quinta-feira, 25 de novembro de 2021

ARTIGO - A pandemia deixou claro que a Saúde é um dos pilares da Democracia (Padre Carlos)

 

A pandemia deixou claro que a Saúde é um dos pilares da Democracia

 




Com a crise pandêmica que ceifou mais de seiscentas mil almas em nosso país, tem ficado cada vez mais claro que a Saúde é um pilar de uma sociedade democrática. Por isso, não pode deixar de ser prioridade para qualquer governo.  Contudo, do discurso de bravata de certos políticos à ação vai uma distância muito grande. E, se fica bem no programa eleitoral ou de governo, também não ficava mal na vida real. Mas no mundo da política é muito diferente.  


Não podemos negar que de hoje em diante e, durante alguns anos, ouviremos sempre falar da pandemia. A partir de março de 2020, entramos na era pandêmica. Um terremoto social provocado por uma epidemia que, a pesar de ter atingido o mundo inteiro, foi combatida de formas diferentes por certos governos

Comecemos pela Saúde. Tão falada nos últimos meses por causa da pandemia. Os profissionais de saúde que foram excessivamente; elogiados e designados heróis pelo desempenho inexcedível no combate ao vírus, são os mesmos que, hoje, não conseguem sequer receberem o salário nas cooperativas ou nas empresas terceirizadas. Os nossos heróis, são explorados e não têm a quem recorrer, é estes homens e mulheres que foram para linha de frente, que gostariam de ver algumas das suas reivindicações atendidas. Um dos gargalos nesta piramide, são as relações de trabalho dos Tec. de Enfermagem e as Home Care em relação as baixas remunerações pelos pantões. Estes profissionais terminam assumindo uma carga de trabalho excessiva para ganhar mais que um salário. Porque será que o Concelho Regional de Enfermagem não levantou esta bandeira?

O retrato completa-se com uma completa falta de pessoal, o aumento da dependência de horas extra e mais contratação de trabalhadores contratados por cooperativas. O cenário que se vive nos hospitais brasileiros é descrito como caótico, de escassez e à beira da ruptura. Transversal a todo o país.

Precisamos ser mais justo para aprofundar uma análise mais precisa e fazer as perguntas que importam. São conhecidos todos os números associados à covid-19: os mortos, os novos casos, os recuperados, os internamentos e a vacinação. Mas importa saber o que não é dito todos os dias: Como decorreu a atividade de saúde relativa às restantes patologias? Como evoluiu a mortalidade não Covid durante a pandemia? A vida não é só Covid e, no Brasil, muitas pessoas foram vítimas indiretas. Foi evidente a quebra das consultas presenciais de cuidados preventivos, durante a pandemia. Mais de um terço da população declarou ter desistido de um exame médico ou tratamento necessário durante os primeiros doze meses da pandemia.


O estado da Saúde de um país é um sinal da sua vitalidade e da sua vocação para o progresso. Nenhum país pode conviver com um regime democrático se não souber cuidar dos seus. Mas se esta é uma base estrutural da Democracia, é hoje o nosso barômetro para um quadro verdadeiramente preocupante. A casa que é a democracia já está comprometida. E, se continuamos a ignorar as rachaduras, seremos responsáveis quando ela for abaixo!

 

 

 

 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

ARTIGO - As prévias revelam a decadência do PSDB (Padre Carlos)

 

A utradireita e o Bolsonarismo vieram ocupar um vazio que o DEM e do PSDB nunca souberam (ou não quiseram) preencher

 

 


O vexame que o PSDB tem passado já era previsível, a prévia somente revelou a decadência e a guerra interna daquele que foi o maior partido de centro direito brasileiro.

 


Depois de várias décadas de militância política, descobrimos que assim, como há pessoas que param no tempo, também há partidos que, nascidos em determinada circunstância, não conseguiram evoluir ou desvirtuaram os valores dos seus fundadores.

O caso mais evidente é o PSDB - que nasceu no processo de redemocratização e buscando uma identidade de centro parecida com o trabalhismo Inglês ou a social democracia alemã. Podemos dizer que apesar da elite intelectual e parcela da burguesia seguirem o tucano como se professasse uma fé, a polarização com o PT nestes tinta anos, levou o partido a uma guinada a direita e a tomarem posições que poderiam fazer alguns fundadores revirarem de seus túmulos.

