segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

ARTIGO - Rousseau e as eleições no Brasil. (Padre Carlos)

 


Rousseau e as eleições no Brasil.


 

Minha geração foi testemunha ocular da queda do bloco soviético e da transformação da China num modelo híbrido de capitalismo, estas mudanças apesar de abalarem algumas certezas da esquerda foram fundamentais para que virássemos a página de um modelo de socialismo atrasado e obrigasse uma parcela da esquerda a sepultar de vez toda e qualquer discussão em torno do legado do modelo de partido único e de gestão coletiva dos meios de produção.

Com estas mudanças que ocorreram no final do século passado, a desigualdade social passou a ser analisada pelos filósofos e pelos cientistas político, como um entrave ao desenvolvimento económico e deixando assim o campo ideológico para se consolidar como fase de desenvolvimento do capitalismo.  

Depois do “L’état, c’est moi” de Luís XIV, Jean Jacques-Rousseau fala-nos do “contrato social”, uma noção de filosofia política em que os cidadãos seguem as leis e o Estado retribui com justiça, liberdade e previsibilidade. Todas estas mudanças de paradigmas têm ocasionado diferentes percepções de igualdade, fraternidade e liberdade contribuindo ainda hoje para a divisão entre esquerda e direita. Em meados do século XVIII, Rousseau criou um enorme impacto ao defender que a propriedade privada está na origem da desigualdade social, privilegiando uma ínfima minoria contra a vasta maioria. Ele relacionou o privilégio com o poder politico, denunciando a opressão sistemática. A ideia de soberania do povo foi então formulada, tendo Rousseau defendido à ideia de um contrato social baseado na igualdade e na liberdade, como expressão da vontade geral. Estas ideias vieram a influenciar as revoluções americana, francesa e haitiana. A ideia de soberania do povo acabou por ser aceite pela direita no século XIX, mas sem sufrágio universal, enquanto a ideia de democracia era rejeitada pela extrema-direita, influenciada pelo elogio da desigualdade e da elite por alguns pensadores.

A elite brasileira não aceitou até hoje a soberania do povo nem a ideia de democracia. Nossa direita está presa no século XIX e não conseguiremos virar a pagina desta triste era sem que cheguemos a um consenso. Por isto o próximo presidente terá o papel de pacificador e precisará restaurar a credibilidade do cidadão no Estado.  Temos a obrigação de construirmos junto como propôs Rousseau, um contrato social ou pacto social. Precisamos construir uma relação mais recíproca, em que ambos possam cumprir os seus deveres e exijam contrapartidas certas e de qualidade. Para que o contrato social tenha uma longa vida, será fundamental que todos os seguimentos da sociedade faça parte.  Esta aliança enfraquece o populismo e alimenta a participação democrática e a consciência cívica. Ninguém contra ninguém porque o Estado somos nós.

 

 


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