O Bolsonarismo veio para ficar
Muitos acreditam que com o termino deste governo se dará de forma
natural o fim do Bolsonarismo. O que as pessoas não percebem é que está onda da
ultradireita, esta relacionada com os avanços da democracia e a disputa de
interesse dentro da própria direita. Muitos políticos deste campo que abraçaram
este projeto, hoje abomina sua criação e sabem no que votaram. O Bolsonarismo
veio para ficar. Não são todos fascistas, apesar de alguns serem. Não são todos
racistas, apesar de muitos serem. Não são todos homofóbicos, apesar de quase
todos serem. Mas há uma coisa que todos são: adultos. A forma de combater os
inimigos da democracia não é pedindo desculpa, como se lhes tivéssemos falhado.
É garantindo a representação justa àqueles a quem a política, o Estado e a
economia falham.
Apesar de estarmos vendo um Bolsonaro diferente das eleições anteriores,
onde seus temas e tiradas tornava-se o centro das conversas e das preocupações,
percebemos também uma base solida, independente dos aliados mercenários que
estão no barco como rato.
No entanto, apesar de lidar com a mesma pressão da bipolarização nas
pesquisas, seu discurso perdeu muito do messianismo da ultima eleição, apesar
das perdas que sofreu nos últimos tempos, o bolsonarismo se transformou como a
segunda força ideológica no cenário nacional. É verdade que está longe dos
resultados das pesquisas de quatro anos atrás, mas com a decadência da direita
liberal, vai se consolidando como porta-voz de uma futura oposição.
Muitos acreditam que o fortalecimento da candidatura da esquerda tem se
dado, devido à tomada de consciência do que tem representado este governo e
desta forma, as pessoas vão percebendo naquilo em que votaram. Sim, o fato de
Jair Bolsonaro não ser, ao contrário de quase todos os seus adversários, um
partido, mas uma pessoa com uma sigla ao lado, cria de fato um novo na política
que passa a gestar uma nova ultradireita de personalismo autoritário. As forças
que abraçaram este projeto há quatro anos, não eram tolas
nem idiotas. Elas sabiam no que estavam votando. Elas sabiam que Bolsonaro não era
um excelente candidato, competente e empenhado em melhor o país. Votaram nele
porque acharam que afastando à esquerda o pós Bolsonaro lhes pertenceria.
É bom pararem de alimentar falsas esperanças: o bolsonarismo veio para
ficar. Porque só um tipo de direita sobreviverá: o que ocupa um lugar
politicamente pré-existente. É por isso que o PSDB e alguns partidos que
gravitaram em torno dele se encontram em crise. E é por se ter tornado
redundante em relação ao seu espaço que os partidos de centro-direita precisam
se renovar para não morrer. Como as empresas, um partido até pode criar o seu
próprio mercado. Mas dificilmente sobrevive se não responder as necessidades e
as demandas pré-estabelecidas. Mesmo que o bolsonarismo viesse morrer, outro
tomaria o seu lugar. A extrema-direita meteu o pé na porta e ela escancarou todas
as neuroses de uma direita que estava escondida com a onda da redemocratização,
a porta esta definitivamente aberta para este seguimento.
Num país que conheceu uma a ditadura do Estado Novo e a Militar de 1964,
seria estranho que todos fossem amantes da democracia. O surgimento do
bolsonarismo no cenário político foi mal compreendido pelos cientistas e por alguns
analistas políticos, ele representa algo de mais sério na nossa sociedade. Como
profissional desta área, posso afirmar que este é um caso, bastante habitual na
política, especialmente quando a extrema-direita ganha força, deixa transparecer
uma tensão que sempre existiu e que a sociedade vai absolvendo até que ele se
transforme num problema político (carregado de caricaturas) aparentemente impossível
de se resolver transformando luta de classe em ódio.
O resto é semelhante ao que se passa em todo o mundo. Só os inocentes,
os mais tolerantes, moderados e menos racistas, poderiam acreditar que o fascismo
não chegaria por estas bandas. Chegaram como todas chegam, com umas décadas de
atraso, mas chegaram pra ficar.