quinta-feira, 14 de outubro de 2021

ARTIGO - Os trabalhadores terceirizados merecem respeito! (Padre Carlos)

 

Os trabalhadores terceirizados merecem respeito!

 

 



Como poderíamos analisar o governo progressista do PT na Bahia, será que poderíamos de fato definir estas gestões como governos genuinamente de esquerda?  Podemos afirmar, que a falta de referência do que seria uma política de esquerda para os governos petistas e grande parte da sua militância, levaram todo o conjunto das forças progressistas que sempre gravitaram em torno do partido, a refundar novos paradigma e buscar novos caminhos?

Assim, quando tomei conhecimento do sofrimento que estão passando os trabalhadores da Fundação José Silveira (FJS), empresa terceirizada do Hospital Regional de Vitória da Conquista, passei a entender que o tratamento da esquerda com os trabalhadores terceirizados é semelhante ou pior o da oposição quando estava no governo.

Quem não se lembra que em meio às discussões da reforma trabalhista, uma das sanções do governo referia-se à lei da terceirização dos postos de trabalho, que possibilitava às empresas do país terceirizar todas as suas atividades, inclusive aquelas relacionadas à atividade-fim.

Apesar da esquerda não ter sujado suas mãos com esta votação, não impediu de desfrutarem da nova ordem. Assim, o governo da Bahia passou a usar de todas as formas “legais” a lei da terceirização em muitos setores da administração, sendo os profissionais de saúde uma das categorias mais prejudicada. O governo passou a criar com a nova lei uma espécie de funcionário que é publico, mas não tem proteção do estado. Desta forma, tudo o que eles combateram ao longo dos anos estavam jogando fora. Surgem assim neste governo, os funcionários públicos de primeira e segunda classe.

Assim, podemos dizer que este governo chegou à Era do Administrador. Desta forma, gostaria de lembrar que administração é uma ciência neutra, como a engenharia e a medicina são frias e não leva em conta se o trabalhador esta sendo explorando ou não, seu objetivo é manter as contas em dia. Por isto, a missão do administrador moderno é ser um político e um político moderno, ser um administrador, ele tem de saber dosar e manter unido este grupo de interesses conflitantes dentro da lei.

 Gostaria de informar ao Governador e aos seus representantes na nossa cidade, que nem tudo que é legal é moral. Esta frase expressa muito bem os trabalhadores que, em decorrência desses atrasos, estão com dificuldades de pagar suas contas e arcar com o alto preço dos alimentos, além das denúncias das condições precárias sofridas pelos terceirizados. Nem tudo que me é licito é legal, no sentido de moralidade. Legalidade e moralidade nem sempre andam de mãos dadas, quais os políticos que estão defendo os trabalhadores nesta hora? Entre o governo e os trabalhadores famintos e sem a quem recorrer, fico com os excluídos e a minha consciência de cristão.

ARTIGO - Quando os Sinos da Catedral deixaram de funcionar (Padre Carlos)

 


Vitória da Conquista e seu sino





 

O assunto que vou partilhar com vocês hoje, me fez pensar uma frase de Guimarães Rosa, ela é de muita sabedoria e diz assim: Deus nos dá pessoas e coisas para que possamos aprender a alegria. Depois, Ele retira pessoas e coisas para ver se já somos capazes de ser alegre sozinho. É esta alegria que Ele quer da gente, que sejamos capazes e responsáveis pela nossa própria alegria.


Por isto, algumas pessoas têm que perder pra aprender a dar valor, era visível a alegria dos católicos em Vitória da Conquista. O contentamento estampado nos rostos dos conquistenses tinha como conseqüência a volta daquele som que vinha da Catedral e lembrava a nossa infância como dizia o ex-prefeito Herzem Gusmão. Os sinos da Catedral de Nossa Senhora das Vitória, ficaram mudos por algum tempo, em decorrência de defeito que nem seu Paulo, um antigo relojoeiro da Francisco Santos, que sempre fez a manutenção daquele relógio conseguia resolver.  

O conquistense não se conformava com o silêncio do sino, chegando ao ponto de reclamar com Hostenes, o secretário da paróquia sobre o transtorno que a falta do tilintar daquelas batidas faziam na sua rotina. E assim, criou-se um clima de insatisfação entre os católicos. Alguns diziam que o verdadeiro motivo seria a reclamação de perturbação pelo toque do sino por parte de um morador daquela redondeza, embora não exista nenhuma queixa por parte da vizinhança por cerca de 50 anos.

