No dia 23 de janeiro Dom Zanoni
completa 60 anos
Quando
falamos de vocação sacerdotal, nos lembramos logo que o seguimento radical de
Jesus é o principal fruto da vida batismal. Não há seguimento sem renúncia, sem
entrega disponível da própria vontade: “Se alguém vem a mim, mas não se
desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs
e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua
cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14,26-27). No
ministério sacerdotal, o empenho da renúncia nunca pode ser uma expressão da
anulação de si, mas sempre uma resposta de amor por causa do amor a Deus.
Renunciamos a nós próprios porque somos livres! Era o grande ensinamento do Pe.
Benedito e formador destes meninos que décadas mais tarde passaram a ocupar os
cargos relevantes da Igreja no nosso estado.
Tudo
começa quando a diocese passa a apoiar as luta social e a dura vida do povo em
nossa cidade, a Igreja Católica e os cristãos, fizeram um compromisso social
radical em nome da fé, mostrando que o maior problema da Igreja na nossa
diocese não estava em questões dogmáticas, mas em como enfrentar à sua luz a
situação de opressão, de exploração do homem do campo, como acontecia com os
catadores de café e os trabalhadores urbanos que passavam a ocupar cada vez
mais a serra do periperi. É neste contesto que surgiram muitas vocações em
nossa cidade e uma delas a de Dom Zanoni.
No
dia 23 de janeiro, Dom Zanoni completa 60 anos. Esta data para seus amigos se tornou um Memorial, isso
porque, resgatar a memória é lembrar um determinado dia é fazer com que nós não
esqueçamos jamais deste acontecimento. Entre várias comemorações em Feira de Santana,
Vitória da Conquista e por onde ele foi apascentando suas ovelhas, uma tem um
sabor de Irmandade e companheirismo, esta será
realizada em Barra do Choça com uma missa e almoço na Cotefave com os irmãozinhos
em recuperação.
As elites da nossa cidade sempre
quiseram que Igreja apresentasse um Deus-Poder que justificasse o seu
poderio de mando e subordinação. Mas o Deus de Jesus e o do Pe.
Zanoni não se confunde com o Poder da dominação, Ele é omnipotente, não no
sentido de dominar, mas como Força infinita de criar e promover. Por isso, ao abrir a catedral pra celebrar a missa de sétimo dia do assassinato de
Etelvino (Teté) na fazenda paixão e denunciar os crimes que estavam sendo
cometidos contra os mais fracos, chamou para si todo o ódio deste seguimento conservador
e burguês.
A
vocação profética deste homem de Deus o levou mais uma vez a denunciar a
chacina da fazenda Mucambo. Este gesto colocou sua vida em risco quando em uma
reunião de donos de terra daquela região foi definido que o padre da Catedral
estava incomodando muito e deveria ser eliminado. Um dos membros deste grupo fez
com que esta notícia chegasse ao Bispo Celso José. Coube ao Padre João Cardoso
denunciar na Resenha Geral do saudoso Herzem Gusmão, aquele plano que estava em
curso, evitando assim este martírio. Mesmo ameaçado de morte e correndo o risco
por se expor sem medo desta gente, foi a Brasília lutar pela desapropriação
destas terras. Hoje o MST conta com 23
assentamentos na região.
Olhando pra traz e vendo os caminhos que Dom Zanoni tem percorridos nestes
sessenta anos de existência, podemos afirmar que quem procura a paz, tem que
trabalhar pela justiça e quem está procurando justiça, tem que ter como
primícias a defesa intransigente da vida.
Parabéns Companheiro!