Os bons não podem perder
Durante muitos anos fizeram com que acreditássemos
que aqui no Brasil se vivia um “paraíso mestiço” e que éramos um “povo cordial”,
por isto a democracia racial pode ser implantada nesta terra. Apesar de existir
um senso comum de que o nosso país é cordial a verdade é que não é. O
preconceito racial contra os negros e o xenofobismo com os nordestinos foram
estampados nas redes sociais após as eleições.
As vítimas são sempre as minorias ou os mais vulneráveis, como as
mulheres, negros, nordestinos e a comunidade LGBT. Como diz o poeta: “É que
Narciso acha feio o que não é espelho”.
Um dos fatos que chamaram nossa atenção foi
a indignação por tarte dos eleitores de utradireita contra o povo nordestino. As
ofensas contra os brasileiros que naasceram nesta região do país, passaram a tomar conta da mídia de uma
forma tão relevante e criminosa que, hoje os xenofóbicos não fazem a menor
questão de esconder seus crimes.
Estes preconceitos sucedem-se e, na época
da hiper comunicação, as denúncias são feitas, chocam a gente, geram indignação
e depois… acabou, passamos para o próximo episódio infeliz que, pode ser um
feminicídio, racismo ou xenofobismo. A luta contra a violência não tem
fronteira e muitas vezes não encontra apoio da sociedade que com seu silêncio e
omissão assiste a mais uma morte de uma mulher pelas mãos do seu marido,
ex-companheiro, namorado. A crise económica, e a pandemia, exacerbaram
comportamentos egoístas e centrados na necessidade de proteger o Eu, o que é
meu, as minhas posses, as minhas ideias.
São tempos perigosos em que o exercício do populismo
e do fascismo vingou e demoramos de reconhecer e combater. São tempos em que o
tecido moral das comunidades é exposto com maior transparência de atitudes e,
por isso, torna-se evidente o que é racismo, homofobia, discriminação, sexíssimo,
abuso. Nos últimos dias tivemos vários episódios desta natureza, que incendiaram
as redes sociais e as mídias em geral. Quantos foram cometidos sem que
chegassem ao conhecimento das autoridades?
Parece-me que no Brasil, infelizmente, a falta
de civismo, a falta de informação e os preconceitos andam cada vez mais à
solta. Talvez a questão não seja a identidade cultural de cada povo; os
brasileiros têm características admiráveis, talvez seja mesmo a matéria da qual
o ser humano é feito e, na contabilidade entre os bons e os maus, talvez os
bons – aqueles que se interessam, aprendem, não aceita os preconceitos, aceitam
o Outro e o diálogo – estejam perdendo. E assim perdemos todos.
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