Mãe Nossa, que estais no Céu
Hoje na
minha oração diária estava pensando, se temos certeza que Deus não é masculino
nem feminino, porque então precisamos representá-lo o tempo todo como se fosse
verdadeira uma imagem patriarcal? É nesta hora que a filosofia fala mais alto:
aquilo de que nada se pode pensar nem dizer não existe para nós. Essas
representações são sempre condicionadas as nossas próprias histórias, as culturas, as
sociedades e a visão de nosso próprio mundo. Para dar um exemplo: se, em vez de
se rezar o pai-nosso se rezasse a "Mãe Nossa": "Mãe Nossa, que
estais no Céu, santificado seja o vosso Nome...", que influência isto
teria na formulação da nossa oração na nossa visão de mundo humano e no próprio
cosmos, na nossa vivência das relações entre homens e mulheres, na economia, na
educação, no exercício do poder?
Quando
estudamos a História das Religiões e a História da Igreja de forma especifica,
passamos a entender que o patriarcalismo religioso, que fez na quase totalidade
das religiões as mulheres se tornarem de fato oprimida, faz parte de uma
cultura perversa. A partir do momento em que as sociedades se tornam
patriarcais, onde o homem domina, onde os sacerdotes são maioritariamente homens,
também o Céu vai se masculinizando.
É preciso
descobrir na cultura ocidental os lados maternos de Deus, descobrir que nosso
Deus transcende o masculino e o feminino e ao mesmo tempo tem elementos dos
dois: são dois géneros nos quais, mais do que "diferenças", existe
uma quantidade infinita de sensibilidades. Infelizmente, não há palavra para
dizer Deus como masculino e feminino ao mesmo tempo, não sei se é a nossa
língua ou a nossa concepção Dele.
Nossa
gramática não é perfeita, mas não conheço nenhuma outra que traga em seu léxico
uma palavra que represente nosso Deus como ultragênero. Mesmo assim, precisamos
de uma representação ao mesmo tempo masculina e feminina que possa educar as
novas gerações. Na figuração humana de Deus, precisamos das duas vertentes, masculina
e feminina, que se completam e acrescentam, pois o todo é mais do que a soma
das partes. Esse é o Deus da Bíblia e o que meus mestres me apresentaram em
Belo Horizonte, onde aparecem traços femininos, como a Sabedoria de Deus, que é
feminina.
Deus como
imanência, que partilha a nossa dor, alimenta como a mãe no aleitamento e nos
acolhe na morte. Que Deus seja então o grande Pai e a grande Mãe! Deus é um
Deus amoroso, Pai e Mãe, que, mesmo que não responda, ouve.
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