Até a década de sessenta do século passado, podíamos presenciar no dia a dia da vida das pequenas e médias cidades brasileira, as batidas dos sinos convidando a população para as mais diversas ações litúrgicas, como missas, novenas de Semana Santa e vias-sacras. Segundo o saudoso Irmão Pascoal do Mosteiro de São Bento, existia uma melodia para cada momento da vida de uma pessoa:
– As badaladas soavam na hora do nascimento, do batismo, do Casamento e da morte.

O toque fúnebre não só informava da morte, mas passava a mensagem aos familiares e aos amigos de que eles deveriam se preparar para as futuras homenagens. Segundo o monge, poderia saber só pelo toque do sino se tratava de homem ou mulher. Infelizmente, os toques foram se perdendo ao longo do tempo porque o conhecimento do sineiro era transmitido oralmente
 – explicava o religioso.
O certo, é que a música dos sinos era uma experiência de levitação espiritual. Quando os fieis ouviam, algo dentro deles, se assustava e subia às alturas. Poderias dizer que se tratava de uma sensação física de libertação e ao mesmo tempo de espiritualidade e obediência.


Nosso sino voltou a tocar. Foi lindo! Uma emoção que não consigo descrever.
É como se o coração do Cristianismo em Vitória da Conquista voltasse a bater: Alegria indescritível para os cristãos da nossa cidade.

 

 

 

terça-feira, 12 de outubro de 2021

ARTIGO - Por que os serviços públicos do Brasil não são de qualidade? (Padre Carlos)

 

Serviços públicos de qualidade garantem a cidadania à população

 

 


Nosso serviço público sempre foi o ‘elo mais fraco’ e o ‘primo pobre na prestação de serviço que o estado e o governo oferecem aos cidadãos’. Todos nós desejamos e merecemos um serviço de qualidade por parte das administrações públicas e esta baixa qualidade deixa algumas dúvidas em relação a estas atividades. Será que é a falta de competitividade e a certeza da estabilidade são os verdadeiros fatores? O dever de lealdade deveria exigir do servidor maior dedicação ao serviço e a busca de metas para se alcançar uma melhor qualidade nestes serviços. Quando isso acontecer a ‘rivalidade público-privado’ não fará mais sentido.


Sabemos que este tema é polêmico, controverso, com opiniões divididas, que não é fácil abordar, mas é importante analisar. Não é de hoje que se discute este problema e se a esquerda e o centro não tiver coragem de debater estas questões, estará condenando as futuras gerações a conviver com este problema, por não ter coragem de botar o dedo sobre a ferida e não ter a capacidade de chegar a nenhuma conclusão definitiva.

Na área da saúde, há os que defendem de forma obcecada o setor público, agarrando-se com todas as forças as conquista do SUS, ignorando as falhas e as limitações que, no momento presente, se tornam cada vez mais evidentes. Do outro lado, temos os que pensam e defendem o contrário, isto é, que a qualidade e a excelência estão no setor privado, este se aproveita das insuficiências do serviço público para crescer e se firmar como alternativa válida para gerir a saúde dos brasileiros. 

Com o passar dos tempos, foram surgindo os grandes grupos econômicos com os seus hospitais privados, que criaram formas e canais para drenarem recursos relacionados à saúde e são hoje, segundo alguns liberais, a única solução em termos neste campo. Para isto, eles precisam desacreditar todo o nosso Sistema Único de Saúde e contam com uma imprensa coorporativa para desmontar estas conquistas.


Assim, gostaria de afirmar que neste momento, para o Estado se tornar ‘competitivo’ terá que mudar radicalmente as regras do jogo e não se apresentar na ‘competição’ como uma equipa de segunda ou terceira divisão. Se não fizer as mudanças necessárias e se prenderem ao espírito corporativista, ficará sempre como uma equipe sem grandes quadros e que se arrasta no campo segurando as glorias do passado, sujeitando-se, inclusive, a uma pesada derrota nesta competição. 

