quinta-feira, 29 de junho de 2023

ARTIGO - “Mãe querida, nem precisa ir tão longe, como no teu hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e o pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico”.. (Padre Carlos)

 


  “Despediu os ricos de mãos vazias.” (Lucas 1,53)

 


O cântico de Maria, conhecido como Magnificat, é um dos textos mais belos e proféticos da Bíblia. Nele, Maria expressa sua gratidão e louvor a Deus por sua eleição como mãe do Salvador, mas também anuncia a revolução que Deus está realizando na história humana. Uma revolução que implica uma profunda inversão dos valores que regem o mundo.

Como teólogo, eu diria que o cântico de Maria expressa a vontade de Deus de libertar os pobres e oprimidos da opressão dos ricos e poderosos. Essa declaração não é somente um testemunho de um acontecimento histórico, mas uma proclamação profética das estruturas de pecado que produzem a desigualdade e a injustiça social. Maria nos chama hoje, assim como chamou aqueles bispos há quase sessenta anos em Roma, a descer até as catacumbas para fazer um pacto profundo e uma opção, tomando consciência da situação dos excluídos e a nos solidarizar com eles.

Essa afirmação também é uma convocação à conversão e à transformação. Maria nos desafia a questionar os valores dominantes da sociedade, que idolatram o dinheiro, o poder e o prestígio. Ela nos propõe uma nova escala de valores, baseada no amor, na justiça e na fraternidade. Ela nos chama a seguir o exemplo de seu Filho Jesus, que se fez pobre entre os pobres e veio para servir e não para ser servido.

Essa inversão de valores não é apenas uma questão individual, mas também coletiva e política. Maria nos convoca a participar da construção do Reino de Deus na terra, um reino onde os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Um reino onde os ricos serão chamados a partilhar seus bens com os pobres e os pobres serão exaltados em sua dignidade e liberdade.

Essa é a proposta teológica de libertação que Maria nos faz em seu cântico. Uma proposta que nos inspira a viver como discípulos e discípulas de Jesus Cristo, comprometidos com a causa dos pobres e marginalizados. Uma proposta que nos desafia a sermos agentes de mudança em nosso mundo, lutando por uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.


ARTIGO - Placar atual do Piso da Enfermagem. (Padre Carlos)

 


 

Uma questão de justiça e dignidade

 


          A votação do plenário virtual do Supremo Tribunal Federal sobre o piso nacional da enfermagem está empatada em 2 a 2, com os votos favoráveis dos ministros Edson Fachin e Rosa Weber, e os contrários de Alexandre de Moraes e Dias Toffoli. Ainda faltam seis ministros para definir o destino de milhares de profissionais que atuam na linha de frente do combate à pandemia de Covid-19 e que sofrem com a precarização das condições de trabalho e a remuneração indigna.

          O piso nacional da enfermagem foi estabelecido pela Lei 13.708/2018, que fixou o salário mínimo dos enfermeiros em R$ 7.315,00, dos técnicos de enfermagem em R$ 5.120,00 e dos auxiliares de enfermagem e parteiras em R$ 3.657,00. No entanto, a lei nunca foi cumprida, pois foi suspensa por uma liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski em 2019, atendendo a um pedido da Confederação Nacional dos Municípios, que alegou que a norma violava a autonomia dos entes federados e comprometia o equilíbrio fiscal.

          A liminar foi contestada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e pela Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE), que argumentaram que a lei era constitucional e necessária para valorizar a categoria e garantir a qualidade da assistência à saúde da população. Eles também apontaram que a enfermagem é composta majoritariamente por mulheres, negras e pobres, que sofrem com a discriminação e a exploração no mercado de trabalho.

          O julgamento do mérito da liminar começou no dia 23 de junho e deve terminar no dia 2 de julho. Até agora, apenas quatro ministros se manifestaram, sendo que dois reconheceram o direito dos profissionais da enfermagem ao piso nacional e dois negaram. Os demais ministros têm até sexta-feira para votar e definir se a lei será finalmente aplicada ou se continuará suspensa.

          A decisão do STF é crucial para o futuro da enfermagem no Brasil, que é uma das maiores forças de trabalho do país, com mais de 2 milhões de profissionais registrados. Esses trabalhadores são essenciais para o funcionamento do sistema de saúde e para o enfrentamento da crise sanitária provocada pelo coronavírus, que já matou mais de 500 mil brasileiros e infectou mais de 18 milhões.