A sociedade evoluiu, a globalização transformou nossos sonhos e nossas realidades, veio à digitalização, mas o PSDB não se importava e como seus candidatos sempre chegavam ao segundo turno, a direita vinha a reboque. Não fez uma autocrítica nem impediu a guinada de seus quadros em direção a utradireita e agora vai sendo ultrapassado por todos.

Podemos dizer que as forças democráticas se parecem como um tecido orgânico e por isto, fizeram emergir novas ‘causas’, como os direitos que foram arrancados da constituição, como a defesa da democracia e do estado de direito etc., e o PSDB do saudoso Mario Covas, não liderou - porque estava amarrado a uma ideologia do poder e da classe dominante.

Tal como o PSDB, também o DEM está em processo de envelhecimento acelerado e em vias de extinção.  O caso é muito diferente; mas parece impossível que um partido que até há dias tinha quadros excelentes esteja desaparecendo, enquanto partidos sem qualquer tradição, sem quadros, quase sem dirigentes crescem de mês para mês.

Como é possível que o bolsonarismo e a Iniciativa Utra- Liberal tenham ultrapassado o PSDB com tanta facilidade? O que Bolsonaro e seus seguidores têm que o PSDB não tem? De inicio podemos dizer que, não tiveram vergonha de se dizer ‘de direita’ - coisa que o PSDB nunca fez. Acusado de ‘fascista’ no período da redemocratização, definiu-se como um ‘grupo de direita sem vergonha de ser e defender seus ideais’.

Enquanto o PSDB e o DEM por razões táticas de sobrevivência, sempre negaram publicamente que eram de direita, depois deixou de fazer sentido quando chegou ao governo. Era difícil perceber por que razão o partido mais à direita do Parlamento se recusava a dizer-se de direita.

Com a morte de Mario Covas, o partido perde não apenas seu fundador, mas parte da sua essência e nos momento mais difícil, era com ele que muitos eleitores se identificavam - e a sua deriva para a utradireita cortou o elo emocional entre o eleitorado e o partido. 

Sabemos que no Brasil há eleitores de direita, como em todo o mundo, o fato de o PSDB nunca ter querido assumir-se como da direita - e a posterior inclinação para a utradireita do seu líder Aécio Neves - deixou uma parte do eleitorado órfã. Durante muito tempo, os eleitores de direita não tinham onde votar. Foi esse vazio que o Bolsonarismo e a extrema-direita vieram preencher, embora de formas diferentes.

Esta nova direita passou a dirige-se à classe média, a eleitores mais sofisticados, mais urbanos, defendendo uma liberdade quase sem limitações. Seus projetos são individualistas e não coletivista. É contra todo o tipo de entraves que compliquem o desenvolvimento do indivíduo e a afirmação do seu ‘eu’. Neste sentido, é a favor de um Estado mínimo, preconiza baixar impostos e apóia abertamente à iniciativa privada.  Aceita as desigualdades como conseqüência natural das próprias diferenças entre os seres humanos - opondo-se às ideologias que defendem a igualdade.

O Bolsonarismo é um fenômeno e uma direita diferente do PSDB e do DEM eles não falam para a classe média, mas para o ‘povo’.   É liberal na economia, mas não na política: defende a autoridade do Estado e critica a sua passividade perante a indisciplina e o crime.

Neste aspeto, foi o primeiro partido ou vertente de pensamentos a ter a coragem (ou o desplante, conforme o ponto de vista) de afrontar valores democráticos que se consideravam intocáveis. 

        


Neste puzzle, que espaço existe para o PSDB? O que pode dizer o PSDB para a classe media e a burguesia que a utradireita ou o bolsonarismo não digam.

Tendo falhado o seu momento histórico nos anos 80 - quando não assumiu as causas tradicionais de centro e guinou à direita -, o PSDB tornou-se um partido inútil.

        Ao contrário do que se diz, não foi João Doria que o matou. Quando ele o herdou, já o PSDB estava morto há muito tempo. O PSDB nasceu e morreu com Fernando Henrique Cardoso; este foi o seu pai e o seu coveiro. 
 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

ARTIGO - Qual o papel dos leigos na Igreja? (Padre Carlos)

 

Qual o papel dos leigos na Igreja?



 

O Concílio Vaticano II recuperou o papel dos leigos na Igreja. Como dizia Frater Henrique: “deixaram de ser a massa amorfa dos cristãos que se submetiam às ordens da hierarquia e passaram a ser considerados co-responsáveis na tarefa da evangelização”.


