sábado, 12 de fevereiro de 2022

ARTIGO - A autocrítica de um tucano, segundo Aloysio Nunes. (Padre Carlos)

 


A autocrítica de um tucano, segundo Aloysio Nunes.

 




Nossa esquerda e a social democracia ainda acredita que as democracias são os regimes exclusivos dos democratas. E que os não democratas ou antidemocratas devem ser excluídos! O problema é que os notáveis e os cientistas políticos deste campo não conhecem nenhum meio democrático de fazer. Eu sinto muito dizer, mas não existe outro meio a não ser, através do combate político.

Apesar disso, muitos democratas não tiveram medo de flertar com o bolsonarismo há quatro. Não tiveram medo de ver esta vertente da ultradireita aumentar a sua popularidade e ganhar importância. Enfim, não tiveram medo do fascismo e do populismo. Esta gente não teve receio quando Bolsonaro e seus seguidores utilizam sentimentos comuns de insatisfação perante realidades bem conhecidas. Medo de que estes grupos utilizassem o descontentamento de muitos para dar corpo e voz às suas elucubrações demagógicas.

Foram estes comportamentos da direita democrática e das correntes que se denominam terceira via que fizeram o ex-senador e ex-ministro das Relações Exteriores do Governo Temer, Aloysio Nunes (PSDB-SP), fazer uma autocrítica sobre a postura que o seu partido tomou nos últimos anos, especialmente após as eleições de 2014 onde o antipetismo ficou enraizado no discurso tucano.

Este posicionamento do PSDB quando adotou esta política contra o Partido dos Trabalhadores (PT), segundo o ex-ministro, foi um erro por parte da legenda, já que as duas siglas foram contemporâneas e bebem da mesma fonte da socialdemocracia.

Com a redemocratização, brotaram duas vertentes da socialdemocracia aqui no Brasil: uma mais à esquerda, representada pelo PT, e uma mais direita, cada uma com seu sistema de alianças. Aí chegou Bolsonaro e desestabilizou o centro político e polarizou não só a classe política, mas toda a sociedade. Nesse processo de radicalização, que veio bem antes do impeachment. Esta tomada de posição levou uma parte do eleitorado tucano debandarem das suas fileiras. Este erro foi decisivo para o PSDB perder um componente importante dos seus eleitores, de uma direita civilizada e moderada.

Diante disso, este partido deixou de ser uma referência nacional como era nos tempo de Mário Covas. Na época em que o PSDB teve posições fortes na eleição nacional, com Fernando Henrique, (José) Serra e (Geraldo) Alckmin, o partido era uma referência que se opunha ao PT no campo eleitoral. O PSDB trazia consigo um eleitorado mais liberal e progressista, e também de direita conservador, mas do campo democrático. Isso foi explicitado na chapa FHC-Marco Maciel.

A volta da pobreza e da desigualdade, a desagregação social, a violência generalizada, o desencanto dos jovens com a política e a tolerância com a corrupção, tem muito haver com esta autocritica tucana e com a tomada de decisão que alguns políticos do centro nestes últimos dias. Nesta trajetória de buscar construir elementos que possam nos levar a construção de um projeto de nação, esta tomada de consciência chegou em boa hora.

Esta autocritica me fez lembrar o comportamento de alguns quadros do centro e da esquerda sobre estas adesões que Lula vem recebendo e pensei em uma frase que o Dr. Ulysses gostava de dizer: “Não se pode fazer política com o fígado, conservando rancor e ressentimentos na geladeira”. Mas, porque eu estou citando frases do Dr. Ulysses? Eu lembrei que se não virarmos a página no impeachment, não conseguiremos jamais construir um consenso para reverter estas políticas que tanto mal fizeram ao nosso país.

 

 


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