão de estratégia política a ser avaliada por eles.
    
        Não é paradoxal que sob a democracia e em nome da democracia sejam impedidos de participar e fazer parte do projeto político que ajudou construir? Como posso disputar uma maioria me considerando antipartidário e impedindo o direito e impondo meus sentimentos e valores de rejeição à minoria? É democrático impedir a livre manifestação dos que escolhem outros caminhos? Por outro lado, é preciso levar em conta que o sentimento de exclusão é difuso e nem sempre considera as diferenças substanciais entre as diversas correntes de pensamento dentro do partido, colocando todos sob o mesmo balaio. A ojeriza a algumas correntes do partido não é legítima nem salutar, na medida em que questiona a estrutura basilar da democracia representativa. Que o PT aprenda a lição das ruas e possa vivenciar primeiro a liberdade e a democracia nas suas fileiras.
            Estou no PT porque me reconheço na prática política do partido. Foi, sobretudo, uma opção ideológica. Com o tempo, outras experiências e leituras me conduziram cada vez mais, na direção à organização partidária. Durante a década de setenta, militei nas fileiras do Partido Comunista do Brasil, mesmo no tempo em que militava no PCdoB não me atraía o tipo de organização vanguardista, o partido de quadros, mesmo sabendo que se tratava de uma expressa necessidade daquela geração. Também aprendi com eles e, mesmo com as divergências que nos separam, mantive relacionamentos, pautados pelo respeito mútuo, que perduraram.
Sou, portanto, “Com Partido”. Reconheço-me no Partido dos Trabalhadores! É uma opção político-ideológica tão legítima construída nestes trinta e nove anos que dediquei da minha vida. Sim, dediquei os melhores anos da minha juventude na construção deste projeto.
             Reconheço, porém, a contribuição que minha geração deu na construção do partido e na militância política partidária. Sou de uma época em que não podiam expressar-se livremente, tinha que viver na clandestinidade. Não podíamos na reunião dos DAs ou DCEs, expressar nosso pensamento. Era uma questão de segurança, de sobrevivência, a integridade física e a vida estavam em risco. A ditadura civil-militar perdurava. Quando o PT surgiu, muitos de nós aderiram. Com o tempo alguns companheiros seriam convidados a sair ou foram sumariamente expulsos. Então, formaram seus próprios partidos. Outros permaneceram sob o biombo do MDB/PMDB. Dentro ou fora do PT, minha geração contribuiu para o processo de redemocratização do país.

       
    
Desta forma, quando comecei militar na esquerda, os jovens que hoje fazem parte do partido ainda não tinham nascido e mesmo não participando das lutas travadas neste quase meio século de resistência, pude constatar que coragem e senso de justiça nada tem haver com idade ou tempo de militância. Quando li a reportagem do candidato à presidência do PT de Conquista, Isaac, reconhecendo as forças que fazem parte do partido e chamando para si a responsabilidade de reconhecer as lideranças que fazem parte deste projeto, mostrou que tem capacidade de ser presidente do PT e que com certeza está surgindo uma forte liderança.

 

Padre Carlos








quinta-feira, 29 de agosto de 2019

ARTIGO - Democracia, ruim com ela, pior sem ela ( Padre Carlos )




Democracia, ruim com ela, pior sem ela



            Segundo Winston Churchill, o carismático primeiro-ministro britânico, "a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais". Já os eleitores de Bolsonaro acham que não. Ou melhor, considera que a democracia pode ser um entrave quando colide com os seus projetos e por isso, foram às ruas pedir o fechamento do Congresso e do STF. A frase "Por alguns segundos pensei em fechar o Congresso. E ter-me-iam bastado um cabo e dois soldados." Pertence a Jânio Quadros em uma das muitas reflexões sobre a sua renúncia. Esta mentalidade golpista da direita brasileira vem sendo usada ao longo dos anos como uma forma de ameaçar as instituições e o povo brasileiro.
     