Pela sua presença em certos contextos - como o social, o educativo, o operário, a política ou a cultura - reconheceu-se que o seu apostolado poderá ser muito mais eficaz do que o dos padres ou o dos religiosos.

Desde o Concílio têm surgido novos movimentos, associações de fiéis e novas comunidades que procuram dar resposta aos desafios suscitados pelos meios que os leigos freqüentam. Geralmente seguem o carisma de um fundador ou fundadora, promovendo novas formas de estar e de atuar na Igreja e no Mundo.

No mês de setembro, em Roma, o Papa Francisco reuniu-se com responsáveis destes novos movimentos. Eles são para o Papa "um sinal claro da vitalidade da Igreja", bem como "uma força missionária e uma presença profética" que garante "esperança para o futuro". O Papa agradeceu-lhes a contribuição que têm dado pela sua presença no Mundo, sobretudo nestes últimos anos marcados pela pandemia, nos quais muitos movimentos estiveram na linha da frente do apoio às vítimas e aos mais pobres.

O Papa aproveitou a ocasião para não deixar dúvidas sobre um decreto do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, publicado a 11 de junho deste ano. O decreto procura regular a forma como essas associações são governadas. Ele busca impedir que, com exceção dos fundadores, os dirigentes se eternizem nos cargos, podendo apenas cumprir dois mandatos consecutivos de cinco anos.

O Papa não esqueceu algumas novas comunidades eclesiais que se afastaram do seu carisma de fundação, que se afastaram do seu carisma e que, por isso, tiveram de ser encerradas. O Papa identificou o "abuso do poder" como a gênese dessas distorções.


Da mesma forma que a sociedade civil foi se afastando das suas propostas e projetos, afastando-se do povo e se desvirtuando dos seus mandatos, também a Igreja está abrindo agora para essa realidade. São cada vez menos os cargos vitalícios. Para salvaguardar o bem da Igreja, até o Papa pode renunciar, como fez Bento XVI.

 

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

ARTIGO - Analise de conjuntura tem que ser um olhar crítico (Padre Carlos)

 

Analise de conjuntura tem que ser um olhar crítico



Cada vez mais isolado, sem apoio da sociedade, sem idéias para o Brasil e sem uma alternativa clara para oferecer à população nas próximas eleições, o bolsonarismo tenta repetir uma polarização com o anti-petismo e aposta em uma frente com os liberais e setores do centro. Diante desta falta de proposta, só resta o discurso populista, pois não se constrange ao manifestar sua falta de apreço pela democracia e pela liberdade.


A lamentável campanha levada a cabo por simpatizantes e mesmo alguns próceres da utradireita, que vieram o público para defender um golpe militar e o fechamento do STF, representa a falência política e moral e do completo descompasso entre certos setores da direita e o mundo real. Se, por um lado, já tivemos bolsonaristas e entusiastas da extrema-direita criando uma rede de fake news, e disseminarem toda forma de ódio e divisão na sociedade, hoje fica mais difícil, diante da tomada de posição daquela Corte. Estamos vendo um recuo de lideranças deste setor diante da incapacidade de seu líder formalizar uma pauta e apesar da onda conservadora não contar com parcela da burguesia, não podemos negar a importância que teve o choque que os Ministros da Suprema Corte deram em alguns membros fundamentalistas, servindo assim, para que seu chefe fizesse um recuo técnico. Fico imaginando se, em meio à tamanha cegueira ideológica, os que hoje defendem a ditadura a tortura e o AI5, também seriam capazes de queimar livros que, porventura, criticassem os seus Mitos ou contraísse suas cartilhas.

Diante da inércia e da falta de representatividade, não se pode ignorar a intervenção estapafúrdia do presidente nos compromissos internacional, quando se notabiliza cada vez mais pela enorme dificuldade de articular um pensamento minimamente coerente, lógico e concatenado.

Fica claro que, assim como não entende de economia, política, gestão pública, liderança e inúmeros outros assuntos para os quais deveria dar mais atenção.  Bolsonaro não consegue interpretar ou identificar o que são liberdades, democracia e república. Res publica  "coisa do povo", "coisa pública". Ignora a origem da palavra república. A família esqueceu por completo que o termo normalmente se refere a uma coisa que não é considerada propriedade privada, mas a qual é, em vez disso, mantida em conjunto por muitas pessoas.