          A enfermagem merece respeito, reconhecimento e valorização. O piso nacional é uma questão de justiça e dignidade para esses profissionais que dedicam suas vidas a cuidar da saúde das pessoas. O STF tem a oportunidade histórica de corrigir uma injustiça social e garantir um direito legítimo da categoria. Esperamos que os ministros votem com consciência e sensibilidade, em favor da enfermagem e da sociedade brasileira.

 


quarta-feira, 28 de junho de 2023

ARTIGO - Fux desafia a Constituição e o Congresso ao votar contra o juiz das garantias. (Padre Carlos)

 Fux propõe solução inconstitucional e insegura 




         A decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), de votar contra a obrigatoriedade do juiz das garantias, após travar o julgamento por três anos, é um grave atentado à separação dos poderes e ao devido processo legal. O juiz das garantias é uma figura criada pelo pacote anticrime, aprovado pelo Congresso em 2019, que prevê que um magistrado diferente conduza a investigação e o julgamento de um processo criminal, evitando assim possíveis parcialidades ou vícios.

            O ministro Fux, que é relator de três ações diretas de inconstitucionalidade contra o juiz das garantias, concedeu uma liminar em janeiro de 2020 suspendendo a implantação do modelo, alegando que ele demandaria uma reestruturação do Judiciário e que não havia previsão orçamentária para isso. Desde então, ele manteve o julgamento suspenso, impedindo que o plenário do STF se manifestasse sobre o tema.

            Na última quarta-feira (28), Fux finalmente apresentou seu voto, no qual defendeu que cada tribunal pode decidir se opta ou não pelo juiz das garantias, conforme sua conveniência e disponibilidade. Ou seja, ele propôs uma solução que fere o princípio da isonomia e cria uma insegurança jurídica para os réus, que podem ter tratamentos diferentes dependendo da região onde forem julgados.

               Além disso, Fux ignorou os argumentos favoráveis ao juiz das garantias, que foram expostos pelos ministros Marco Aurélio Mello e Rosa Weber em seus votos anteriores. Ambos destacaram que o modelo é compatível com a Constituição e com os tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário, e que visa garantir a imparcialidade do juiz e o contraditório na fase de investigação.

            A decisão de Fux revela uma postura autoritária e antidemocrática, que desrespeita a vontade do legislador e interfere na autonomia dos demais tribunais. Além disso, ele demonstra uma resistência em adotar medidas que possam aprimorar o sistema de justiça criminal e evitar abusos ou arbitrariedades. O juiz das garantias é uma conquista da sociedade brasileira, que não pode ser negada por um ministro que se julga acima da lei.

Juiz relator vota pela inelegibilidade por oito anos de Jair Bolsonaro A inelegibilidade de Bolsonaro. (Padre Carlos)

 

A inelegibilidade de Bolsonaro

 




          No cenário político atual do Brasil, um importante capítulo se desenrola no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o juiz relator, Benedito Gonçalves, proferindo seu voto contundente a favor da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro pelos próximos oito anos. Essa decisão marcante surge como resposta aos abusos de poder político e ao uso indevido dos meios de comunicação cometidos por Bolsonaro durante sua campanha eleitoral.

          O discurso do juiz Gonçalves foi repleto de palavras fortes, enfatizando a necessidade de não fecharmos os olhos para os efeitos antidemocráticos decorrentes de discursos violentos e de propagação de mentiras. O magistrado ressaltou que tais atitudes colocam em xeque a credibilidade da justiça eleitoral e corroem os alicerces fundamentais da democracia.

         O episódio que levou à inelegibilidade de Bolsonaro teve como marco uma reunião realizada pelo então presidente no Palácio da Alvorada, em plena campanha eleitoral, no dia 18 de julho de 2022. Nesse encontro, transmitido pela televisão estatal TV Brasil e nas redes sociais, Bolsonaro lançou ataques infundados à confiabilidade do processo eleitoral brasileiro, especialmente em relação às urnas eletrônicas.

          Sem apresentar provas concretas, Bolsonaro levantou dúvidas sobre a possibilidade de fraude no sistema eleitoral, questionando a transparência e a auditabilidade das urnas eletrônicas, mesmo que essas tenham sido validadas por organizações internacionais e o próprio TSE ao longo dos anos. O ex-presidente afirmou, de forma irresponsável, que um suposto hacker teria tido acesso a informações sigilosas dentro do TSE.

