A utradireita e o
Bolsonarismo vieram ocupar um vazio que o DEM e do PSDB nunca souberam (ou não
quiseram) preencher
O vexame que o PSDB tem
passado já era previsível, a prévia somente revelou a decadência e a guerra
interna daquele que foi o maior partido de centro direito brasileiro.
O
caso mais evidente é o PSDB - que nasceu no processo de redemocratização e buscando
uma identidade de centro parecida com o trabalhismo Inglês ou a social
democracia alemã. Podemos dizer que apesar da elite intelectual e parcela da burguesia
seguirem o tucano como se professasse uma fé, a polarização com o PT nestes
tinta anos, levou o partido a uma guinada a direita e a tomarem posições que
poderiam fazer alguns fundadores revirarem de seus túmulos.
A
sociedade evoluiu, a globalização transformou nossos sonhos e nossas realidades,
veio à digitalização, mas o PSDB não se importava e como seus candidatos sempre
chegavam ao segundo turno, a direita vinha a reboque. Não fez uma autocrítica
nem impediu a guinada de seus quadros em direção a utradireita e agora vai
sendo ultrapassado por todos.
Podemos
dizer que as forças democráticas se parecem como um tecido orgânico e por isto,
fizeram emergir novas ‘causas’, como os direitos que foram arrancados da
constituição, como a defesa da democracia e do estado de direito etc., e o PSDB
do saudoso Mario Covas, não liderou - porque estava amarrado a uma ideologia do
poder e da classe dominante.
Tal
como o PSDB, também o DEM está em processo de envelhecimento acelerado e em
vias de extinção. O caso é muito diferente; mas parece impossível que um
partido que até há dias tinha quadros excelentes esteja desaparecendo, enquanto
partidos sem qualquer tradição, sem quadros, quase sem dirigentes crescem de
mês para mês.
Como
é possível que o bolsonarismo e a Iniciativa Utra- Liberal tenham ultrapassado
o PSDB com tanta facilidade? O que Bolsonaro e seus seguidores têm que o PSDB
não tem? De inicio podemos dizer que, não tiveram vergonha de se dizer ‘de
direita’ - coisa que o PSDB nunca fez. Acusado de ‘fascista’ no período da
redemocratização, definiu-se como um ‘grupo de direita sem vergonha de ser e
defender seus ideais’.
Enquanto
o PSDB e o DEM por razões táticas de sobrevivência, sempre negaram publicamente
que eram de direita, depois deixou de fazer sentido quando chegou ao governo. Era
difícil perceber por que razão o partido mais à direita do Parlamento se
recusava a dizer-se de direita.
Com
a morte de Mario Covas, o partido perde não apenas seu fundador, mas parte da
sua essência e nos momento mais difícil, era com ele que muitos eleitores se
identificavam - e a sua deriva para a utradireita cortou o elo emocional entre
o eleitorado e o partido.
Sabemos
que no Brasil há eleitores de direita, como em todo o mundo, o fato de o PSDB
nunca ter querido assumir-se como da direita - e a posterior inclinação para a
utradireita do seu líder Aécio Neves - deixou uma parte do eleitorado órfã. Durante
muito tempo, os eleitores de direita não tinham onde votar. Foi esse vazio que
o Bolsonarismo e a extrema-direita vieram preencher, embora de formas
diferentes.
Esta nova direita
passou a dirige-se à classe média, a eleitores mais sofisticados, mais urbanos,
defendendo uma liberdade quase sem limitações. Seus projetos são individualistas
e não coletivista. É contra todo o tipo de entraves que compliquem o
desenvolvimento do indivíduo e a afirmação do seu ‘eu’. Neste sentido, é a
favor de um Estado mínimo, preconiza baixar impostos e apóia abertamente à
iniciativa privada. Aceita as desigualdades como conseqüência natural das
próprias diferenças entre os seres humanos - opondo-se às ideologias que
defendem a igualdade.
O
Bolsonarismo é um fenômeno e uma direita diferente do PSDB e do DEM eles não
falam para a classe média, mas para o ‘povo’. É liberal na economia,
mas não na política: defende a autoridade do Estado e critica a sua passividade
perante a indisciplina e o crime.
Neste
aspeto, foi o primeiro partido ou vertente de pensamentos a ter a coragem (ou o
desplante, conforme o ponto de vista) de afrontar valores democráticos que se
consideravam intocáveis.
Tendo falhado o seu
momento histórico nos anos 80 - quando não assumiu as causas tradicionais de centro
e guinou à direita -, o PSDB tornou-se um partido inútil.
Ao contrário do que
se diz, não foi João Doria que o matou. Quando ele o herdou, já o PSDB estava
morto há muito tempo. O PSDB nasceu e morreu com Fernando Henrique Cardoso;
este foi o seu pai e o seu coveiro.