quarta-feira, 8 de setembro de 2021

ARTIGO - O sete de setembro bolsonarista (Padre Carlos)

 

O impeachment é a salvação da direita.


 

Com a saída de Trump do cenário político e dos palcos da ultra-direita, Jair Bolsonaro, torna-se o maior símbolo do populismo mundial, este fato chama a atenção de todo o mundo sobre dois aspectos: o primeiro se refere aos delírios do presidente na busca da centralização total do poder, como na figura do Rei. Para Bolsonaro, assim como Luiz XIV, "O Estado sou eu." O segundo, está relacionado ao seu núcleo duro, mas também sobre o risco da democracia e sua capacidade de mobilização em chamar seu público para colocar em pauta uma agenda autoritária.

        


Se me perguntassem há um ano se esta avaliação estaria correta, eu diria que sim e que a verticalidade entre Trump e Bolsonaro, poderia desestabilizar a América Latina. Hoje, o cenário é outro, as forças autoritárias não representam mais uma ameaça real e todo o esforço da extrema-direita neste feriado, teve como objetivo, mandar um aviso para a direita dita liberal-democrata, que ele não vai sair fácil do jogo e qualquer tentativa de torná-lo inelegível, poderia colocar a estabilidade e a ordem em risco.

Estes foram os verdadeiros motivos que estão por traz das intenções do bolsonarismo. Talvez por isso, o resultado das patéticas manifestações que ele convocou ontem represente na verdade o desespero de um político acuado e com medo de ser deposto por certo setores da direita que sabem que para surgir uma terceira via e um candidato palatável e com chances reais de vitória, teria que furar a bolha da polarização e tira-lo da eleição.

         Assim quando ele diz: “Querem me tornar inelegível em Brasília. Só Deus me tira de lá. Só vou sair preso, morto ou com a vitória.” Ele deixa claro que não são os crimes de responsabilidade que entrarão em pauta, mas a forma como a direita brasileira vai se reagrupar e para isto precisa de um candidato que represente o oposto a utra-direita.

As elites aceitaram Bolsonaro enquanto ele fazia todo o trabalho sujo de vender nossas empresas e entregar nossas riquezas. Aceitou um presidente sob suspeita a saúde mental. Elas aceitaram o seu fascínio por armas, a paranóia que o levava a encontrar inimigos em todos os cantos, um narcisismo extremo. Mas não aceitará ser responsabilizada pelas loucuras e delírios que levaram mais de seiscentas mil mortes.

As manifestações não correram como ele imaginava. Bolsonaro como bom ator, neste feriado não soube desempenhar bem o seu papel, e as suas manobras de diversão não conseguiram desviar as atenções do desastre que tem sido a sua presidência: aumento do desemprego e pobreza; gestão desastrosa da pandemia tendo como pano de fundo um negacionismo irresponsável; nepotismo; tencionando as crises: social e política; crescente isolamento internacional.

Apesar do apoio de parte das Forças Armadas, o exército brasileiro, mesmo tendo uma longa história de intervenção política, demonstrou que não comunga dos delírios do presidente, e a maioria da direita e centro-direita, que apesar de não quererem fazer uma auto-critica por ter votado nele em 2018, reafirmou que é formada por gente “sensata”. Mesmo que “enganada” por uma vez, não voltará a embarcar nos delírios de um homem perturbado e perigoso.

Cada vez mais isolado, resta a Bolsonaro o apoio de setores evangélicos e da polícia militar. Não podemos esquecer que este apoio num país onde as igrejas evangélicas têm uma capacidade de convencimento sobre seus fieis e uma percentagem significativa da população, ainda representa um quarto do eleitorado.


O certo é que o grito do Ipiranga não deixou de dar razão ao desespero de Bolsonaro. Ontem, os brasileiros mostraram que, apesar das compreensíveis desilusões com a prática política, a sua escolha passa pelo reforço da democracia e não pelo populismo. Bolsonaro ainda fanatiza, mas o caminho para o impeachment é a salvação da direita.


 

 

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