          Para o juiz relator, essa reunião teve clara finalidade eleitoral, visando influenciar o eleitorado e a opinião pública nacional e internacional por meio do uso da estrutura pública e das prerrogativas do cargo de presidente da República. O abuso de poder político e a manipulação dos meios de comunicação tornaram-se evidentes, comprometendo a lisura do processo eleitoral e minando a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas.

          Nesse contexto, o pedido da defesa de Bolsonaro para que fosse retirada do processo a chamada 'minuta golpista', um decreto que visava reverter o resultado das eleições promovendo uma intervenção no tribunal eleitoral, foi rejeitado pelo juiz relator. Esse decreto, segundo o magistrado, revela a essência do golpismo e representa uma clara ameaça à democracia.

          O julgamento terá sua conclusão na próxima quinta-feira, com os votos dos juízes Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques, André Ramos Tavares, Cármen Lúcia, Nunes Marques e, por último, Alexandre de Moraes, presidente do TSE. A expectativa é que o ministro Raul Araújo, conhecido por sua adesão estrita à lei, possa trazer sua perspectiva no desfecho do caso.

          Caso Bolsonaro seja considerado inelegível, é importante ressaltar que essa condenação requer o voto favorável de, pelo menos, quatro juízes. No entanto, existe a possibilidade de algum dos sete juízes solicitar vista do processo, o que implicaria na devolução dos autos para retomada do julgamento em um prazo de 30 dias, podendo ser renovado por mais 30 dias. Considerando o encerramento dos tribunais superiores em julho, o prazo pode ser estendido para 90 dias.

         Diante desse cenário, o advogado de defesa Tarcísio Vieira de Carvalho Neto já anunciou que, caso Bolsonaro perca o processo e seja declarado inelegível, irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). Esse movimento mostra a disposição da defesa em utilizar todas as instâncias possíveis para reverter a decisão do TSE.

          Vale ressaltar que Jair Bolsonaro enfrenta mais de uma dúzia de processos em tramitação no TSE, envolvendo desde ataques verbais ao sistema eleitoral até o uso indevido da máquina pública em benefício próprio. Esses processos representam uma ameaça aos seus direitos políticos e podem resultar em sua inelegibilidade.

          Além das questões relacionadas ao TSE, Bolsonaro também enfrenta pelo menos cinco investigações no Supremo Tribunal Federal, as quais têm o potencial de levá-lo à prisão. Essas investigações envolvem uma série de acusações que vão desde disseminação de fake news até o incentivo a atos antidemocráticos.

       Diante desses desdobramentos jurídicos, o desfecho do julgamento no TSE ganha relevância não apenas para o destino político de Jair Bolsonaro, mas também para a estabilidade democrática do Brasil.

 

ARTIGO - A necessidade de uma Igreja em constante renovação. (Padre Carlos)

 


Por uma Igreja em contínua transformação

 


A Igreja Católica enfrenta, desde o início das primeiras comunidades, diversos desafios e mudanças. Em cada época, ela teve a necessidade de se adaptar às novas realidades sociais, culturais e políticas, sem perder a sua identidade e missão. No entanto, nestes tempos difíceis em que vivemos, é preciso refletir sobre como a Igreja pode se renovar e dialogar com o mundo contemporâneo, respondendo aos seus anseios e problemas.

Um dos desafios que a Igreja enfrenta hoje é a resistência de alguns setores que se opõem ao Papa Francisco e à sua proposta de uma Igreja mais aberta e inclusiva. Segundo o livro “VaticanGate”, de Vicens Lozano, há uma conspiração contra o Papa, financiada por grupos conservadores da Espanha, Itália e Estados Unidos. Esses grupos querem a renúncia do Papa e o retorno a uma “Europa cristã” anterior ao Concílio Vaticano II, que promoveu uma grande reforma na Igreja na década de 1960.

Gostaria de lembrar ao leitor, que a Igreja não existe para si mesma, mas para anunciar a presença de Cristo no mundo e testemunhar que Ele é nosso contemporâneo em todas as dimensões da vida. A Igreja deve ser um espaço de acolhimento, diálogo e transformação, capaz de se adaptar aos desafios do presente, sem perder de vista os valores fundamentais do Evangelho.

O Concílio Vaticano II foi o acontecimento mais importante para a história da  Igreja no Séc. XX, pois buscou uma renovação e abertura para o mundo moderno. Ao promover uma maior participação dos leigos, incentivar o diálogo inter-religioso e reconhecer a importância da inculturação, o Concílio reafirmou a necessidade de uma Igreja em constante renovação.

