terça-feira, 8 de novembro de 2022

ARTIGO - Nordeste volta a ser alvo de xenofobia (Padre Carlos)

 


Os bons não podem perder




Durante muitos anos fizeram com que acreditássemos que aqui no Brasil se vivia um “paraíso mestiço” e que éramos um “povo cordial”, por isto a democracia racial pode ser implantada nesta terra. Apesar de existir um senso comum de que o nosso país é cordial a verdade é que não é. O preconceito racial contra os negros e o xenofobismo com os nordestinos foram estampados nas redes sociais após as eleições.  As vítimas são sempre as minorias ou os mais vulneráveis, como as mulheres, negros, nordestinos e a comunidade LGBT. Como diz o poeta: “É que Narciso acha feio o que não é espelho”.

Um dos fatos que chamaram nossa atenção foi a indignação por tarte dos eleitores de utradireita contra o povo nordestino. As ofensas contra os brasileiros que naasceram nesta região do país, passaram a tomar conta da mídia de uma forma tão relevante e criminosa que, hoje os xenofóbicos não fazem a menor questão de esconder seus crimes.

Estes preconceitos sucedem-se e, na época da hiper comunicação, as denúncias são feitas, chocam a gente, geram indignação e depois… acabou, passamos para o próximo episódio infeliz que, pode ser um feminicídio, racismo ou xenofobismo. A luta contra a violência não tem fronteira e muitas vezes não encontra apoio da sociedade que com seu silêncio e omissão assiste a mais uma morte de uma mulher pelas mãos do seu marido, ex-companheiro, namorado. A crise económica, e a pandemia, exacerbaram comportamentos egoístas e centrados na necessidade de proteger o Eu, o que é meu, as minhas posses, as minhas ideias.

São tempos perigosos em que o exercício do populismo e do fascismo vingou e demoramos de reconhecer e combater. São tempos em que o tecido moral das comunidades é exposto com maior transparência de atitudes e, por isso, torna-se evidente o que é racismo, homofobia, discriminação, sexíssimo, abuso. Nos últimos dias tivemos vários episódios desta natureza, que incendiaram as redes sociais e as mídias em geral. Quantos foram cometidos sem que chegassem ao conhecimento das autoridades?

Parece-me que no Brasil, infelizmente, a falta de civismo, a falta de informação e os preconceitos andam cada vez mais à solta. Talvez a questão não seja a identidade cultural de cada povo; os brasileiros têm características admiráveis, talvez seja mesmo a matéria da qual o ser humano é feito e, na contabilidade entre os bons e os maus, talvez os bons – aqueles que se interessam, aprendem, não aceita os preconceitos, aceitam o Outro e o diálogo – estejam perdendo. E assim perdemos todos.

 

 


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