sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ARTIGO - O homem e a sua humanidade ( Padre Carlos )




O homem e a sua humanidade


            Várias são as explicações para o processo de humanização e as ciências que o discutem: a filosofia, a antropologia, a sociologia, a história, a biologia, a psicologia, entre outras. Entretanto, consideramos que este processo se dar através das lutas e o acumulo de forças das conquista dos povos. Será que o homem nasce humano? As características humanas estão presentes desde o nascimento? O que é ser humano? Como ocorre o processo de tornar-se humano? O que diferencia os humanos dos animais? Questões como essas inquietam e inquietaram a humanidade no decorrer dos séculos de sua existência.

           Faz alguns anos que um amigo me mandou algumas fotos de jornais espanhóis do século XIX, neste material histórico, apareciam anúncios assim: "Vende-se uma pretita de 9 anos, natural de Havana, sã e sem manchas, que passou os testes da varicela e do sarampo, ágil, com boa presença e disposta a aprender toda a espécie de trabalhos"; "vende-se com equidade uma negra de 30 anos, robusta, fiel e trabalhadora, sabe fazer todas as lides de uma casa". Lendo todo aquele material que chegara da Galícia, fiquei imaginando, como fomos capazes de vender gente? Será que havia humanidade neste povo? Diante destas informações e estudando o comportamento das sociedades, podemos perceber como a moral e a ética vai transformando a gente e moldando novos costumes e certezas.  
            Essa tomada de consciência vai se dando de forma lenta e gradativa em relação à dignidade sagrada de todos os seres humanos. Apesar da Igreja institucional não ter sido nenhum exemplo de resistência, não podemos esquecer os padres e religiosos que defenderam estas almas com as próprias vidas e passaram a criar uma consciência que todos são filhos de Deus. Sim, buscando no Livro Santo sua fundamentação: Génesis, dizendo que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus.

            Nesta marcha lenta dos "direitos fundamentais do Homem", encontramos múltiplos indícios, ainda antes da modernidade. Assim conhecendo a história da humanidade, sabemos que foi uma longa jornada até chegarmos a Declaração Universal de Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948, em Paris. Dos 48 Estados então representados nas Nações Unidas, nenhum votou contra, 40 votaram a favor, oito abstiveram-se: os seis países comunistas, a África do Sul e a Arábia Saudita. Nos artigos 1 e 2, lê-se: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e distinção alguma de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou qualquer outra situação".

             Na fundamentação dos direitos humanos, encontramos inevitavelmente as famosas afirmações de Kant: "Tudo no mundo tem um preço; só o Homem tem dignidade." "O Homem é fim, e nunca meio ou instrumento; portanto, independentemente da sua maior ou menor utilidade, reclama um respeito incondicional." Kant está falando da liberdade enquanto ela é de fato, que nos distingue das coisas e dos animais e se explicita na consciência do dever.
Para ser fim, o Homem tem de ter nele algo de absoluto, incondicional, infinito. Então, se tem algo de infinito em si mesmo, que é a pergunta pelo Infinito, o Homem é fim, pois, para lá do Infinito, não há mais nada.
    
        O homem vai se humanizando na medida em que passa a creditar que não haverá paz entre os homens enquanto existir injustiça social. Hoje o que estamos vivenciando em um mundo globalizado é uma tomada de consciência a respeito da nossa humanidade. Assim, quanto mais humanos nos tornamos, mais nos enraizamos e mais vamos adquirindo força, vitalidade, bons nutrientes e dessa forma, capacidade para atingir os nossos objetivos, a felicidade!

Padre Carlos



Nenhum comentário:

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...