Não podemos negar que  a resistência a mudanças e a defesa de uma Igreja tradicional podem ser compreendidas como um receio diante das transformações sociais e culturais que ocorrem no mundo. No entanto, é essencial que a Igreja esteja aberta ao diálogo com a sociedade, buscando compreender suas demandas e contribuir para a construção de um mundo mais justo e fraterno.

O Papa Francisco tem se destacado por sua postura de abertura e seu apelo por uma Igreja mais inclusiva, solidária e voltada para os mais necessitados. Sua preocupação com as questões sociais, como a pobreza, a desigualdade e as crises humanitárias, tem sido um sinal de esperança em um mundo marcado por divisões e conflitos.

Diante desse contexto, é fundamental que os fiéis e a própria hierarquia eclesiástica apoiem e promovam uma Igreja em constante transformação. Isso implica em estar atento aos desafios da contemporaneidade, dialogar com as diferentes realidades culturais e religiosas, e buscar respostas pastorais que sejam relevantes e significativas para as pessoas de hoje.

Quero deixar claro, que uma Igreja em contínua transformação não precisa abandonar as tradições e valores fundamentais, mas sim reinterpretá-los à luz dos tempos e das necessidades do mundo em que vivemos. Isso implica em uma atitude de escuta, acolhimento e abertura às mudanças necessárias para uma melhor evangelização e serviço aos outros.

A Igreja deve ser um espaço de encontro e diálogo, onde todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas. Isso inclui a participação ativa dos leigos, homens e mulheres, em todas as esferas da vida eclesial, desde as comunidades locais até os processos de tomada de decisão em nível mais amplo. É preciso reconhecer e valorizar os dons e talentos de cada pessoa, permitindo que todos contribuam com sua experiência e perspectiva para o crescimento e renovação da Igreja.

Além disso, é fundamental que a Igreja esteja atenta aos desafios éticos e sociais do nosso tempo. Questões como a justiça social, a proteção do meio ambiente, a defesa dos direitos humanos e a promoção da paz devem estar no centro da ação evangelizadora. A Igreja tem o potencial de desempenhar um papel significativo na transformação do mundo, se souber ser fiel ao seu carisma e à sua vocação.

A Igreja é chamada a ser uma comunidade de discípulos e discípulas de Jesus, que seguem o seu exemplo de amor, serviço e compaixão. Para isso, é preciso estar em constante renovação, buscando sempre a fidelidade ao Evangelho e a sintonia com os sinais dos tempos. Somente assim, a Igreja poderá ser uma luz para o mundo e um fermento para a sociedade.

 


terça-feira, 27 de junho de 2023

ARTIGO - Anos Dourados: O Surgimento de uma nova esquerda. (Padre Carlos)

 


Efervescência do Movimento Estudantil

 


No calor dos anos 80, quando o Brasil ainda lutava para  se libertar da ditadura militar, nascia um partido político que parecia mais um sindicato ou com o movimento estudantil. Este partido começava a ganhar força e conquistar corações e mentes. Era o Partido dos Trabalhadores (PT). Naquela época o partido parecia mais  um guarda-chuva onde era  acolhido diversas organizações de esquerda em busca de um ideal comum. Essa época também ficou marcada pelos chamados "anos dourados", do movimento estudantil e como a maioria dos militante vinha das universidades é interessante relembrar um momento histórico ocorrido em 1981, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que mostrou o protagonismo e a efervescência do movimento estudantil daquela época.

Dois eventos foram particularmente emblemáticos: o Encontro Nacional dos Estudantes de Pedagogia e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ambos atraíram jovens de diversas partes do país, que buscavam intercâmbio de ideias, debates acalorados e, acima de tudo, uma voz ativa na construção de uma nova realidade política.

No Encontro Nacional dos Estudantes de Pedagogia, a UFBA se tornou o palco de uma verdadeira confluência de ideias e experiências. Os padre Jesuitas abriram suas portas para a embaixada do Pará e hospedou estudantes em paróquias e casas de conhecidos, fortalecendo os laços de solidariedade e fraternidade entre os participantes. Nesse contexto, o movimento estudantil despontava como uma promissora organização, uma vez que acolhia diferentes grupos e tendências de esquerda, sendo um verdadeiro ponto de convergência para aqueles que ansiavam por mudanças profundas na sociedade.

