Gal Costa
(1945-2022), um cristal que se quebrou.
Apesar de a morte ser uma certeza, continua
nos surpreendendo quando chega sem aviso, como foi esta partida repentina de
Gal. A menina que marcou minha geração com o seu canto cristalino, partiu nesta quarta-feira. Para os
baianos, a notícia desta inesperada morte é sempre dolorosa pela forma como nos
relacionamos com este quarteto. A gente sempre tratou como: Gil, Betânia, Gal e
Caetano. É como se fossem amigos de várias décadas. Perdemos neste dia, um
pedaço da nossa História.
Não faz muito tempo, que li uma reportagem
onde ela falava dos mais de cinquenta anos de carreira. Falava da menina Gal, que gosta de sorrir, de dançar e de cantar. Perguntado se ela pensava em escrever suas
histórias, ela respondeu: “Escrever as minhas memórias? Sim, mas mais para
frente. Ainda tenho muitos planos”.
Sempre falava com orgulho do seu papel no
Tropicalismo e explicava a riqueza permanente da música do Brasil por onde passava
fruto da mistura de negros, índios e portugueses. Ninguém conhecia a menina
Maria da Graça, mas bastou uma só canção para fixar na memória coletiva a
identidade que a projetou no Brasil e no mundo: Meu nome é Gal. Em 1969, Gal
Costa, cintilante e de forma direta, declarava: “Meu nome é Gal, tenho 24
anos/Nasci na Barra Avenida, Bahia/Todo dia eu sonho alguém para mim/Acredito
em Deus, gosto de baile, cinema/Admiro Caetano, Gil, Roberto, Erasmo.” A lista
de referências continuava entre as estrelas da MPB. Quando eu escutava no
antigo vinil, ‘Meu Nome é Gal’, terceira faixa do álbum número três da baiana, me
vinha à mente aquela menina de meados da década de sessenta, quase meio século
depois. Ainda gosto de ouvir e lembrar aquele quarteto de baianos.
Na
verdade, estamos em choque é triste demais: Gal, já estou com saudade, aproveito
este texto para agradecer meio século de canções e gostaria de lembrar que seu
legado é uma das obras mais ricas e diversas da música popular brasileira.