       O apoio à dissolução do Supremo pelo presidente "quando o país está enfrentando dificuldades" foi à medida ilegal cujo apoio mais avançou, ao longo do tempo, entre os eleitores de direita. As dificuldades podem ser interpretadas como obstáculo para implantar o estado policial como podemos constatar em algumas medidas que esbarram no estado do direito. Não podemos esquecer o que disse um dos filhos do presidente e Dep. Federal “Cara se quiser fechar o STF, sabe o que fazer? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o saldado e o cabo não” afirmou.
             Só na democracia os cidadãos têm direito de participação igualitária nas decisões do Estado, ou seja, existe a participação ativa das pessoas nas decisões políticas do país e isto incomoda uma direita que quer impor seu projeto a qualquer custo.
            A forma de participação popular depende do tipo de democracia adotada, mas ela sempre existe nos sistemas democráticos de governo. E o que prevalece nela é o estado de direito e a sua constituição. E é justamente esta Carta, que este grupo quer acabar ou rasgar. Nossa Constituição Cidadã, corre perigo, justamente por garantir direitos que são essenciais para a democracia, como a proteção aos direitos fundamentais, à promoção de mais igualdade social, o direito ao voto de todos os cidadãos e a liberdade de expressão. E isto eles não podem aceitar.
            Um governo que foi eleito através de manobras eleitorais pelo seu ministro da justiça é um governo ilegítimo e para se manter no poder, cria para o seu eleitorado um regime de mobilização permanente, usando sempre com caráter violento.
             É ilegítimo? Sim, porque a forma de chegada ao poder costuma ser através de um golpe de Estado ou eleitoral e casuístico, quando o poder é tomado de forma ilegítima por uso de força ou manobra parlamentar ou jurídica, não tem legitimidade para ser exercido.
      
      Não podemos aceitar este tipo de governo, por isto lutei contra a ditadura militar e luto até hoje. Sim, é por isto que dei os melhores anos da minha juventude para que minhas filhas pudessem desfrutar do direito de serem livre bem como, a capacidade de poder exercer seus direitos civis, políticos e sociais e de poder ter acesso a uma vida melhor com respeito aos direitos garantidos na Constituição Federal.

Padre Carlos




quarta-feira, 28 de agosto de 2019

ARTIGO - Uma Política Externa Ativa e Altiva ( Padre Carlos )





Uma Política Externa Ativa e Altiva


            Um dos grandes problemas da esquerda brasileira é não ter a cultura de lembrar dos seus companheiros que partiram e resgatar para as novas gerações, o seu legado.  Quero lembrar ao PT principalmente, que a memória é um dos alicerces que dá sentido ao projeto de partido. Preservar a memória institucional e partidária é manter o partido vivo e uma forma de fortalecer a sua militância. Quando memorizamos, isto é, resgatamos a memória de um companheiro, afirmamos a sua importância na construção do partido e das suas contribuições na história recente do país, para as novas gerações. 
      
      Assim, gostaria hoje de falar de um quadro político responsável pela política de integração da América Latina e sua importância na “Política Externa Ativa e Altiva” dos governos do PT. Ao nomear Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República, o Presidente Lula, criava condições políticas de uma articulação sul-sul e da aproximação com os continentes africano e asiático, Marco Aurélio tinha a real noção da importância da formação de blocos como o Brics e o Ibas, vistos como estratégicos na construção de articulações contra-hegemônicas e para a reforma da ordem internacional vigente e de suas instituições.
            Com a perda relativa de protagonismo internacional brasileiro e a política exterior de menor intensidade nos governos Temer e Bolsonaro ficam evidentes cada vez mais a sua importância como estrategista capaz de transformar principalmente seu conhecimento acumulado na Secretaria de Relações Internacionais do partido – sobre política externa e relações internacionais em um projeto de “Política Externa Ativa e Altiva” para a soberania de todo um continente.
            Tive oportunidade de conhecer este companheiro em uma palestra em Campinas, na década de oitenta. Professor universitário, conhecedor profundo da história das esquerdas brasileiras e latino-americanas, intelectual brilhante, militante experiente, fundador do PT e secretário de Relações Internacionais do partido por vários anos. Acompanhei durante todos estes anos a trajetória deste companheiro e posso afirmar que ele teve um papel central na formulação e na prática da política externa brasileira durante os dois mandatos de Lula e, com menor intensidade, no governo Dilma. Não é a toa que foi no âmbito da política externa que os governos petistas, provavelmente, tenham chegado mais próximos das teses defendidas pelo partido desde a década de 1980 e nos programas das várias campanhas presidenciais de Lula.
        
    Faz dos anos da morte Marco Aurélio, neste período, podemos constatar a falta que faz a sua capacidade de liderança e habilidade política, como foram importantes a sua lutas e projetos para a soberania do Brasil e a toda a América Latina. Sempre admirei a sua inteligência, o seu compromisso com a democracia e a justiça social e a sua enorme capacidade de trabalho.
Marco Aurélio Garcia?
Presente!

Padre Carlos


terça-feira, 27 de agosto de 2019

ARTIGO - A caixa de pandora. ( Padre Carlos )




A caixa de pandora.



