terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

ARTIGO - Numa eleição de tubarão baleia é arraia miúda (Padre Carlos)

 

Numa eleição de tubarão baleia é arraia miúda

 





Nenhum ditado popular explica tão bem o resultado das eleições na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, como este: "Em terra de cego quem tem um olho é rei". Ele mostra a movimentação das grandes oligarquias e revela que existe um realinhamento das elites com a ultradireita, devido à formação de uma conjuntura polarizada entre a esquerda e a direita na próxima eleição.


Daqui até o próximo pleito, o país vai passa a viver um clima de tensão entre as forças democráticas e as tenebrosas transações que o executivo será obrigado a fazer para se manter no cargo. Ao perder uma parte da direita e das elites que esta representa o Governo demostrou que está sem força, sem autoridade e sem norte. Numa degradação irreversível, que já nem uma reforma ministerial conseguirá inverter.

 

Temos que entender que desta vez será diferente. Para compreender a conjuntura para a eleição de 2022, temos que somar à pandemia e à crise económica e social, o resultado disso é a tempestade perfeita. Acrescentando a estas duas crises o risco da ingovernabilidade política e a forma como o governo Bolsonaro vai ser refém destes grupos.

 

O problema mais sério ainda é que o governo por não ter uma base sólida, se tornou refém do que existe de pior no mundo da política e diante destas escolhas, a situação só tende a piorar, gerando graves crises política e ética para seu núcleo duro digerir. A ameaça de ingovernabilidade pode favorecer o campo da esquerda e tornar inviável o projeto da direita liberal com seus expoentes.  Na política não há soluções milagrosas. Ou há uma maioria estável e coerente e consegue-se um governo forte, ou não há e os governos vão se enfraquecendo levando consigo tudo que o representa. Por isto, o preço que o centrão cobrar para manter de pé Bolsonaro e seu governo vai ser alto. É o que sucede no presente. É o que se pode agravar no futuro.

        


Mais grave do que o resultado das eleições na Câmara e no Senado, é o momento em que elas aconteceram e a forma como expos a promiscuidade de alguns ou muitos “representantes do povo que se colocaram na dinâmica do toma lá dá cá”. Justamente quando o Brasil mais precisa mudar de vida e de ter um Governo forte. Precisamos ardentemente de começar a fazer o que é urgente e não o que é importante. Enquanto a direita se preocupa com a saúde das contas públicas, nós precisamos se preocupar é com a saúde do povo e isto ficou claro nesta pandemia. Em tudo o que dependia da ação do poder político, o país falhou.

 

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