A
tatuagem
era sinônima de rebeldia
Outro dia estava lendo um poema que dizia:
“Sou um livro do século passado. Esquecido em um armário escuro e mofado. Tenho
páginas gastas e amareladas. Há tempos minha história não é contada.” Quando
terminei de lê aquele texto passei a entender que o mundo em que estou vivendo
não é mais da forma como eu penso e acredito. Como disse Cora Coralina: “venho
do século passado e trago comigo todas as idades.”.
Há alguns anos, minha esposa vinha falando
em fazer uma tatuagem, mesmo defendendo que a mulher é dona do seu corpo e pode
decidir sobre ele tentei impedir através de argumentos falaciosos que ela
fizesse. Este problema tem muito haver como penso e encaro a arte de tatuar o
corpo. Durante minha juventude esta pratica era popular entre desocupados, delinquentes, punks entre outras pessoas
“discriminadas”. Era sinônimo de rebeldia e protesto e por razões sociais, já que a maior parte da sociedade não aprova as
"tattoos,” terminei criando este Pré-conceito. Mesmo convivendo com toda
esta carga moral, ainda tinha outro problema, ela é algo permanente. Um
cabelo pintado de rosa, um piercing, um estilo de roupas podem simplesmente ser
mudados, tatuagens não. Diante destes argumentos ela falou: "mas não
existe laser?" Sim, mas é mais caro, demorado e dolorido do que fazê-las e
não há garantia que a remoção será completa, principalmente de desenhos com
pigmentos amarelos.
Vejo uma juventude tatuando o corpo como se
este fosse uma caderneta de lembretes. Memorizam seus sucessos, seus amores e
suas dores. Minha geração se relacionou com o corpo de forma diferente e tinha
como respeito alguns cuidados para que envelhecesse saudavelmente. As únicas marcas
que eram aceitáveis eram as rugas, símbolo dos anos que trilhamos nesta vida. Como
entender o envelhecimento dessas pessoas, obrigadas a encarar para sempre o que
viveram, pensou ou sentiram no passado. Não podemos negar que um número muito
grande de pessoas termina fazendo tatuagens por influência dos amigos, da
mídia, por estar na moda, como símbolo de status ou uma expressão artística.
Mas o corpo não é uma tela em branco, aguardando para tornar perene o que era
efêmero.
Vou ser sincero, acho
simplesmente feio o excesso de tatuagens, naquele tipo que "você olha pra
pessoa, a primeira coisa que vê é as tatuagens". Só acho feio, não como
preconceito. Se for algo em menor número e quantidade, não vejo problemas,
apesar de não querer para mim.
Hoje tenho consciência que sentir-se
bem com a própria aparência vai muito além do que a sociedade determina.
Desta forma, os cuidados com a autoestima são essenciais para manter não só a
nossa beleza externa, como também a nossa saúde mental. Por isto, entendo que
devo desculpa a minha companheira por querer impor a ela uma estética que era
minha os meus medos e as minhas preocupações em relação a esta decisão. O seu
corpo transcende meus direitos. Tenho
que admitir que os padrões de beleza hoje sejam outros e que a
tatuagem para sociedade é vista de outra forma e aceita dentro dos novos
padrões de beleza.