 

 

 

 

 

 

Artigo - Senhora Aparecida a Virgem dos Pobres ou Nossa Senhora dos Pobres (Padre Carlos)

 

O encontro do Bispo do povo e o Padre dos pobres 


Levar afeto e conforto aos assistidos está no cerne da missão de todo cristão. Este sentimento era visível ontem quando Dom Zanoni e o Pe. Julio Lancelloti se encontrou. Em um momento tão difícil como este, pelo qual passamos palavras de esperança e a presença de um Pastor com um homem santo, é sempre bem-vinda. Vivemos em um tempo que inegavelmente encontra-se perpassado pelas crises. A própria pandemia tem comprometido nossas esperanças. O cenário político nem sempre nos dá a segurança da ordem social; a ferida da corrupção parece comprometer as mais variadas esferas sociais; os excluídos vivendo dramas prolongados, e aqui se acentua o dilema da fome e da exclusão.


O encontro do Bispo do povo e o Padre dos pobres fizeram lembrar as palavras do Papa Francisco quando disse que: “A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe que se aprende o verdadeiro discipulado”. Nossa Senhora sempre nos levará a Deus. Tais palavras foram ditas dentro da Basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.

Mãezinha do céu, eu não sei rezar; mas queria te dizer: O povo brasileiro espera por dias melhores e não desanimaremos no anúncio do Evangelho da alegria. Com Nossa Senhora Aparecida, Mãe e Rainha de todos os brasileiros, queremos construir sociedades justas e solidárias. Que a Mãe Aparecida, com sua constante oração, nos traga dias marcados pela saúde e pela paz.

Minha devoção e meu amor por Nossa Senhora foram fundamentais para aprender a vivenciar as virtudes e a mística para construir um mundo novo. Quando, vivemos momentos sombrios e aparentemente irreconciliáveis, buscamos força na nossa fé como cristãos. E assim, quando temos fé, a esperança se torna uma certeza, se torna utopia..

No Livro do Apocalipse, vemos a figura de uma Mulher perseguida por um Dragão, o diabo (Cf. Ap 12). Esta é a imagem de Maria e da Igreja. A desolação dessa perseguição não tem a finalidade de realçar a morte, o poder derrotado do demônio, mas quer apresentar a vitória da vida. Deus nunca abandona a quem se coloca debaixo da proteção de Sua Mãe Santíssima.


São diversos os dragões que temos enfrentado ultimamente, mas o Senhor nos Deu Sua Mãe. Contamos com a intercessão Dela, temos a abundancia do vinho novo que passa por suas mãos. Uma das mais belas lições que podemos aprender com Maria é a de depositar nossa confiança em Deus, ainda que os desafios comuns da vida tentem nos fazer desconfiar do seu amor cuidador.

Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós!

 

 

 

 

 

domingo, 10 de outubro de 2021

ARTIGO - O Fascismo Está Voltando? (Padre Carlos)

 

Há oito anos chamava a atenção para este perigo.



 

Quando decidi há oito anos escrever este breve artigo, estava sob forte impacto de dois sentimentos: a urgência e a indignação. Naquela oportunidade, me sentir como alguém que foi chamado pela história a tocar a rebate. Não fui o primeiro e espero não ser o ultimo a abordar este assunto. Enquanto fazia uma abordagem dos últimos acontecimentos na primeira metade da década passada na Europa, o ninho esta sendo preparado no continente americano.   


A nova situação em que se encontra o Brasil, nos últimos anos, exige que a consideremos sob um novo olhar, em vez de lançar continuamente, lenha na fogueira de nossas velhas querelas sobre esquerda e direita, devemos  tirar uma lição de tudo o que aconteceu em nosso país. Desta forma, temos que levar a sério as abordagens filosóficas e sociológicas que os profissionais destas áreas nos apresentam. "Todo leitor é, quando está lendo, um leitor de si mesmo", disse Marcel Proust (1871-1922), um dos maiores escritores franceses. É com este espírito que convido você a refazer a leitura deste meu texto.

 

Uma das coisas que tem chamado minha atenção nos últimos meses é o crescimento súbito da extrema-direita em toda a Europa. Como militante e educador com formação filosófica, não poderia deixar de abordar e partilhar este assunto. A onda que assola quase todo o antigo continente me surpreendeu e acredito que deixou os cientistas políticos numa situação um pouco incômoda, para explicar este crescimento da ultradireita, considerando que os espectros da 2ª Guerra Mundial e do totalitarismo ainda estão frescos na memória histórica de praticamente todas as sociedades européias. Podemos perceber que está crescendo na Europa um forte sentimento contra os imigrantes e, especialmente, uma enorme desconfiança em relação aos muçulmanos. Os partidos que difundem idéias xenófobas, anti-imigração e anti-islamitas estão se fortalecendo e exportando para fora dos seus terrenos tradicionais a França, Itália e Áustria e conquistando países tradicionalmente mais liberais como a Holanda ou a Escandinávia, chegando agora significativas representações parlamentares nesses países. O medo bem como o fator sombra tem sido a grande ferramenta política neste fenômeno de crescimento. Estes elementos, embora seja abordagem psicológica, é de extrema importância para o cientista político, entender tal fenômeno.

