Rousseau e as eleições no Brasil.
Minha geração foi testemunha ocular da queda
do bloco soviético e da transformação da China num modelo híbrido de
capitalismo, estas mudanças apesar de abalarem algumas certezas da esquerda foram
fundamentais para que virássemos a página de um modelo de socialismo atrasado e
obrigasse uma parcela da esquerda a sepultar de vez toda e qualquer discussão
em torno do legado do modelo de partido único e de gestão coletiva dos meios de
produção.
Com estas mudanças que ocorreram no final
do século passado, a desigualdade social passou a ser analisada pelos filósofos
e pelos cientistas político, como um entrave ao desenvolvimento económico e
deixando assim o campo ideológico para se consolidar como fase de
desenvolvimento do capitalismo.
Depois do “L’état, c’est moi” de Luís XIV,
Jean Jacques-Rousseau fala-nos do “contrato social”, uma noção de filosofia
política em que os cidadãos seguem as leis e o Estado retribui com justiça,
liberdade e previsibilidade. Todas
estas mudanças de paradigmas têm ocasionado diferentes percepções de igualdade,
fraternidade e liberdade contribuindo ainda hoje para a divisão entre esquerda
e direita. Em meados do século XVIII, Rousseau criou um enorme impacto ao
defender que a propriedade privada está na origem da desigualdade social,
privilegiando uma ínfima minoria contra a vasta maioria. Ele relacionou o
privilégio com o poder politico, denunciando a opressão sistemática. A ideia de
soberania do povo foi então formulada, tendo Rousseau defendido à ideia de um
contrato social baseado na igualdade e na liberdade, como expressão da vontade
geral. Estas ideias vieram a influenciar as revoluções americana, francesa e
haitiana. A ideia de soberania do povo acabou por ser aceite pela direita no
século XIX, mas sem sufrágio
universal, enquanto a ideia de democracia era rejeitada pela
extrema-direita, influenciada pelo elogio da desigualdade e da elite por alguns
pensadores.
A elite
brasileira não aceitou até hoje a soberania do povo nem a ideia de democracia.
Nossa direita está presa no século XIX e não conseguiremos virar a pagina desta
triste era sem que cheguemos a um consenso. Por isto o próximo presidente terá o
papel de pacificador e precisará restaurar a credibilidade do cidadão no
Estado. Temos a obrigação de construirmos
junto como propôs Rousseau, um contrato social ou pacto social. Precisamos construir uma relação
mais recíproca, em que ambos possam cumprir os seus deveres e exijam
contrapartidas certas e de qualidade. Para que o contrato social tenha uma
longa vida, será fundamental que todos os seguimentos da sociedade faça parte. Esta aliança enfraquece o populismo e alimenta a participação
democrática e a consciência cívica. Ninguém contra ninguém porque o Estado
somos nós.
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