Tal comportamento intolerante e antidemocrático de apropriar segundo o Ministério Público de parte do salário dos funcionários do gabinete, como tentar nomear seu filho embaixador em Washington ou intervir na estrutura do Estado, não são atitudes nada republicana.

Não podemos negar, que a direita que busca se distanciar do bolsonarismo tem certa culpa com tudo o que está acontecendo, Essa direita de que falamos com certa vergonha e um profundo pesar se assemelha cada vez mais à extrema-direita da qual tanto pretende se diferenciar. São grupos que tentam censurar e tirar proveito da situação. É uma visão arcaica, anacrônica, reacionária e até mesmo fascista.

Quando afirmamos a necessidade de construirmos uma alternativa concreta que unifique o campo das forças democráticas para as eleições de outubro, é também em função disso. A esquerda não tem maioria para governar e o centro e parcela da burguesia precisam entender que é hora de uma Geringonça brasileira e para que o país saia desta crise é preciso um grande pacto e sem os setores que representam todos os seguimentos ficaremos refém do Centrão e dos seus caciques. 


O Brasil não pode, de forma alguma, ficar refém de uma polarização entre, à direita e à esquerda, precisamos construir um projeto com o tripé da sociedade (Estado - mercado - sociedade civil) com o triângulo de Foucault. À esquerda e seus aliados precisam entender que o poder está por toda parte e provoca ações ora no campo do direito, ora no da verdade. Deve ser entendido como uma relação flutuante, não estando em uma instituição (Partido) nem em ninguém (Liderança), enquanto não aprendermos isto, estaremos à mercê da democracia e da própria liberdade. As diversas facetas do obscurantismo, que se retroalimentam e se confundem entre si, devem ser duramente combatidas no âmbito democrático. Ou deslocamos uma base ideológica e construirmos um projeto de unidade popular ou seremos inconseqüentes.

 

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

ARTIGO - Nossa República e seu défice democrático (Padre Carlos)

Nossa República e seu défice democrático

 


 

O legado das lutas emancipatórias na América Latina é um ótimo lugar para iniciar um relato das origens da idéia de resistência e as atuais lutas que se travam neste continente. Mas, embora a natureza dessa relação esteja longe de ser tão claro quanto isso, a herança da luta contra os colonizadores é clara no Novo Continente, atingindo o seu apogeu na idéia de Democracia.


Apesar de todas as suas imperfeições, a democracia ateniense pautou e acompanhou grande parte do desenvolvimento da civilização ocidental até aos dias de hoje, tornando a Europa no berço da democracia moderna e a América Latina e a África, como colônias sem direito ao conceito de liberdade. A conquista da independência até o caminho que levou o povo ameríndio e os descendentes de escravos terem direito ao voto não foi linear e não faltaram revoltas por estas idéias de igualdade.

Até o início do século passado, as minorias letradas pautavam as vidas da restante população predominantemente analfabeta. As elites era o completo oposto da idéia de equilíbrio e, apesar das revoltas como aconteceu no Brasil como a do Forte de Copacabana e da Coluna Prestes, só em 1930, o povo despertou. Por breves instantes, houve esperança. No entanto, os filhos da revolução voltaram a cair e, embora a História nunca se repita, pudemos constatar do Norte ao Sul um aggiornamento da onda azul nos EUA do partido democrata ao outro hemisfério com uma “onda vermelha” na América Latina, esta sim com reais possibilidades de se concretizar.

Além dos governos de caráter revolucionário, como  a da Venezuela que segue com um governo central sob Maduro, assim como Cuba e Nicarágua, mesmo com as perdas dos sonhos da sua revolução, teve também a Argentina, que desbancou a política neoliberal, elegendo um governo com votos populares.

A Bolívia voltou a pertencer a seu povo e os “cocaleiros”, através de Lucho Arce. O Equador, após a fim do governo de Rafael Correia, perseguido pelas elites, à esquerda apesar de não ter ganhado as eleições, deixou claro que tem força para voltar ao poder.

O México também está com a esquerda, desde as últimas eleições. O Peru e a Colômbia, também estão com uma esquerda com mais chance de sucesso, nas próximas eleições e a articulação entre os países e seus povos, favorecem este cenário.

A relação entre promessas e realidade, não podem ocupar um discurso populista para seguir ocupando o espaço político, seja à esquerda ou à direita e com a perda relativa do protagonismo internacional e uma  política externa de menor intensidade nos governos Temer e Bolsonaro ficam evidentes cada vez mais a importância que o Brasil deve ocupar no cenário internacional.

