sábado, 26 de fevereiro de 2022

ARTIGO - Combater a pobreza: compaixão ou com paixão? (Padre Carlos)

 


Combater a pobreza: compaixão ou com paixão?

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Quando fiz a opção preferencial pelos pobres dentro da minha vocação sacerdotal, tinha a certeza que a pobreza era fruto do pecado e a grande responsável pela violação dos direitos humanos. Este foi o lema inspirador do meu ministério e por isto dediquei minha vida e minha militância política na luta pelo Combate à Pobreza e Exclusão Social.

Aceitar esta situação de pobreza em que passa milhões de brasileiros como se fosse algo normal ou numa atitude de passividade, estaria negando minha fé e o Deus libertador que professo. Ter compaixão por estes irmãos e lutar com paixão para mudar esta realidade passou a ser a minha vocação. Digo isto, porque a pobreza e a extrema pobreza continuam, ano após ano, a ser uma grande ferida que não cicatriza na sociedade brasileira. Segundo os dados mais recentes do IBGE, nosso país tinha 13,5 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, de acordo com critérios do Banco Mundial. Somadas aos que estão na linha da pobreza, chegam a 25% da população do país. O que eu quero dizer é que abdicar da luta dos ideais de justiça social que fazem da nossa democracia o nosso ideal, seria negar tudo o que minha geração combateu.

Por isso precisamos sentir compaixão por esta gente e entender que não se combate a pobreza com caridade e sim com justiça e esta é uma luta para ser travada com paixão. Combater a pobreza é nesse sentido uma tarefa de cada dia, mobilizando todas as energias de que pudermos dispor e percebendo que se o não fizermos é cada um de nós que fica mais pobre a cada dia.

Chega de nos escondermos no conforto da ideia de que individualmente não podemos fazer quase nada. A imensidão desta tarefa, e a urgência de enfrenta-la, deixa claro que não podemos dispensar ninguém.

Nenhum de nós pode ficar de fora. Cabe-nos acender e manter viva a esperança em quem já não acredita. Precisamos fazer tudo por aqueles que diante da fome e da pobreza não encontra motivos para olhar de frente para a vida e se projetar no futuro.

Em cada homem, em cada mulher, em cada criança que eu via esmagado os seus direitos mais básico de cidadania, eu encontrava força e a determinação para continuar militando e lutando pela minha gente. Foi assim que eu me entreguei com paixão a esta causa. O respeito pela dignidade da pessoa e pelos direitos humanos é a única forma de respeitarmos a nossa fé e a própria condição humana.


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