sábado, 22 de outubro de 2022

ARTIGO - Devo desculpa por querer impor uma estética que era só minha. (Padre Carlos)

 

A tatuagem era sinônima de rebeldia

 


Outro dia estava lendo um poema que dizia: “Sou um livro do século passado. Esquecido em um armário escuro e mofado. Tenho páginas gastas e amareladas. Há tempos minha história não é contada.” Quando terminei de lê aquele texto passei a entender que o mundo em que estou vivendo não é mais da forma como eu penso e acredito. Como disse Cora Coralina: “venho do século passado e trago comigo todas as idades.”.

Há alguns anos, minha esposa vinha falando em fazer uma tatuagem, mesmo defendendo que a mulher é dona do seu corpo e pode decidir sobre ele tentei impedir através de argumentos falaciosos que ela fizesse. Este problema tem muito haver como penso e encaro a arte de tatuar o corpo. Durante minha juventude esta pratica era popular entre desocupados, delinquentes, punks entre outras pessoas “discriminadas”. Era sinônimo de rebeldia e protesto e por razões sociais, já que a maior parte da sociedade não aprova as "tattoos,” terminei criando este Pré-conceito. Mesmo convivendo com toda esta carga moral, ainda tinha outro problema, ela é algo permanente. Um cabelo pintado de rosa, um piercing, um estilo de roupas podem simplesmente ser mudados, tatuagens não. Diante destes argumentos ela falou: "mas não existe laser?" Sim, mas é mais caro, demorado e dolorido do que fazê-las e não há garantia que a remoção será completa, principalmente de desenhos com pigmentos amarelos.

Vejo uma juventude tatuando o corpo como se este fosse uma caderneta de lembretes. Memorizam seus sucessos, seus amores e suas dores. Minha geração se relacionou com o corpo de forma diferente e tinha como respeito alguns cuidados para que envelhecesse saudavelmente. As únicas marcas que eram aceitáveis eram as rugas, símbolo dos anos que trilhamos nesta vida. Como entender o envelhecimento dessas pessoas, obrigadas a encarar para sempre o que viveram, pensou ou sentiram no passado. Não podemos negar que um número muito grande de pessoas termina fazendo tatuagens por influência dos amigos, da mídia, por estar na moda, como símbolo de status ou uma expressão artística. Mas o corpo não é uma tela em branco, aguardando para tornar perene o que era efêmero.

Vou ser sincero, acho simplesmente feio o excesso de tatuagens, naquele tipo que "você olha pra pessoa, a primeira coisa que vê é as tatuagens". Só acho feio, não como preconceito. Se for algo em menor número e quantidade, não vejo problemas, apesar de não querer para mim.

Hoje tenho consciência que sentir-se bem com a própria aparência vai muito além  do que a sociedade determina. Desta forma, os cuidados com a autoestima são essenciais para manter não só a nossa beleza externa, como também a nossa saúde mental. Por isto, entendo que devo desculpa a minha companheira por querer impor a ela uma estética que era minha os meus medos e as minhas preocupações em relação a esta decisão. O seu corpo transcende meus direitos. Tenho que admitir que os padrões de beleza hoje sejam outros e que a tatuagem para sociedade é vista de outra forma e aceita dentro dos novos padrões de beleza.

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