Já a SBPC trouxe consigo o clamor pelo fim da ditadura, representando um grito de resistência e liberdade. O clima de mobilização e esperança era tangível, impulsionado por um movimento estudantil vigoroso, ávido por mudanças sociais e políticas. As festas nas residências estudantis ou em estabelecimentos locais se tornaram momentos de descontração e união, onde se dançava ao som de Elba Ramalho, Alceu Valença e Luiz Gonzaga. O Nordeste estava em alta, e o sotaque nordestino encantava a todos, tornando-se uma marca de sucesso e identificação.

Nesse contexto, dois partidos exerciam papéis relevantes: o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Comunista Brasileiro (o antigo "Partidão"). O PCdoB contava com uma grande  influência e uma máquina organizativa "Viração" se estruturava dentro da tendência popular no antigo MDB. Enquanto isso, o "Partidão" apresentava uma estrutura mais profissionalizada e organizada, tendo consolidado sua presença no cenário político nacional. Já o PT, em seus primeiros anos, funcionava como uma força aglutinadora dessas diversas organizações de esquerda. Os grupos eram identificados por seus jornais ou pela sua origem. Assim, tínhamos o pessoal  do PCBR, que era indentificar como o  pessoal do Povão, o pessoal de Macarrão, os independentes, o pessoal do 113 e o pessoal do racha e etc. Cada grupo trazia consigo suas próprias perspectivas e propostas, mas todos compartilhavam o anseio por justiça social e transformação.

Essa efervescência política e cultural dos anos dourados refletia a energia de uma juventude engajada, sedenta por participação e por moldar o futuro do país. O ambiente universitário proporcionava um espaço propício para debates acalorados, troca de experiências e formação de consciência política. Era uma época em que os estudantes se sentiam empoderados, cientes de que poderiam influenciar e transformar a realidade ao seu redor.

Nesse contexto, a UFBA assumiu um papel central, abrindo suas portas e corações para receber estudantes de todo o Brasil. As paróquias e as casas de conhecidos se tornaram abrigos para os jovens viajantes, criando laços de amizade e solidariedade que ultrapassavam as fronteiras geográficas. A troca de experiências e ideias fortalecia a união entre os participantes, consolidando um espírito de coletividade e um senso de pertencimento a um movimento maior.

O PT, como um guarda-chuva das organizações de esquerda, desempenhava um papel fundamental naquela época. Era um espaço de convergência, onde diferentes ideologias e grupos se encontravam para construir uma agenda política comum. O partido se destacava por sua capacidade de unir as demandas e aspirações das diversas correntes de pensamento, consolidando-se como uma alternativa real de transformação social.

Além da política, a cultura também desempenhava um papel importante nesse momento histórico. A música, em especial a música nordestina, servia como trilha sonora para os encontros e festas, expressando a diversidade e a riqueza cultural do país. Os ritmos de Elba Ramalho, Alceu Valença e Luiz Gonzaga embalavam as noites de celebração, tornando-se símbolos de uma identidade que se fortalecia e se afirmava.

Os anos dourados do movimento estudantil representaram um momento de efervescência, de luta e de esperança. Foi uma época em que os jovens se uniram em prol de uma sociedade mais justa e igualitária, deixando de lado diferenças e divergências em nome de um ideal maior. Embora o tempo tenha passado e muitas transformações tenham ocorrido desde então, é importante lembrar desse período como um marco na história política e social do Brasil, que demonstrou a força e a capacidade de mobilização de uma juventude determinada a mudar o mundo.

Hoje, olhando para trás, podemos refletir sobre o legado deixado por aqueles jovens. O movimento estudantil daquela época plantou sementes de conscientização e ativismo que deram muitos frutos e  continuam a florescer até os dias de hoje.


ARTIGO - A disputa política entre PT e PCdoB em Vitória da Conquista.

 


Quem manda afinal?



 

Introdução: A declaração do presidente municipal do PT, Isaac Bonfim, sobre a não aceitação de vereadores do PCdoB que não fizeram oposição à prefeita Sheila Lemos (UB), tem gerado intensa polêmica na cidade de Vitória da Conquista. As palavras de Bonfim levaram o deputado estadual Fabrício Falcão, principal liderança do PCdoB na região, a rebater com veemência a afirmação do presidente do PT, reforçando a independência política da legenda comunista. A tensão entre os partidos da mesma federação política está cada vez mais evidente e levanta questionamentos sobre quem realmente detém o poder de decisão na região.

