O impeachment é a salvação da direita.
Com a saída de
Trump do cenário político e dos palcos da ultra-direita, Jair Bolsonaro, torna-se
o maior símbolo do populismo mundial, este fato chama a atenção de todo o mundo
sobre dois aspectos: o primeiro se refere aos delírios do presidente na busca
da centralização total do poder, como na figura do Rei. Para Bolsonaro,
assim como Luiz XIV, "O Estado sou eu." O segundo, está relacionado
ao seu núcleo duro, mas também sobre o risco da democracia e sua capacidade de
mobilização em chamar seu público para colocar em pauta uma agenda autoritária.
Se me perguntassem há um ano se esta avaliação estaria correta, eu diria
que sim e que a verticalidade entre Trump e Bolsonaro, poderia desestabilizar a
América Latina. Hoje, o cenário é outro, as forças autoritárias não representam
mais uma ameaça real e todo o esforço da extrema-direita neste feriado, teve
como objetivo, mandar um aviso para a direita dita liberal-democrata, que ele não
vai sair fácil do jogo e qualquer tentativa de torná-lo inelegível, poderia colocar
a estabilidade e a ordem em risco.
Estes foram os verdadeiros motivos que
estão por traz das intenções do bolsonarismo. Talvez por isso, o resultado das
patéticas manifestações que ele convocou ontem represente na verdade o
desespero de um político acuado e com medo de ser deposto por certo setores da
direita que sabem que para surgir uma terceira via e um candidato palatável e
com chances reais de vitória, teria que furar a bolha da polarização e tira-lo
da eleição.
Assim quando ele diz: “Querem me tornar
inelegível em Brasília. Só Deus me tira de lá. Só vou sair preso, morto ou com
a vitória.” Ele deixa claro que não são os crimes de responsabilidade que
entrarão em pauta, mas a forma como a direita brasileira vai se reagrupar e
para isto precisa de um candidato que represente o oposto a utra-direita.
As elites aceitaram Bolsonaro enquanto ele fazia
todo o trabalho sujo de vender nossas empresas e entregar nossas riquezas. Aceitou
um presidente sob suspeita a saúde mental. Elas aceitaram o seu fascínio por armas,
a paranóia que o levava a encontrar inimigos em todos os cantos, um narcisismo
extremo. Mas não aceitará ser responsabilizada pelas loucuras e delírios que
levaram mais de seiscentas mil mortes.
As manifestações não correram como ele imaginava.
Bolsonaro como bom ator, neste feriado não soube desempenhar bem o seu papel, e
as suas manobras de diversão não conseguiram desviar as atenções do desastre
que tem sido a sua presidência: aumento do desemprego e pobreza; gestão desastrosa
da pandemia tendo como pano de fundo um negacionismo irresponsável; nepotismo;
tencionando as crises: social e política; crescente isolamento internacional.
Apesar do apoio de parte das Forças Armadas, o exército
brasileiro, mesmo tendo uma longa história de intervenção política, demonstrou
que não comunga dos delírios do presidente, e a maioria da direita e centro-direita,
que apesar de não quererem fazer uma auto-critica por ter votado nele em 2018,
reafirmou que é formada por gente “sensata”. Mesmo que “enganada” por uma vez,
não voltará a embarcar nos delírios de um homem perturbado e perigoso.
Cada vez mais isolado, resta a Bolsonaro o apoio de
setores evangélicos e da polícia militar. Não podemos esquecer que este apoio num
país onde as igrejas evangélicas têm uma capacidade de convencimento sobre seus
fieis e uma percentagem significativa da população, ainda representa um quarto
do eleitorado.
O
certo é que o grito do Ipiranga não deixou de dar razão ao desespero de
Bolsonaro. Ontem, os brasileiros mostraram que, apesar das compreensíveis
desilusões com a prática política, a sua escolha passa pelo reforço da
democracia e não pelo populismo. Bolsonaro ainda fanatiza, mas o caminho para o
impeachment é a salvação da direita.