Mas o caminho do projeto de integração latino americana não será fácil, desde as crises políticas as quartelas e os golpes das elites econômicas.  Apesar dos avanços democráticos, não podemos negar que a democracia latina americana atravessa uma fase verdadeiramente difícil, fruto de respostas fracas e hipócritas a problemas internos e de política externa por parte das suas instituições. A confiança dos latinos nos seus sistemas de governo tem-se deteriorado e alguns povos confiam cada vez menos nos seus governantes, tendo isso ficado bem patente nas últimas eleições. A descrença aumentou um pouco por todo o Novo Continente e a comunicação política transformou-se em algo enredado e confuso.

Num meio em que a corrupção se tem tornado progressivamente numa realidade, a abnegação dos jovens face à política é cada vez mais preocupante. Hoje em dia, o voto é o bem mais precioso que este povo tem para se libertar e, depois de tanto tempo convivendo sob as conseqüências nefastas de uma pandemia, os cidadãos voltam-se para os seus líderes e instituições à procura de soluções. Depois de quase dois anos extremamente penoso para muitos, podemos constatar a falta que faz uma liderança capaz de conduzir com habilidade política, as lutas e projetos para construção da soberania não só do Brasil, mas de toda a América Latina.

 


Vivemos tempos imagináveis. Como Churchill afirmou, a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras. Numa época em que a democracia atravessa um claro défice democrático, é necessário olhar criticamente para o processo democrático e confiar no mesmo, mas, para isso, é imperativo que a América Latina esteja bem articulada.  Esperemos que todos contribuam devidamente para as novas e complicadas etapas que se interpõem no caminho do projeto latino americano.


sexta-feira, 12 de novembro de 2021

ARTIGO - “Crônica de uma morte anunciada” (Padre Carlos)

 

“Crônica de uma morte anunciada”

 



Já faz algum tempo que quero abordar este assunto, mas o suicídio do padre José Alves acendeu a luz indicando que não posso mais adiar, afinal já são nove Padres este ano só no Brasil.

Cada irmão que tirou sua vida esse ano fazia parte de um presbitério, uma história de vida na sua diocese, uma vocação e um profundo amor a sua Igreja. Aliás, poucas horas antes de morrer, ele atualizou seu status na rede social dizendo: “Eu amo minha Igreja”.  O que lhes faltou? O que não foi feito por estes irmãos? Cumplicidade ou omissão por parte de seus pares? Onde erramos? Até onde vai a responsabilidade pessoal e da Instituição?

 

Já conhecíamos o método de lançar suspeitas, pôr partes de processos, eclesiástico, sem ouvir os padres ou freiras e em alguns casos, nem serem informados quem são as pessoas que os acusam. Passam a ser visto de uma hora para outra de santo a pecador e o que é pior, acusado julgado e condenado pelos seus pares sem direito de defesa. Este comportamento não é cristão nem humano, temos que ser imparcial para não cometer injustiça e assim não contribuir como estão fazendo algumas pessoas: julgamentos na praça pública.  Agem como se as acusações fossem verdade e prova, fazendo com que as pessoas já estivessem condenada, ferida no seu bom nome, na sua honra, e sem que nada possa fazer por ela, afastando assim os amigos e a solidariedade, bem como seus direitos.

Constataram-se um período de omissão onde não tomaram uma posição para defender os inocentes e indefesos, estamos agora vivendo o oposto, atingimos um novo patamar no caminho que estamos percorrendo rumo à justiça popular. O braço secular sendo a perversidade suprema de agentes da justiça canônica.

Não será necessário falar o que esta acontecendo nas Dioceses e dos ataques aos direitos fundamentais ou sobre a condenação na opinião pública apenas baseada numa convicção de um denuncia sem provas. Até os mais “leigos” do Direito sabem que para alguém ser acusado ser afastado das suas funções tem de haver, ao menos, indícios de provas e que para serem condenadas as provas têm de ser sólidas.

 

A hierarquia definiu uma nova forma de fazer justiça: condenar sem ser tribunal e construir teses sem apresentar provas. Um dos aspetos mais preocupantes desta história é a normalidade com que os irmãos de presbitério continuam aceitando este ataque e como o medo toma conta das instituições, que com este despacho atingiu uma nova dimensão.