 

Depois de anos de crise econômica, aumento do desemprego e crescimento da pobreza, muitos europeus têm questionado sobre a integração cada vez mais estreita da EU e esperam com o resultado da eleição uma mudança de paradigma, isto é, um verdadeiro milagre.

 

A presença de imigrantes em proporções importantes, nos grades países industriais, suscita- quando o desemprego torna-se endêmicas – reações de intolerância e ódio bem próximas da fobia. Turcos na Alemanha, indonésios nos Países Baixos, indianos e paquistaneses na Grã-Bretanha, argelianos na França: o ódio pelo outro não tem escrúpulo. Desde já, as reações xenófobas na Alemanha atingiram um grau de violência que podem ser comparadas aos pogroms anti-semitas das piores épocas. Não sabemos como enfrentar o vento de ódio e irracionalismo que se levantou.

 

Segundo Jung, quando projetamos nosso próprio lado sombra sobre outra pessoa, tornamo-nos incapazes de vê-las como seres humanos comuns com características boas e más. Hitler compreendia tudo isso por instinto. E, por essa razão, incentivou a projeção de todo mal, de tudo que fosse mesquinho e não heróico, sobre os judeus, que ele representou como a incorporação de tudo o que era instável e não alemão.

 

Como podemos perceber, este é o discurso da extrema-direita. Jean Marine Le Pen alcançou 25% dos votos dos franceses com uma plataforma política tendo como solução para o fim da imigração a aplicação do vírus africano Ebola.

 


Se não fizermos nada e se, passado o sinal de alerta, voltarmos às nossas pequenas questões, então seremos todos vencidos. Sim, se não fizermos nada, a extrema-direita ampliar-se-á, o ódio sairá vencedor, o fascismo renascerá. A palavra de Martin Luther King ecoa sobre os meus ouvidos, ¨o que me preocupa não é o grito dos maus, mas sim o silêncio dos bons¨.

sábado, 9 de outubro de 2021

ARTIGO - O celibato obrigatório é uma violência (Padre Carlos)

 

O celibato obrigatório é uma violência

 


Quem dedicou boa parte da vida para a Igreja, sabe que ela avança muito lentamente e às vezes parece que dá um passo em frente, dois passos atrás. O Papa Francisco tem inimigos poderosos, por isto as mudanças só virão se todos os cristãos lutarem e rezarem para que este milagre aconteça. E, portanto, fica a dúvida quando as mudanças demoram de chegar e frustra a gente que esta esperando esta primavera ou aggiornamento há mais de cinqüenta anos.


Não podemos negar que fica uma sensação de que há sinais contraditórios da parte do Papa, quando vemos o avanço a passos largos da ordenação de homens casados enquanto o celibato permanece ainda no novo milênio como um assunto proibido de ser tratado.  Não esqueçamos que Jesus entregou o celibato a uma opção, à liberdade; portanto, a Igreja não pode impor isso como lei.  Porque é que não se faz uma pesquisa secreto com os padres sobre a sua vida sexual, para saber o que se passa o que é que eles querem? Seria muito interessante.

A forma como a sociedade pós-moderna vem mudando os costumes e a cultura de tudo que está a sua volta, fica claro que é uma simples questão de tempo o fim do celibato. Com que fundamento a Igreja insiste em pleno séc. XXI, em permanecer neste erro? Não faz muito tempo que citei o trabalho do sociólogo, o padre Javier Elzo SJ. O religioso afirma que 80% ou mais do clero, padres e bispos, na África tem uma vida sexual ativa.

 Será que o Papa tem medo de criar uma ruptura dentro da Instituição, um cisma?  

