Confissões
de um padre
Quando entrei para o seminário tinha os
olhos voltados para o horizonte e o coração inquietos, buscava nas entranhas da
vida um sentido mais profundo, uma conexão com o sagrado que transcendesse as convenções sociais. A inquietação que me
trouxe a Vitória da Conquista me impelia a explorar as mais diversas fontes,
mergulhar nas águas turvas da religião, na reflexão profunda da filosofia e na
linguagem catártica da poesia. A espiritualidade se tornou o farol que me
guiava nessa jornada de busca, desafiando-me a transcender as aparências e
questionar as verdades tidas como absolutas.
Na religião, encontrei ritos e dogmas que
me embalavam em uma sensação de conforto e pertencimento. Mas, também enxerguei
as contradições, as dualidades que se escondiam por trás das fachadas
imponentes. Percebi que muitas vezes a fé era usada como moeda de troca, uma
forma de controle social, impondo normas e crenças que aprisionavam a liberdade
da alma. As máscaras religiosas caíram diante dos meus olhos atentos, revelando
uma verdade mais complexa e profunda.
Foi na filosofia que encontrei um terreno
fértil para minha inquietação. As reflexões abstratas e os questionamentos
sobre a existência me levaram a mergulhar nas reflexões do pensamento humano. Percebi
que a busca pela verdade era uma jornada solitária, uma caminhada em meio às
reflexões e ambiguidades da condição humana. As filosofias se entrelaçaram em
uma dança de dualidades, onde o ser e o nada, o bem e o mal, o finito e o
infinito se entrelaçaram em uma complexa teia de significados.
Mas foi na poesia que encontrei uma
linguagem que transcendeu as limitações do pensamento lógico, uma forma de
expressão que evocava o sublime e o sagrado de forma visceral. As palavras se
tornaram notas em uma sinfonia de sentidos, criando imagens que desafiavam a
mente e tocavam a alma. A poesia me convidava a mergulhar nas fechaduras da
minha própria essência, a explorar as emoções e os sentimentos que habitavam em
mim, muitas vezes esquecidos nas convenções sociais e nas expectativas
impostas.
Foi assim que a espiritualidade se tornou
para mim uma busca constante, uma jornada em busca de um sentido mais profundo
na vida. Uma busca que me convidava a questionar as aparências e enxergar além
do véu das convenções. Uma busca que me confrontava com minhas próprias
dualidades, minhas contradições internas, e me convidava a integrar os opostos
em uma dança harmoniosa. A espiritualidade se tornou um convite para olhar para
dentro de mim, para encontrar o divino que habita em meu ser.
E assim, em meio a essa jornada, me vi
questionando as convenções sociais que me cercavam. Percebi que muitas das
normas e expectativas impostas pela sociedade eram apenas ilusões, camuflagens
que escondiam a verdadeira natureza do ser humano.