Custa entender como pessoas que sempre lutaram por justiça e não estou falando misericórdia, se deixaram aprisionar a uma corrente, em voga a muito tempo, de que quem chama à atenção e ameaçam sua posição precisam ser afastado, mandado para sua cidade pra casa da mãe, sem as garantias básicas dos cidadãos, à defesa do direito de presunção da inocência, à regra do contraditório, a não inversão do ônus da prova, à vergonha que é a condenação na opinião pública com base em pedaços de verdade, de interrogatórios ou tão-somente de opiniões, não passa de um defensor da nova inquisição. A Igreja hierárquica, que viveu obcecada com o primado da moral sexual, é cada vez mais confrontada com os escândalos sexuais no seu próprio seio. Primeiro, foi à pedofilia. Mais recentemente, são as "namoradas" de padres que vêm denunciar os abusos de que foram ou são vítimas. Não defendo pedófilo nem uma união escondida, mas não posso me calar diante de tanta injustiça que tenho presenciado. Sei que quem defende direitos humanos não são bandidos, são pessoas que acreditam na nossa capacidade humana e não na barbárie

 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Artigo - A Igreja precisa falar sobre formação sacerdotal (Padre Carlos)

 

 

Precisamos falar sobre a formação sacerdotal

 


Já faz algum tempo que gostaria de escrever sobre a importância de uma nova metodologia para a formação dos novos padres.  Não sou formador nem estudioso deste assunto, mas como cristão e ter convivido muitos anos neste espaço de formação, não poderia fechar os olhos para esta reflexão sobre essa instituição tridentina e entender a importância do salto que estamos para concretizar.  A formação atual dos diáconos e padres é a mais eficaz para o serviço em uma Igreja ministerial?  E, diante dos desafios do Novo Milênio, como encontrar um modelo melhor de formar os futuros sacerdotes dentro deste embate entre essas duas vertentes do clero católico?


 Este Pontificado já deu provas que tem como objetivo, resgatar os valores do Vaticano II e buscar de fato e de direito mudar a forma da Igreja de relacionar-se com o mundo e consigo mesma é por isso, que é necessário surgir e formar novos pastores com esta mentalidade. Não podemos esquecer que até hoje este grande acontecimento foi e é um evento que precisa de análise, pois está longe de se chegar a um consenso.

         Refletir sobre a formação ministrada nos seminários hoje é tocar o dedo na ferida e admitir que pecamos em determinados pontos, poderia ter feito muita diferença no novo clero se o mesmo estivesse inserido com o seu povo durante a sua caminhada. Como poderemos aceitar uma formação sacerdotal que retira os candidatos ao sacerdócio do meio do povo e forma-os num ambiente clericalizado que não está de acordo com os Evangelhos, nem com as perspectiva do Concílio Vaticano II, nem com uma Igreja "em saída", "sinodal, evangélica e evangelizadora", a Igreja "dos pobres e humildes".

É preciso ter coragem para enfrentar novos desafios! Assim, propor a estes seminaristas, apesar da necessidade de assisti-lo com uma orientação espiritual que façam antes da teologia ou do diaconato, novas experiências como, por exemplo, "apartamentos compartilhados com amigo - em ambientes universitários" que melhor contribuam para uma formação encarnada no Mundo é uma das opções.

Não será preciso ir tão longe. Mas porque não, antes de freqüentarem o curso de teologia, cursarem outro curso à sua escolha? Fazerem uma experiência fora do seminário, ou antes, de entrarem no seminário, no meio dos outros alunos e experimentarem as mesmas dificuldades e desafios deles: alojamento, alimentação, transportes....

Tendo em conta as virtudes que o programa Erasmus tem demonstrado, porque não todos os seminaristas fazerem uma experiência em Roma ou noutra qualquer boa faculdade de teologia? Isto proporcionar-lhes-ia uma experiência única da universalidade da Igreja.

Com relação os seminaristas diocesanos, porque não viverem numa paróquia nos últimos anos do curso em vez de estarem fechados no seminário? Poderiam ir aplicando o que aprendiam no curso e conheciam mais cedo e melhor a realidade fundamental que serão chamados a servir como padres.


        Estes e outros aspetos terão de ser refletidos. Só a reflexão garantirá que os seminaristas deixem de ser uma casta à parte e possam viver a sua vocação encarnados na sociedade e na Igreja.

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...