A luz do conhecimento
Entre as recomendações de
Maquiavel até hoje adotadas como referência nos meios políticos, uma é
fundamental para entendermos os resultados das ultimas eleições em nosso
município. Ensinava o pensador italiano que o príncipe audaz deve tentar
“dividir para governar” (ou reinar). “Divide et impera” – orientava ele.
Confesso aos senhores que
nunca fui apaixonado por números, não tenho nenhuma aptidão para exatas, minha
praia mesmo é humanas, mas ao receber o estudo desenvolvido pelo professor Wilton
Cunha sobre os números das urnas nos dois turnos de forma que pudéssemos
entender o momento e a localização espacial daqueles votos, pude entender como
seria importante traduzir para o eleitor e para a esquerda de um modo geral, o
que representava e o que eles querem dizer sobre nossa ação política.
Não vou me prender aos
números, deixo esta tarefa aos profissionais desta área, trabalharei aqui as
questões de cunho político e filosófico, tendo com pano de fundo o estudo
citado.
Quando
fiz referencia no início do nosso artigo a celebre frase de Maquiavel, estava
chamando a atenção para o fato da importância desta estratégia, apesar de ser
muito antiga, tem uma eficácia tal, que a sua utilização perdura ainda nos
tempos de hoje.
Não quero com isto dizer que o ciclo petista no nosso município se deu única e
exclusivamente em decorrência desta estratégia. Mas não podemos negar que tudo
começou a dá errado para Frente Conquista Popular, quando não soubemos
valorizar estes quadros que estavam integrados ao nosso projeto, nem criamos
uma política de valorização para mantê-los nas nossas fileiras. Assim, pudemos
ouvir do nosso adversário em 2016, que sua campanha sem este apoio não teria
chances reais de se eleger.
Nosso
erro foi achar que a direita não iria se reagrupar e não entender o que estava
acontecendo debaixo de nosso nariz foi uma falha imperdoável. Existe uma
corrente na Psicologia que traduz bem para os leitores este fato e mostra de
forma clara a perda de potencial que decorre da divisão de um todo: “o todo é
maior que a soma das partes” espelha que verdadeiramente juntos, e em conjunto,
seriam melhores, mais capazes, mais fortes. As partes isolam-se, ou somam-se simplesmente,
quando o seu “todo” seria bem maior – É uma estratégia que a direita tem usado
no nosso município nas duas ultimas eleições e que tem funcionado para servir
os interesses de uma elite que estava gasta de ideias e ferida de princípios
éticos e morais.
Quando
levanto estas questões, não me refiro só às táticas da direita para manter-se
no governo, falo também que além de manter um controle soberano sobre as
populações, também podem ser aplicada ao partido e a qualquer instituição,
quando em uma campanha se joga com interesses de partes, partes que juntas e em
união poderiam ser capazes de causar uma oposição forte e perigosa a
determinadas correntes – uma oposição indesejável para aqueles que querem
dividir para governar.
Mas
temos também que botar o dedo na ferida e buscar entender como entramos em uma pré-campanha
com todos indicativos apontando para uma vitória, e com as pesquisa favoráveis,
inclusive com uma folga de dois dígitos, conseguimos o que todos analistas
achava difícil, perder as eleições. Como a coordenação conseguiu desfazer com
seu planejamento esta vantagem? Lembro-me das antigas propostas quando fazíamos
o tal laboratório para entender e planejar a campanha acredito que naquela
época havia um brilho nos nossos olhos, que hoje não existe mais. Temos que
admitir que não fizemos uma análise da conjuntura do que estava de fato
acontecendo durante a eleição, estávamos sendo desidratado eleitoralmente desde
o primeiro momento da campanha e por isto, não tivemos capacidade de reverter o
quadro que se formou na ultima semana do segundo turno. Esta deveria ser o
papel da coordenação: a agilidade para reverter um quadro inesperado, as
estratégias de linguagem, a preparação do candidato que devido à idade e
correndo o risco de ser infectado pelo coronavírus, teve limitada sua ação.
Durante
as duas ultimas décadas, houve um revezamento entre dois grupos que não se
preocuparam em renovar suas lideranças nem proporcionar outros grupos no
partido a terem vida própria. Esta conjuntura que se formou em 2007, tinha como
rubicão entre estas duas forças o Governo do Estado e a Prefeitura, fazendo com
que as lideranças e quadros que não faziam parte desta divisão partissem para
uma diáspora deixando Conquista. Até hoje esta política é colocada em prática,
impedindo o surgimento de novas lideranças. Essas coisas cansam. Podemos citar como
exemplo o pedralismo ou o carlismo. Há
uma lógica de fadiga e se não soubermos trabalhar uma renovação de verdade,
estaremos condenados a fazer parte da história. Ao longo das duas últimas décadas,
houve um esgotamento do projeto petista, que não se renovou de forma a responder
novas demandas da sociedade.
Como
é possível que um partido que participa do Governo estadual há 14 anos e
administrou nossa cidade por duas décadas, ter um desgaste tão rápido da sua
imagem como foi constatado. Enquanto acharmos que somos autossuficientes e não
precisamos de ninguém para por em prática nosso projeto; se não deslocar a base
da direita de verdade; se não pensarmos em governar com uma coalizão de
partidos, não chegaremos a lugar algum.