quarta-feira, 24 de novembro de 2021

ARTIGO - As prévias revelam a decadência do PSDB (Padre Carlos)

 

A utradireita e o Bolsonarismo vieram ocupar um vazio que o DEM e do PSDB nunca souberam (ou não quiseram) preencher

 

 


O vexame que o PSDB tem passado já era previsível, a prévia somente revelou a decadência e a guerra interna daquele que foi o maior partido de centro direito brasileiro.

 


Depois de várias décadas de militância política, descobrimos que assim, como há pessoas que param no tempo, também há partidos que, nascidos em determinada circunstância, não conseguiram evoluir ou desvirtuaram os valores dos seus fundadores.

O caso mais evidente é o PSDB - que nasceu no processo de redemocratização e buscando uma identidade de centro parecida com o trabalhismo Inglês ou a social democracia alemã. Podemos dizer que apesar da elite intelectual e parcela da burguesia seguirem o tucano como se professasse uma fé, a polarização com o PT nestes tinta anos, levou o partido a uma guinada a direita e a tomarem posições que poderiam fazer alguns fundadores revirarem de seus túmulos.

A sociedade evoluiu, a globalização transformou nossos sonhos e nossas realidades, veio à digitalização, mas o PSDB não se importava e como seus candidatos sempre chegavam ao segundo turno, a direita vinha a reboque. Não fez uma autocrítica nem impediu a guinada de seus quadros em direção a utradireita e agora vai sendo ultrapassado por todos.

Podemos dizer que as forças democráticas se parecem como um tecido orgânico e por isto, fizeram emergir novas ‘causas’, como os direitos que foram arrancados da constituição, como a defesa da democracia e do estado de direito etc., e o PSDB do saudoso Mario Covas, não liderou - porque estava amarrado a uma ideologia do poder e da classe dominante.

Tal como o PSDB, também o DEM está em processo de envelhecimento acelerado e em vias de extinção.  O caso é muito diferente; mas parece impossível que um partido que até há dias tinha quadros excelentes esteja desaparecendo, enquanto partidos sem qualquer tradição, sem quadros, quase sem dirigentes crescem de mês para mês.

Como é possível que o bolsonarismo e a Iniciativa Utra- Liberal tenham ultrapassado o PSDB com tanta facilidade? O que Bolsonaro e seus seguidores têm que o PSDB não tem? De inicio podemos dizer que, não tiveram vergonha de se dizer ‘de direita’ - coisa que o PSDB nunca fez. Acusado de ‘fascista’ no período da redemocratização, definiu-se como um ‘grupo de direita sem vergonha de ser e defender seus ideais’.

Enquanto o PSDB e o DEM por razões táticas de sobrevivência, sempre negaram publicamente que eram de direita, depois deixou de fazer sentido quando chegou ao governo. Era difícil perceber por que razão o partido mais à direita do Parlamento se recusava a dizer-se de direita.

Com a morte de Mario Covas, o partido perde não apenas seu fundador, mas parte da sua essência e nos momento mais difícil, era com ele que muitos eleitores se identificavam - e a sua deriva para a utradireita cortou o elo emocional entre o eleitorado e o partido. 

Sabemos que no Brasil há eleitores de direita, como em todo o mundo, o fato de o PSDB nunca ter querido assumir-se como da direita - e a posterior inclinação para a utradireita do seu líder Aécio Neves - deixou uma parte do eleitorado órfã. Durante muito tempo, os eleitores de direita não tinham onde votar. Foi esse vazio que o Bolsonarismo e a extrema-direita vieram preencher, embora de formas diferentes.

Esta nova direita passou a dirige-se à classe média, a eleitores mais sofisticados, mais urbanos, defendendo uma liberdade quase sem limitações. Seus projetos são individualistas e não coletivista. É contra todo o tipo de entraves que compliquem o desenvolvimento do indivíduo e a afirmação do seu ‘eu’. Neste sentido, é a favor de um Estado mínimo, preconiza baixar impostos e apóia abertamente à iniciativa privada.  Aceita as desigualdades como conseqüência natural das próprias diferenças entre os seres humanos - opondo-se às ideologias que defendem a igualdade.

O Bolsonarismo é um fenômeno e uma direita diferente do PSDB e do DEM eles não falam para a classe média, mas para o ‘povo’.   É liberal na economia, mas não na política: defende a autoridade do Estado e critica a sua passividade perante a indisciplina e o crime.

Neste aspeto, foi o primeiro partido ou vertente de pensamentos a ter a coragem (ou o desplante, conforme o ponto de vista) de afrontar valores democráticos que se consideravam intocáveis. 

        


Neste puzzle, que espaço existe para o PSDB? O que pode dizer o PSDB para a classe media e a burguesia que a utradireita ou o bolsonarismo não digam.

Tendo falhado o seu momento histórico nos anos 80 - quando não assumiu as causas tradicionais de centro e guinou à direita -, o PSDB tornou-se um partido inútil.

        Ao contrário do que se diz, não foi João Doria que o matou. Quando ele o herdou, já o PSDB estava morto há muito tempo. O PSDB nasceu e morreu com Fernando Henrique Cardoso; este foi o seu pai e o seu coveiro. 
 

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