Os ídolos de barro
O que leva um cidadão comum a
eleger uma personalidade como o seu ídolo? A pergunta me veio à cabeça depois
de ver
pessoas no mundo do esporte e das telenovelas, se comportando como se não tivesse
responsabilidade com o imaginário do seu povo. A cada dia me convenço que somos
verdadeiramente um país de Macunaímas (o herói sem caráter).
Pelé, 52 anos atrás, quando marcou o milésimo gol, disse
aos jornalistas que perguntaram: a quem você dedica esta conquista? “Dedico
este gol às criancinhas pobres do Brasil. A gente tem de olhar para elas.”
Depois de cinqüenta anos, ainda não entendo como alguém pode sentir carinho
pelas crianças pobres e não entender que a maior pobreza é o abandono.
Faço
parte de uma geração que viu a Seleção Brasileira conquistar o tricampeonato da
Copa do Mundo. Com Zagallo como treinador, ele teve ousadia de reunir no mesmo
time uma legião de Craques da camisa 10 em seus clubes. Tratava-se de gênios da
bola, não de ídolos , este é nosso erro. Tive a oportunidade de ver em atividade o
maior jogador do Brasil e até mesmo do mundo.
Quando a TV mostrou o rei, aquele ídolo para
muitos, sendo obrigado a fazer o DNA e registrar a filha Sandra, após recorrer
por 13 vezes em 6 anos, me veio suas palavras no milésimo gol. “as criancinhas
pobres do Brasil.”
Quando assistir o desespero desta filha pedindo
ao “pai” para visitá-la, quando estava internada com câncer terminal e ele não
atendeu, passei a entender que um ídolo se faz com gestos concretos, não com
retórica: “as criancinhas pobres do Brasil”
De todos os exemplos do herói sem caráter no país de Macunaímas, o que me revoltou mais,
foi quando a imprensa revelou que o “pai” não apareceu nem no velório da filha
e ainda justificou a ausência porque nunca teve sentimento por ela.