terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

ARTIGO - A revolução que eu não fiz! (Padre Carlos)

 


A revolução que eu não fiz!

 


O título escolhido para esse artigo me transporta para o início de minha adolescência. Foi na militância do movimento estudantil, naquela década que convencionamos chamar de anos de chumbo que tudo começou. Foi lá que comecei a indagar e questionar, dentro dos meus valores e crenças, o que queria no mundo. E assim começa a minha história.

Minha preocupação sempre foi como passar esta minha vivências para as minhas filhas, este sempre foi o motivo de preocupação para mim, atentos ao que é ensinado nas escolas, inquietos com a desinformação geral dos jovens. Pensei em registrar, neste artigo minha preocupação com esta geração e a falta que faz as utopias no imaginário destes meninos.

Trazer esses tempos de militância – que eu gostaria de descrever aqui, com tanta euforia, resgata valores e sentimentos que eu acreditava não existir mais em minhas lembranças emocionais. Confesso aos senhores e senhoras, que ainda acredito e penso que podemos mudar o mundo. Digo isto, porque sou de uma geração que ousou resistir à ditadura e exerceu o legítimo direito universal, humano, de reagir contra a tirania instaurada no Brasil a partir de 1º de abril de 1964. O direito de rebeldia faz parte da história da humanidade.

Minha geração tinha outros valores que esta rapaziada não conhece e acredito perdeu muito em não cultivar as nossas utopias. Posso dizer que minha geração fez a diferença e lutou por um mundo melhor. Por isto, posso dizer que me orgulho de ter nascido em meados do século passado, numa Pituba, onde todos se conheciam, naqueles tempos a vida era mais salutar, a amizade tinha a força capaz de superar o preconceito devido o peso da verdade.

Sonhávamos naquela época, que poderíamos mudar o mundo; Mas na verdade a militância criava em mim uma necessidade de me tornar sempre mais forte e veloz que os outros companheiros da classe média. Anos depois descobrir que aquela força que buscava não era pra lutar em um ringue, mas para lutar contra o meu próprio destino.  Na juventude, eu me achava inteligente, queria mudar o mundo, mas descobrir com o tempo, que foi o mundo que me mudou. Isto porque, depois dos cinquenta, você encontra a sabedoria e passa a entender que o verdadeiro revolucionário é aquele que consegue mudar a si mesmo.

Não sou o único guerrilheiro, a história está cheia de lutadores; guerreiros, revolucionários, missionários, senadores, cientistas, músicos, cineastas, escritores, reformadores, papas, professores, homens e mulheres que sabiam que podiam mudar o mundo, e mudaram. Assim, posso dizer hoje que se não fiz a revolução, se não mudei o destino das coisas, posso dizer que conseguir mudar o meu mundo, a minha vida o meu destino.  

 

 

 


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