            Quando o PT chegou ao governo, buscou uma forma de não dialogar somente com suas bases e construindo um canal menos ideológico e mais republicano, fechou o canal com seus eleitores e sem eles, cometeu o erro de fazer política sem retaguarda. Já o governo que se encontra hoje no planalto, além de manter seu discurso e programa ideológico, cria com todos os meios e o aparato que o estado possa lhe proporcionar, um regime de mobilização permanente.
    
        Bolsonaro continua buscando e dialogando através de manifestações populares, coloca sua base contra as instituições, porque ele sabe que é a única forma de implantar seu projeto autoritário de um governo policial.
            Se prestarmos atenção às falas do presidente, podemos constatar que tem a intenção de levar o público a pensar que ele não é radical: ele tenta se parecer com o fascista francês Jean-Marie Le Pen do que com sua filha, a populista de direita Marine. Mas, não podemos nos enganar, atrás de cada gesto e frases aparentemente bobas, se esconde uma intenção e um objetivo dentro de um projeto político.
             É importante diferenciar o tipo de mobilização do bolsonarismo do ativismo social saudável. Uma sociedade civil forte impõe limites ao poder. A mobilização em favor do Poder Executivo contra o Legislativo e o Judiciário tenta retirar esses limites.
            Bolsonaro não pertence a corrente dos militares que aceitaram o fim da ditadura e a abertura democrática. Por isso a tortura e seus torturadores são motivos para culto. Podemos dizer que o Mito é fruto de uma ideologia dos porões do que existiu de mais sombrio da ditadura, não é fruto de Golbery, não é uma herança dos presidentes militares. É a visão de mundo dos bastidores do DOI, CODI e CINIMAR, dos agentes que torturava comunistas e depois entrou para o esquadrão da morte, na visão urbana e os Curió na visão rural, com os garimpos ilegais, além é claro, do jogo do bicho. Assim, podemos entender os elogios e os reconhecimentos às pessoas ligados as milícias.
       
     Quando se deu o golpe parlamentar, faltou visão aos teóricos de direita para entenderem que quebrar os partidos e o sistema político era fácil, difícil era construir outra coisa no lugar. O que sobra é conservadorismo moral e extremismo populista.

            Acho que a maior parte da imprensa, dos políticos de centro direita e o povo brasileiro não descobriram ou não tem coragem de admitir que para o PT não voltar ao poder, abriram com seu ódio e sua omissão uma caixa de pandora.

Padre Carlos





segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ARTIGO - Basta de abuso de Autoridade ( Padre Carlos )




Basta de abuso de Autoridade



            Nos últimos dias muito se tem dito, escrito e, sobretudo especulado sobre a lei de abuso de autoridade,  prevendo punição a agentes públicos, incluindo juízes e procuradores, em uma série de situações de abusos que relatados no decorrer das investigações e julgamento de algumas personalidades, passa a revelar uma interferência no próprio processo eleitoral, cometendo assim um crime à democracia brasileira.
             Não podemos afirmar, que a lei que foi aprovada pelo parlamento brasileiro, isto é, por um dos poderes da nossa república, está voltada para uma determinada categoria, ela deverá ser aplicados contra parlamentares, delegados, promotores, juízes, inclusive ministros de tribunais superiores. Todos nós temos consciência que a atualização da lei era um "remédio necessário" para combater abusos que vem acontecendo nos últimos anos contra o cidadão e não demos resposta a essas situações. Assim, deixa clara a reação da classe política em relação a esta matéria.
        O debate de ideias que normalmente acompanha medidas como esta, dentro de uma cultura autoritária, assumem neste caso contornos que infelizmente vão marcando cada vez mais o debate público: a propagação de falsidades e deturpação dos fatos.
A proteção do cidadão em relação as suas garantias constitucionais é um tema sério e que merece um debate responsável e informado. Infelizmente, aquilo a que temos assistido é a um conjunto de atores políticos que não hesita em combinar mentiras e preconceitos para explorar ganhos políticos à custa do sofrimento das vitimas que cai em desgraça nas mãos destas autoridades, assim a lei seria uma forma de inibir tais abusos - finalmente! - uma garantia de proteção e respeito.
            Ao contrário do que tem sido divulgado de forma propositadamente falsa e manipuladora, o que está em causa não é um conluio do parlamento nem da sua classe política em relação à impunidade a corrupção, o que realmente representa esta lei é um grande avanço para o combate à corrupção e para a atualização do ordenamento jurídico brasileiro. O que está em causa são medidas de proteção ao cidadão e a volta ao Estado de Direito.
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Não se trata de ideologia, mas de humanidade e justiça.
            Os críticos usam as mentiras e as deturpações para agitar a lei e afirmam que a amplitude do texto que segue para sanção coloca em xeque a independência do Judiciário, ao intimidar a atuação da magistratura. Elas prometem mobilizar a opinião pública em prol do veto presidencial e planejam encaminhar à Casa Civil pareceres técnicos para embasar o veto, deixa clara a necessidade de afirmar uma posição política e corporativa.
    
