terça-feira, 1 de março de 2022

ARTIGO - Wagner abriu mão e agora? (Padre Carlos)

 


Wagner abriu mão e agora?

 



 

A desistência de Wagner de fazer parte da cabeça de chapa e não aceitar que outras lideranças do PT ocupe este lugar me fez avaliar o que tem levado à esquerda e este grupo a acharem que podem tudo. Como explicar a nossa degeneração política ao ponto de abrir mão do governo do estado? Eu acrescento que a decisões do senador só levará a persistência da pobreza e da desigualdade em nosso estado, além é claro, da desagregação social, da violência generalizada, do desencanto dos jovens com a política e a tolerância com a corrupção.

Será que como partido nestes 16 anos nos sintonizamos com o espírito do tempo? Acredito que fazer parte de um governo sem políticas de esquerda nos fez perder o vigor transformador. Enquanto a realidade se transformava, continuávamos com as ideias do passado.

Não entendemos que erramos como governo e como partido por não ter uma política de esquerda na educação e na saúde. Erramos também por não entender que hoje a divisão entre presente e futuro é tão importante quanto à divisão entre capitalistas e trabalhadores; apesar dos trabalhadores que o partido defende se dividiram entre modernos, com bons padrões de consumo, e os tradicionais pobres e excluídos, que sempre ficam sem poder de barganha e sem representação política.

Como aceitar que os sindicatos representam o setor moderno sem abrir mão dos nossos direitos? Nascemos no meio do movimento sindical e o corporativismo estava no nosso sangue, por isto, quando nos tornamos governo, preferimos defender direitos dos servidores estatais à qualidade dos serviços públicos; ignoramos que estatal não é sinônimo de público, sob falso conceito de igualdade, abandonamos o reconhecimento ao mérito de alguns profissionais.

O que é pior para o estado, as corporações, de capitalistas ou de trabalhadores? Tudo isto deveria ser levado em conta para que este governo pudesse buscar coesão social e rumo histórico em vez de abrir mão do seu papel hegemônico. Como poderemos cumprir com as nossas promessas que fizemos nestes 16 anos de governo que estávamos preparando um mundo melhor para as futuras gerações? Caímos no oportunismo eleitoral ao prometer que todos atravessariam o Mar Morto e não fizemos as transformações necessárias.

Fizemos um excelente governo digno de um social democrata, exigimos austeridade nos gastos e eficiência na gestão. Aceitamos como direção partidária a irresponsabilidade populista sem ver os riscos que estas medidas iria nos levar. 

Não entendemos que a justiça social vai além da aplicação correta e responsável dos resultados da economia eficiente; que o combate da fome e da miséria é o grande capital do século XXI. Nossos dirigentes da esquerda ficaram acomodados em ideias antigas, filiações partidárias demarcando seu terreno num fascínio por líderes regionais e nacionais, como se estes fossem o messias. Na verdade as esquerdas brasileiras substituíram suas ideias por slogans e o que foi pior, substituíram os filósofos pelos marqueteiros.

Hoje acredito que caímos em narrativas falsas e passamos a acreditar nas nossas próprias mentiras. Tornamo-nos prisioneiros de siglas partidárias com um programa de governo que era fechado no primeiro dia do mandato, trocamos militância pelas disputas dentro do governo. Sem rumo, caímos no eleitoralismo populista e na mediocridade, que mora ao seu lado. Se abrirmos mão da hegemonia e perdermos este governo, a direção dos partidos de esquerda e seus deputados terão a obrigação de fazer uma autocritica e pedir desculpas à história e ao povo.

 


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