quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

ARTIGO - Mãe Nossa, que estais no Céu (Padre Carlos)

 


Mãe Nossa, que estais no Céu




 

Hoje na minha oração diária estava pensando, se temos certeza que Deus não é masculino nem feminino, porque então precisamos representá-lo o tempo todo como se fosse verdadeira uma imagem patriarcal? É nesta hora que a filosofia fala mais alto: aquilo de que nada se pode pensar nem dizer não existe para nós. Essas representações são sempre condicionadas  as nossas próprias histórias, as culturas, as sociedades e a visão de nosso próprio mundo. Para dar um exemplo: se, em vez de se rezar o pai-nosso se rezasse a "Mãe Nossa": "Mãe Nossa, que estais no Céu, santificado seja o vosso Nome...", que influência isto teria na formulação da nossa oração na nossa visão de mundo humano e no próprio cosmos, na nossa vivência das relações entre homens e mulheres, na economia, na educação, no exercício do poder?

Quando estudamos a História das Religiões e a História da Igreja de forma especifica, passamos a entender que o patriarcalismo religioso, que fez na quase totalidade das religiões as mulheres se tornarem de fato oprimida, faz parte de uma cultura perversa. A partir do momento em que as sociedades se tornam patriarcais, onde o homem domina, onde os sacerdotes são maioritariamente homens, também o Céu vai se masculinizando.

É preciso descobrir na cultura ocidental os lados maternos de Deus, descobrir que nosso Deus transcende o masculino e o feminino e ao mesmo tempo tem elementos dos dois: são dois géneros nos quais, mais do que "diferenças", existe uma quantidade infinita de sensibilidades. Infelizmente, não há palavra para dizer Deus como masculino e feminino ao mesmo tempo, não sei se é a nossa língua ou a nossa concepção Dele.

         Nossa gramática não é perfeita, mas não conheço nenhuma outra que traga em seu léxico uma palavra que represente nosso Deus como ultragênero. Mesmo assim, precisamos de uma representação ao mesmo tempo masculina e feminina que possa educar as novas gerações. Na figuração humana de Deus, precisamos das duas vertentes, masculina e feminina, que se completam e acrescentam, pois o todo é mais do que a soma das partes. Esse é o Deus da Bíblia e o que meus mestres me apresentaram em Belo Horizonte, onde aparecem traços femininos, como a Sabedoria de Deus, que é feminina.

Deus como imanência, que partilha a nossa dor, alimenta como a mãe no aleitamento e nos acolhe na morte. Que Deus seja então o grande Pai e a grande Mãe! Deus é um Deus amoroso, Pai e Mãe, que, mesmo que não responda, ouve.


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