        A sociedade brasileira vai demonstrar a sua capacidade de fazer, como tem feito um caminho na construção de um mundo mais igual, mais justo e menos discriminatório. Assim com a nova lei, as autoridades poderão ter a certeza que o cidadão tem direitos e deveres. Sim, a sociedade passa a ser um espaço de direitos, de liberdade e de respeito. Continuaremos o caminho de igualdade que trilhámos até aqui e demonstraremos que aqueles que querem perpetuar a ordem, a liberdade e a justiça, são afinal, a maioria.

Padre Carlos

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ARTIGO - O homem e a sua humanidade ( Padre Carlos )




O homem e a sua humanidade


            Várias são as explicações para o processo de humanização e as ciências que o discutem: a filosofia, a antropologia, a sociologia, a história, a biologia, a psicologia, entre outras. Entretanto, consideramos que este processo se dar através das lutas e o acumulo de forças das conquista dos povos. Será que o homem nasce humano? As características humanas estão presentes desde o nascimento? O que é ser humano? Como ocorre o processo de tornar-se humano? O que diferencia os humanos dos animais? Questões como essas inquietam e inquietaram a humanidade no decorrer dos séculos de sua existência.

           Faz alguns anos que um amigo me mandou algumas fotos de jornais espanhóis do século XIX, neste material histórico, apareciam anúncios assim: "Vende-se uma pretita de 9 anos, natural de Havana, sã e sem manchas, que passou os testes da varicela e do sarampo, ágil, com boa presença e disposta a aprender toda a espécie de trabalhos"; "vende-se com equidade uma negra de 30 anos, robusta, fiel e trabalhadora, sabe fazer todas as lides de uma casa". Lendo todo aquele material que chegara da Galícia, fiquei imaginando, como fomos capazes de vender gente? Será que havia humanidade neste povo? Diante destas informações e estudando o comportamento das sociedades, podemos perceber como a moral e a ética vai transformando a gente e moldando novos costumes e certezas.  
            Essa tomada de consciência vai se dando de forma lenta e gradativa em relação à dignidade sagrada de todos os seres humanos. Apesar da Igreja institucional não ter sido nenhum exemplo de resistência, não podemos esquecer os padres e religiosos que defenderam estas almas com as próprias vidas e passaram a criar uma consciência que todos são filhos de Deus. Sim, buscando no Livro Santo sua fundamentação: Génesis, dizendo que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus.

            Nesta marcha lenta dos "direitos fundamentais do Homem", encontramos múltiplos indícios, ainda antes da modernidade. Assim conhecendo a história da humanidade, sabemos que foi uma longa jornada até chegarmos a Declaração Universal de Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948, em Paris. Dos 48 Estados então representados nas Nações Unidas, nenhum votou contra, 40 votaram a favor, oito abstiveram-se: os seis países comunistas, a África do Sul e a Arábia Saudita. Nos artigos 1 e 2, lê-se: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e distinção alguma de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou qualquer outra situação".

             Na fundamentação dos direitos humanos, encontramos inevitavelmente as famosas afirmações de Kant: "Tudo no mundo tem um preço; só o Homem tem dignidade." "O Homem é fim, e nunca meio ou instrumento; portanto, independentemente da sua maior ou menor utilidade, reclama um respeito incondicional." Kant está falando da liberdade enquanto ela é de fato, que nos distingue das coisas e dos animais e se explicita na consciência do dever.
Para ser fim, o Homem tem de ter nele algo de absoluto, incondicional, infinito. Então, se tem algo de infinito em si mesmo, que é a pergunta pelo Infinito, o Homem é fim, pois, para lá do Infinito, não há mais nada.
    
        O homem vai se humanizando na medida em que passa a creditar que não haverá paz entre os homens enquanto existir injustiça social. Hoje o que estamos vivenciando em um mundo globalizado é uma tomada de consciência a respeito da nossa humanidade. Assim, quanto mais humanos nos tornamos, mais nos enraizamos e mais vamos adquirindo força, vitalidade, bons nutrientes e dessa forma, capacidade para atingir os nossos objetivos, a felicidade!

Padre Carlos



ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...