quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

ARTIGO - O Bolsonarismo veio para ficar (Padre Carlos)

 



O Bolsonarismo veio para ficar

 




 

Muitos acreditam que com o termino deste governo se dará de forma natural o fim do Bolsonarismo. O que as pessoas não percebem é que está onda da ultradireita, esta relacionada com os avanços da democracia e a disputa de interesse dentro da própria direita. Muitos políticos deste campo que abraçaram este projeto, hoje abomina sua criação e sabem no que votaram. O Bolsonarismo veio para ficar. Não são todos fascistas, apesar de alguns serem. Não são todos racistas, apesar de muitos serem. Não são todos homofóbicos, apesar de quase todos serem. Mas há uma coisa que todos são: adultos. A forma de combater os inimigos da democracia não é pedindo desculpa, como se lhes tivéssemos falhado. É garantindo a representação justa àqueles a quem a política, o Estado e a economia falham.

Apesar de estarmos vendo um Bolsonaro diferente das eleições anteriores, onde seus temas e tiradas tornava-se o centro das conversas e das preocupações, percebemos também uma base solida, independente dos aliados mercenários que estão no barco como rato.

No entanto, apesar de lidar com a mesma pressão da bipolarização nas pesquisas, seu discurso perdeu muito do messianismo da ultima eleição, apesar das perdas que sofreu nos últimos tempos, o bolsonarismo se transformou como a segunda força ideológica no cenário nacional. É verdade que está longe dos resultados das pesquisas de quatro anos atrás, mas com a decadência da direita liberal, vai se consolidando como porta-voz de uma futura oposição.

Muitos acreditam que o fortalecimento da candidatura da esquerda tem se dado, devido à tomada de consciência do que tem representado este governo e desta forma, as pessoas vão percebendo naquilo em que votaram. Sim, o fato de Jair Bolsonaro não ser, ao contrário de quase todos os seus adversários, um partido, mas uma pessoa com uma sigla ao lado, cria de fato um novo na política que passa a gestar uma nova ultradireita de personalismo autoritário. As forças que abraçaram este projeto há quatro anos, não eram tolas nem idiotas. Elas sabiam no que estavam votando. Elas sabiam que Bolsonaro não era um excelente candidato, competente e empenhado em melhor o país. Votaram nele porque acharam que afastando à esquerda o pós Bolsonaro lhes pertenceria.

É bom pararem de alimentar falsas esperanças: o bolsonarismo veio para ficar. Porque só um tipo de direita sobreviverá: o que ocupa um lugar politicamente pré-existente. É por isso que o PSDB e alguns partidos que gravitaram em torno dele se encontram em crise. E é por se ter tornado redundante em relação ao seu espaço que os partidos de centro-direita precisam se renovar para não morrer. Como as empresas, um partido até pode criar o seu próprio mercado. Mas dificilmente sobrevive se não responder as necessidades e as demandas pré-estabelecidas. Mesmo que o bolsonarismo viesse morrer, outro tomaria o seu lugar. A extrema-direita meteu o pé na porta e ela escancarou todas as neuroses de uma direita que estava escondida com a onda da redemocratização, a porta esta definitivamente aberta para este seguimento.

Num país que conheceu uma a ditadura do Estado Novo e a Militar de 1964, seria estranho que todos fossem amantes da democracia. O surgimento do bolsonarismo no cenário político foi mal compreendido pelos cientistas e por alguns analistas políticos, ele representa algo de mais sério na nossa sociedade. Como profissional desta área, posso afirmar que este é um caso, bastante habitual na política, especialmente quando a extrema-direita ganha força, deixa transparecer uma tensão que sempre existiu e que a sociedade vai absolvendo até que ele se transforme num problema político (carregado de caricaturas) aparentemente impossível de se resolver transformando luta de classe em ódio.

O resto é semelhante ao que se passa em todo o mundo. Só os inocentes, os mais tolerantes, moderados e menos racistas, poderiam acreditar que o fascismo não chegaria por estas bandas. Chegaram como todas chegam, com umas décadas de atraso, mas chegaram pra ficar.


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