Leonelli,
o profeta que clama no deserto.
Uma
das heranças que o PCB terminou, incorporando inconscientemente, na esquerda
brasileira, foi à tese da “unidade ideológica” ou como costumávamos falar:
centralismo
democrático. Esta forma de fazer política determinava que
as minorias não pudessem se constituir em frações organizadas, nem precisar ser
ouvidas pelas lideranças em decisões que pudessem mudar os rumos do partido. A
insatisfação com a cúpula petista na Bahia e no país tem muito haver com este
comportamento. Digo isto porque a decisão do “PT” e a investida das suas
lideradas, como Lula e Rui Costa que resultou no desmonte da chapa que traria
Jaques Wagner como candidato ao governo em um “passe de mágica” me fez lembrar esta
máxima que infelizmente ressuscitaram e incorporaram nos governos em relação à
chapa majoritária a sucessão na Bahia. Quando esta decisão se tornou publico
percebi como esta forma de fazer política ainda vive no inconsciente e
comportamento dos grupos hegemônico do Partido quando o assunto é a eleição e a
chapa majoritária.
Quando o velho militante levanta estas
questões, ele chama a atenção dos partidos de esquerda da base aliada que nessa
chapa era justamente a candidatura de Jaques Wagner ao Governo do Estado que
representava este seguimento. E a aliança com a direita liberal passava com a
reeleição senador Oto Alencar. O PP continuaria como vice. Era um consenso
aceito por todos os partidos que mesmo não participando da chapa majoritária (PSB,
PCdoB, Avante e outros) sentiam-se nela representados. Nestes dias, vimos uma esquerda acovardada e com medo de
colocar suas posições diante do governador e do ex-presidente Lula.
Quais as razões desse cavalo-de-pau para os partidos de
esquerda? Será que o governador e Lula levaram em conta as outras forças
progressistas da Bahia? Atribui-se a responsabilidade a Lula querendo trazer o
PSD para sua aliança eleitoral já no primeiro turno e ao desejo de Rui Costa de
aproveitar os altos índices de aprovação do governo para candidatar-se ao
Senado. E quanto às outras forças?
Leonelli tem toda razão quando questiona: “O
que é que veio antes ou depois: a candidatura de Rui ao senado, a manobra de
Lula junto ao PSD, usando a Bahia como moeda troca, ou a chateação de Wagner?
Sinceramente não importa a ordem desses fatores. Permanece a indagação: a
cúpula do PT tem o direito de tomar uma decisão dessa envergadura sem consultar
nem as lideranças dos partidos aliados, nem a sociedade, nem os parlamentares e
nem as bases do próprio PT?”
Por essa ótica, não haveria divergências no seio dos partidos da base,
tudo deveria ser resolvido através da aplicação do controverso sistema de
centralismo democrático, um eufemismo encontrado pelos comunistas e resgatado
pelos petistas para aliar, em um mesmo discurso, a escolha da chapa e a
imposição de ideias, ou seja, se não fosse possível encontrar o consenso
através da escolha apontada, ele instalar-se-ia através da imposição. O que
interessava era ter o consenso. Caso a divergência persistisse, os discordantes
deveriam ser sumariamente expulsos da organização. Essa concepção foi
determinante para a falta de democracia interna que sempre acompanhou o PCB.
Tornou-se prática comum no partido, em praticamente toda sua existência, e mais
fortemente entre as décadas de 1940 e 1960, a expulsão de membros que divergiam
das posições teóricas e políticas do Comitê Central.
Será que estamos voltando às práticas do século passado?