quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

ARTIGO - Leite Moça ou mel na boca? (Padre Carlos)

 


          Leite Moça ou mel na boca?

 


 

 Não conheço a origem da expressão "cair como um pato"mas ela serve muito bem, para descrever o comportamento da imprensa e a esquerda brasileira quando se deixa engar por escândalos programados. Perdi a conta de quantas vezes fomos ludibriados por este governo. Ao desviar nossa atenção, deixamos de focar no fundamental, a Amazônia e os crimes de omissão e passamos desta forma, a investigar a farra com o cartão corporativo e a doçura do leite moça. Acredito que estão passando não leite, mas mel na nossa boca, quando não percebemos a engenharia que está por traz destes escândalos.  Até quando seremos inocentes e deixaremos que criem novos escândalos, retirando o foco da atuação desastrada e criminosa no combate ao vírus da covid-19. 

            


Considerando que o que um orador quer dizer e o que um ouvinte gostaria de ouvir pode ser muito diferente e chocar quem não esta acostumada à determinada comunicação. Esta é a grande arma que este político tem usado para desviar a atenção dos grandes temas que posam colocar em perigo seu mandato. Muitos acreditam que o que move o mundo é o dinheiro, os bens materiais que tanto atraem as pessoas ou até mesmo a busca pelo prestígio e poder. Tudo isso é muito importante, considerando que mexem de verdade com o comportamento humano. Porém o que mais é capaz de provocar mudanças,  transcender teorias e transformar o mundo ou ESCONDER VERDADES é, de fato, a linguagem. 

Na semana que o STF, autoriza investigar a conduta do ministro Pazuello, sobre omissão da morte de aproximadamente cinquenta pessoas no estado do Amazônia, estas notícias aparecem como passe de mágica. O caso ficou conhecido pela imprensa como “escândalo do leite condensado” e já levou o governo a retirar da página “Portal da Transparência”, onde por norma são divulgadas as listas de despesas do governo executivo em compras com dinheiro público, a publicação sobre os gastos de 2020. Segundo a imprensa, foram vários item superfaturados e por mais escandaloso que seja estas compras, não se pode ligar diretamente ao presidente, mas as vítimas por falta do oxigênio podem bater na porta do Planalto.

Bolsonaro é um verdadeiro artista (ilusionista) mestre na ligeireza dos movimentos (principalmente das palavras) capazes de fazer desaparecer ou deslocar o foco de um escândalo sem que o espectador dê ciência que está sendo enganado.

Nas falas de Bolsonaro, há dois aspectos importantes: a forma e o público alvo e, nesse caso, não estamos falando apenas do eleitorado, mas de toda essa base que é de ordem da estrutura da sociedade. Temos aí os militares, os evangélicos, os lobbies que o apoiaram, mas também temos a imprensa e a esquerda, que ressalta a incoerência dos pronunciamentos do presidente brasileiro com aquilo que ele representa. Quando o presidente Jair Bolsonaro disse, nesta 4ª feira (27. jan.2021), que “é pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essa lata de leite condensado”, ele utiliza suas técnicas de linguagem do carisma do poder e da brutalidade. É um paradoxo: quanto mais um líder político se mostra brutal, mais ele terá o favoritismo de uma parte da população que se encontra frustrado.

        


O "discurso" de um chefe de Estado vai além de suas palavras - ou palavrões - e também é analisado através de suas ações enquanto figura pública. Nesse contexto, ao desrespeitar todos os profissionais e as empresas que eles representam, chama para si toda atenção desviando e retirando o foco do epicentro do covid-19 e dos seus supostos crimes de omissão.

 


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