quarta-feira, 19 de outubro de 2022

ARTIGO - Lula e as alianças no 2º turno. (Padre Carlos)

 

Nosso barco não é a arca de Noé.

 



Nestes dias, lembrai a um amigo como a política impactou nas nossas vidas e tiveram uma influencia decisiva na nossa geração. Acredito que foi nesta hora que me vieram às palavras de Clarice Lispector: “O bonito me encanta. Mas o sincero, ah! Esse me fascina.” Falo isto porque na política não basta se encantar, ela é muito mais que encantamento, mais que interessante ela precisa dá sentido a nossa existência. Podemos defini-la como a ciência do governo dos povos, a arte de fazer o bem comum ou a arte de dialogar para construir consensos. Em princípio parece que sim, porém, na prática aparece diferente.

Foi pensando nisto que fui buscar as interpretações, como as que se seguem: do filósofo florentino Nicolau Maquiavel, “a política é a arte de enganar”; do escritor italiano Luciano Bianciardi, “a política… há muito tempo deixou de ser ciência do bom governo e, em vez disso, tornou-se arte da conquista e da conservação do poder”; do ensaísta lusitano Agostinho da Silva, “a política tem sido a arte de obter a paz por meio da injustiça”; do literato ateniense Arturo Graf, “a política é demais amiúde a arte de trair os interesses reais e legítimos, e de criar outros imaginários e injustos”; do poeta brasileiro Menotti del Picchia, “política é a arte de conciliar os interesses próprios, fingindo conciliar os dos outros”; do dramaturgo francês Louis Dumur, “política é a arte de nos servirmos dos homens, dando a entender que os servimos”.

Admito que a política seja o meio de se conquistar o poder e nele fazer as reformas necessárias que a sociedade tanto precisa. Uma frente democrática tem que ser mais que uma incompreensível aliança partidária e os acordos políticos, em que se unem direita e esquerda, socialistas e liberais, democratas e totalitários, e tantos grêmios antagônicos que abrem mão das suas doutrinas, para única e exclusivamente derrotar Bolsonaro e seu projeto fascista. Não podemos deixar os interesses do povo em segundo plano, prevalecendo os interesses pessoais de grupos e partidos.

As regras têm que valer tanto para o alto, como para o baixo clero, por isto, o mandato tem que ser temporário, constituindo o veículo de trabalho pelo bem comum da sociedade. Este não pode de modo algum torna-se o meio de vida permanente do político. Infelizmente em nosso país a Política passou a ser também profissão. Mais que isto, os mandatos viraram verdadeiras empresas com força superior as instancias partidárias, já que a montagem do novo governo é dividida pelo mapa de votação, por isto estes mandatos terminam administrando a maquina do governo naquela região, criando certo baronato. Esta forma de fazer política termina criando um circulo de dependência que vai de prefeitos, vereadores as lideranças comunitárias. É claro que os mandatos jamais poderia se esquecer dos familiares e amigos.

Como formar um arco de aliança com partidos que não têm ideologia, servindo seu programa apenas como uma fotografia numa moldura pendurada na parede. Pior, os partidos têm donos e a grande maioria deles é formada para dar sustentação aos desejos dos seus fundadores. São questões a serem revistas para a correção da deturpação de suas próprias finalidades. É por tal descompromisso com suas próprias bandeiras e pelo comportamento de desonestidade com a coisa pública que os políticos são desacreditados pelos cidadãos. Daí as acepções nesse sentido, como a do escritor português Eça de Queiroz, que disse: “políticas e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”; do político inglês Philip Chesterfield, “os políticos não conhecem nem o ódio, nem o amor. São conduzidos pelo interesse e não pelo sentimento”; do humorista brasileiro Millor Fernandes: “isto sim é que é Congresso eficiente! Ele mesmo rouba, ele mesmo investiga, ele mesmo absolve”.

Minha preocupação esta no fato que não podemos esquecer que os partidos políticos são grupos organizados de pessoas que comungam de ideais políticos semelhantes para promoverem o interesse nacional. Apesar de não existir em nosso país uma cultura republicana, capaz de defender e criar uma ética no trato da res pública, um dever de lealdade, de probidade, de boa-fé, nosso objetivo ao criar uma frente democrática precisa ser com o povo e as coisas púbica.

 


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