A independência política do PCdoB: Em entrevista ao UP Notícias, o deputado Fabrício Falcão deixou claro que o PT não possui o controle sobre as decisões do PCdoB. Ele ressaltou que a federação política é um instrumento criado pelas mudanças nas leis eleitorais, que funciona como partido para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas mantém sua autonomia em relação ao PT. Falcão enfatizou que cada partido tem seu próprio CNPJ e vida programática independente, sendo os presidentes responsáveis pela liderança de suas respectivas legendas. O deputado afirmou categoricamente: "O PT não manda no PCdoB e vice-versa. Nenhum idiota de fora pode falar pelo PCdoB e não falará!".

A defesa do PCdoB: Élvio Magalhães, um dos dirigentes do PCdoB, também se manifestou contra a declaração de Isaac Bonfim. Magalhães destacou que os vereadores Luciano da Limeira, Doutor Andreson e Ricardo Babão, representantes do PCdoB na Câmara de Vitória da Conquista, serão candidatos à reeleição pelo partido. Ele ressaltou a confiança que o PCdoB deposita nesses vereadores, destacando sua contribuição para a expressiva votação obtida pelo deputado Fabrício Falcão, assim como para a vitória do governador Jerônimo e do presidente Lula em 2022. Essa postura reforça a independência do PCdoB em relação às decisões do PT.

A indicação de Waldenor Pereira: Em relação à possível indicação do deputado federal Waldenor Pereira para encabeçar a chapa majoritária na disputa pela Prefeitura de Vitória da Conquista, Fabrício Falcão demonstrou que as discussões caminham alinhadas nesse sentido. O deputado ressaltou a tranquilidade e a competência de Waldenor Pereira, afirmando que ele é um nome decidido dentro do PT e que possui condições para tal posição. Essa declaração sinaliza um possível consenso entre os partidos, mesmo diante das tensões recentes.

Conclusão: A disputa política entre PT e PCdoB em Vitória da Conquista tem gerado intensas polêmicas e levanta questões sobre a verdadeira autonomia dos partidos dentro da federação política. A afirmação do presidente municipal do PT, Isaac Bonfim mostra uma postura de controle sobre as indicações dos vereadores do PCdoB, o que foi prontamente rebatido pelo deputado Fabrício Falcão, deixando claro que o PT não possui o poder de decisão sobre o PCdoB. Afirmou-se que cada partido tem sua própria liderança e autonomia para decidir seus candidatos e estratégias políticas.

A independência política do PCdoB foi enfatizada por Falcão, destacando que nenhum "idiota de fora" pode falar pelo partido, deixando claro que a voz do PCdoB é determinada por seus presidentes e pela sua direção. Essa postura assertiva reforça a ideia de que o PCdoB não está disposto a aceitar interferências externas em suas decisões internas.

Em relação à possível indicação de Waldenor Pereira para a chapa majoritária na disputa pela Prefeitura de Vitória da Conquista, Fabrício Falcão demonstrou que as discussões estão caminhando em direção a um consenso. Elogiou Waldenor como um nome tranquilo e um grande parlamentar, o que indica uma possível aproximação entre os partidos mesmo diante das tensões recentes.

A disputa política entre PT e PCdoB em Vitória da Conquista reflete uma dinâmica complexa dentro da federação política em que estão inseridos. Apesar de fazerem parte da mesma coalizão, os dois partidos reafirmaram sua independência e autonomia em relação às decisões um do outro. Essa tensão revela as divergências internas e a busca por consolidar suas próprias identidades políticas.

A divergência entre o PT e o PCdoB também traz à tona uma questão mais ampla: a importância de preservar a autonomia e a diversidade dentro das coalizões políticas. Embora a união de diferentes partidos em uma federação seja uma estratégia para fortalecer a representatividade política, é crucial que cada legenda mantenha sua identidade e voz própria, sem interferências externas.

Nesse sentido, é importante que o PT e o PCdoB em Vitória da Conquista encontrem um terreno comum, estabelecendo canais de comunicação eficientes e espaços de diálogo que permitam a construção de consensos. É preciso que ambas as legendas estejam abertas ao diálogo e à negociação, colocando os interesses da cidade e de seus eleitores em primeiro lugar.

Portanto, é hora de PT e PCdoB em Vitória da Conquista buscarem uma conciliação, pautada pelo diálogo, pela busca de entendimento e pelo respeito mútuo. Somente assim será possível construir uma relação saudável e produtiva dentro da federação política, em que cada partido possa exercer sua autonomia e contribuir para o desenvolvimento da cidade. A população de Vitória da Conquista espera que seus representantes políticos trabalhem juntos em prol do bem comum, superando divergências e promovendo a construção de uma sociedade mais justa e democrática.


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...