quinta-feira, 9 de setembro de 2021

ARTIGO - O Brasil é um país de Macunaíma (Padre Carlos)

 

 

Os ídolos de barro

 


O que leva um cidadão comum a eleger uma personalidade como o seu ídolo? A pergunta me veio à cabeça depois de ver pessoas no mundo do esporte e das telenovelas, se comportando como se não tivesse responsabilidade com o imaginário do seu povo. A cada dia me convenço que somos verdadeiramente um país de Macunaímas (o herói sem caráter).


Antes de qualquer coisa, que fique claro: não considero atletas nem atores ou atrizes um ídolo, na acepção da palavra. Faço a ressalva porque ser um mestre da bola ou da dramaturgia nem sempre é o suficiente. Vide Ronaldinho Gaúcho, recebido em delírio na Gávea e depois corrido da vida pública e saindo pela porta dos fundos da história, sem jamais conquistar de verdade o coração dos fãs.

         O ídolo de verdade precisar ser bem mais que isso. E ter carisma, aquela qualidade intangível que faz com que nos encantemos por quem, às vezes, nem é tão excepcional assim. Desta forma, poderia dizer que meus ídolos são aqueles que seguiram o caminho que quero percorrer e que tiveram o futuro que espero ter.

Pelé, 52 anos atrás, quando marcou o milésimo gol, disse aos jornalistas que perguntaram: a quem você dedica esta conquista? “Dedico este gol às criancinhas pobres do Brasil. A gente tem de olhar para elas.” Depois de cinqüenta anos, ainda não entendo como alguém pode sentir carinho pelas crianças pobres e não entender que a maior pobreza é o abandono.

 Faço parte de uma geração que viu a Seleção Brasileira conquistar o tricampeonato da Copa do Mundo. Com Zagallo como treinador, ele teve ousadia de reunir no mesmo time uma legião de Craques da camisa 10 em seus clubes. Tratava-se de gênios da bola, não de ídolos , este é nosso erro. Tive a oportunidade de ver em atividade o maior jogador do Brasil e até mesmo do mundo.

 Quando a TV mostrou o rei, aquele ídolo para muitos, sendo obrigado a fazer o DNA e registrar a filha Sandra, após recorrer por 13 vezes em 6 anos, me veio suas palavras no milésimo gol. “as criancinhas pobres do Brasil.”

 Quando assistir o desespero desta filha pedindo ao “pai” para visitá-la, quando estava internada com câncer terminal e ele não atendeu, passei a entender que um ídolo se faz com gestos concretos, não com retórica: “as criancinhas pobres do Brasil”

 De todos os exemplos do herói sem caráter no país de Macunaímas, o que me revoltou mais, foi quando a imprensa revelou que o “pai” não apareceu nem no velório da filha e ainda justificou a ausência porque nunca teve sentimento por ela.


Depois de tudo o que presenciei nesta vida, posso dizer que meu verdadeiro ídolo é meu Pai. Ele, um homem simples e braçal. Mas de uma generosidade e um senso de paternidade muito grande. Certa vez, minha mãe adoeceu e minhas tias pediram para ficar com a gente enquanto ela se recuperava, meu pai olhou para minhas tias e falou: ninguém me separa de meus filhos. Foi este homem que me mostrou que precisamos começar protegendo as criancinhas pobres do Brasil, pela nossa casa.   Obrigada por ser minha inspiração para ser alguém melhor a cada dia.

 



 

 

 

 

 

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