        Francisco na última missa do ano de 2019, a tradicional Missa do Galo, disse para os fiéis: “Nós mudamos, a Igreja muda, a história muda, quando começamos a querer mudar — não os outros, mas a nós mesmos, fazendo da nossa vida um dom”. Estas palavras do Papa me acalentam e me dão esperança de ver ainda neste pontificado as mudanças na Igreja que tanto precisamos. Mas para falar em mudanças, precisamos falar na formação deste presbitério e por isto, tenho consciência que ser padre é uma responsabilidade gigantesca, um padre lida com a vida das pessoas e, no limite, até com a intimidade das pessoas, na confissão. Por isto, os candidatos a padres devem passar por uma avaliação psicológica e devem ser formados fora dos seminários.  É preciso estar atento aos candidatos a padres, concretamente num tempo em que a oferta e a procura estão relacionadas à falta de perspectivas e a uma forma de projeção social. Precisamos rever a formação e entender como inseri-los no mundo. O seminário tem que ser um lugar onde se reúnem para alguma formação mais direcionada, comunitária, se quiser. O tipo de seminário que nós temos que é o seminário tridentino prestou o seu serviço, mas hoje acredito que não serve mais neste novo milênio por isto, deve ser repensado.

 


Temos que entender que Jesus tinha discípulos e discípulas. A Igreja não pode continuar misógina nem machista. Onde é que está que as mulheres não podem presidir à Eucaristia? O cardeal D. José Policarpo chegou a dizer isto, simplesmente foi chamado ao Vaticano. Não podemos nos calar diante destas violências. Precisamos lutar pelas mudanças que levem a ordenação de mulheres e de homens casados e o fim do celibato obrigatório. Sabemos que Igreja tem um passo excessivamente lento, ela chega lá, eu só não sei, se minha geração vai ter o privilégio de vê-la.

 

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

ARTIGO - Quando a Esquerda Deixou de Ser Esquerda (Padre Carlos)

 

Quando a Esquerda Deixou de Ser Esquerda






Certa vez o escritor José Saramago disse: “A direita nunca deixou de ser direita, mas a esquerda deixou de ser esquerda.” A explicação pode parecer simplista, mas revela muito que vivenciamos nestas duas décadas. Acredito que para os intelectuais deste campo, foi a única forma que contemplou todos os aspectos da questão. Para serem aceito no metiér, mais ou menos tolerados nos jogos do poder, os partidos de esquerda correram todos para o centro, onde, infalivelmente, se encontraram com uma direita política e econômica já instalada que não tinha necessidade de se camuflar de centro. Entrou-se, então, na farsa carnavalesca e não sabíamos mais se estávamos em Brasília ou no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, devido a denominações caricaturais com as de centro-esquerda ou centro-direita. Assim está o Brasil


O problema que muitos analistas enfrentam hoje, é que está muito difícil definir o que a esquerda é realmente no tabuleiro ideológico da política brasileira. E o que a esquerda propõe que seja claramente diferente da direita. O PT se corrompeu no poder. É um fato, mas este assunto não é o objetivo deste artigo. Pode se discutir bastante se o PT é um partido de esquerda ou Social-Democrata. Eu, pessoalmente, acho que foi de esquerda só até a Carta ao Povo Brasileiro, durante a campanha de 2002. Outros encontram marcos anteriores de rompimento com um ideário de esquerda.

 

Garantir o emprego e os direitos trabalhistas não é bandeira exclusiva da esquerda, os partidos de centro da Europa já fazem isto desde o pós guerra. Mesmo assim, poderia ser um diferencial, mas o desemprego voltou a crescer e os direitos do trabalhador começaram a ser cortados já no governo de Dilma Rousseff, justamente na única experiência que a população teve de um governo de esquerda. A reforma agrária poderia ser outra diferença, mas ela não avançou de forma significativa no governo de esquerda. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que hoje está sendo criminalizado pelo governo de extrema direita, se domesticou quando o PT estava no poder. O mesmo aconteceu com grande parte dos movimentos sociais, que viraram governo em vez de continuar sendo movimentos sociais, o que teria sido importante para garantir a vocação de esquerda no poder. Esta, aliás, é uma história que precisa ser mais bem contada.


Por isto, não precisa ser esquerda para entender que não é a amabilidade que os caciques políticos buscam com os acordos com o Centrão, mas o conflito, que desenha a vida política que fará avançar a nossa sociedade. É a promoção do bem comum, que deve nortear o Centro e as forças progressistas. Os direitos do povo sempre serão confrontados com interesses de indivíduos, de grupos, de corporações, de classes, de ideologias. Ninguém pode esperar que a política - ciência e arte da promoção da justiça e do convívio social - sejam um mar de rosas.

 

 

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...