A autocrítica de um tucano,
segundo Aloysio Nunes.
Nossa esquerda e a social democracia ainda acredita que as democracias
são os regimes exclusivos dos democratas. E que os não democratas ou antidemocratas
devem ser excluídos! O problema é que os notáveis e os cientistas políticos
deste campo não conhecem nenhum meio democrático de fazer. Eu sinto muito
dizer, mas não existe outro meio a não ser, através do combate político.
Apesar disso, muitos democratas não tiveram medo de flertar com o
bolsonarismo há quatro. Não tiveram medo de ver esta vertente da ultradireita
aumentar a sua popularidade e ganhar importância. Enfim, não tiveram medo do
fascismo e do populismo. Esta gente não teve receio quando Bolsonaro e seus
seguidores utilizam sentimentos comuns de insatisfação perante realidades bem
conhecidas. Medo de que estes grupos utilizassem o descontentamento de muitos
para dar corpo e voz às suas elucubrações demagógicas.
Foram estes comportamentos da direita democrática e das correntes que se
denominam terceira via que fizeram o ex-senador e ex-ministro das Relações
Exteriores do Governo Temer, Aloysio Nunes (PSDB-SP), fazer uma autocrítica
sobre a postura que o seu partido tomou nos últimos anos, especialmente após as
eleições de 2014 onde o antipetismo ficou enraizado no discurso tucano.
Este posicionamento do PSDB quando adotou esta política contra o Partido
dos Trabalhadores (PT), segundo o ex-ministro, foi um erro por parte da
legenda, já que as duas siglas foram contemporâneas e bebem da mesma fonte da socialdemocracia.
Com a redemocratização, brotaram duas vertentes da socialdemocracia aqui
no Brasil: uma mais à esquerda, representada pelo PT, e uma mais direita, cada
uma com seu sistema de alianças. Aí chegou Bolsonaro e desestabilizou o centro
político e polarizou não só a classe política, mas toda a sociedade. Nesse processo
de radicalização, que veio bem antes do impeachment. Esta tomada de posição
levou uma parte do eleitorado tucano debandarem das suas fileiras. Este erro
foi decisivo para o PSDB perder um componente importante dos seus eleitores, de
uma direita civilizada e moderada.
Diante disso, este partido deixou de ser uma referência nacional como
era nos tempo de Mário Covas. Na época em que o PSDB teve posições fortes na
eleição nacional, com Fernando Henrique, (José) Serra e (Geraldo) Alckmin, o
partido era uma referência que se opunha ao PT no campo eleitoral. O PSDB
trazia consigo um eleitorado mais liberal e progressista, e também de direita
conservador, mas do campo democrático. Isso foi explicitado na chapa FHC-Marco
Maciel.
A volta da pobreza e da desigualdade, a desagregação social,
a violência generalizada, o desencanto dos jovens com a política e a tolerância
com a corrupção, tem muito haver com esta autocritica tucana e com a tomada de
decisão que alguns políticos do centro nestes últimos dias. Nesta trajetória de
buscar construir elementos que possam nos levar a construção de um projeto de
nação, esta tomada de consciência chegou em boa hora.
Esta
autocritica me fez lembrar o comportamento de alguns quadros do centro e da esquerda
sobre estas adesões que Lula vem recebendo e pensei em uma frase que o
Dr. Ulysses gostava de dizer: “Não se pode fazer política com o fígado,
conservando rancor e ressentimentos na geladeira”. Mas, porque eu estou
citando frases do Dr. Ulysses? Eu lembrei que se não virarmos a página no impeachment,
não conseguiremos jamais construir um consenso para reverter estas políticas
que tanto mal fizeram ao nosso país.