terça-feira, 30 de abril de 2019

Amigo não é coisa e se guarda no coração

Amigo não é coisa e se guarda no coração


Quantos amigos eu posso afirmar que tenho realmente? Poucos, pouquíssimos! Os dedos de uma mão podem ser mais do que suficiente para contar as amizades verdadeiras que conseguir conquistar ao longo da minha vida. Claro, que posso contar inúmeros colegas, pessoas mais próximas, etc. Mas amigos de verdade são raros, e durante as crises que tenho enfrentado tomei consciência que elas não afastaram meus amigos, apenas selecionaram.

Diante destes questionamentos, passei a catalogar as amizades em todas as fases da minha vida. Há os amigos da infância, da adolescência, da época de seminários da militância política etc. Os caminhos que foi percorrendo em minha trajetória de vida, nem sempre permitiu manter tais amizades. Assim no meu caso: as mudanças de cidades e bairros me fizeram perder contato. A distância geográfica, o distanciamento, as condições de comunicação foram outros fatores que reduziram basicamente o encontro com os amigos. Para ilustrar o que estou falando, é preciso dizer que não havia internet, e-mail, facebook, nem mesmo telefone residencial (imagino que hoje é muito mais fácil manter contato com os amigos distanciados geograficamente). Confesso que tenho tentado e conseguido refazer alguns contatos, mas na maioria, restam apenas às recordações, as doces lembranças de uma época.

Por onde andará o meu amigo de infância do bairro da Pituba, quando este era um balneário onde a classe média passava as férias. E o amiga que estimulou os meus primeiros passos na militância política ? Onde estarão os amigos do tempo da Pastoral Operária, da militância no núcleo de base do PT no Nordeste de Amaralina (Salvador.) Por onde andarão os amigos do Seminário de Filosofia (Vitória da Conquista) e Teologia (Belo Horizonte)?
Os amigos estão presentes, seja nas recordações ou nas possibilidades do reencontro. O certo é que uma verdadeira amizade permanece, ainda que o tempo e as condições dificultem ou impossibilitem o encontro físico. O advento da internet permitiu reencontrar alguns, mas o passar dos anos revelou-se desgastante. Tentei resgatar e manter contato, mas as respostas nem sempre foram positivas – e, em alguns casos, prevaleceu o silêncio. Compreendo, não somos mais o que fomos no passado; nos transformamos, somos outros em novas realidades e com novas amizades – ainda que o que vivemos resista em nós, um passado que teima em se fazer presente.


As potencialidades da comunicação via internet não mudaram o que já estava sedimentado. Em outras palavras, as amizades do passado parecem ter parado no tempo – o reencontro via Facebook, por exemplo, não mudou o caráter nem a qualidade das mesmas. A presença dos amigos via virtual não supriu a ausência real. O tempo e a distância geográfica, além daquela construída pela diferença dos caminhos percorridos, produziram efeitos nem sempre positivos. Embora a amizade permaneça, guardada afetuosamente em algum lugar do eu, ela não é vivenciada. Ficaram apenas as recordações, porém significativas.

Comecei a refletir sobre tudo isto, sobre as vantagens e desvantagens de ter um perfil com milhares de “amigos”. Quais os interesses? O que há de comum entre nós? Os amigos pessoais, conhecidos e aqueles com os quais estabeleci uma relação mais intensa, ainda que no âmbito virtual, estavam “perdidos” entre tantos. Então, comecei a ser mais criterioso, mais seletivo. Percebi o trabalho e dificuldade de selecionar os “amigos”.
Quantos aos amigos reais espero reencontrá-los pessoalmente ou mesmo no âmbito virtual. O mais importante, porém, é que os sentimentos de amizade permanecem vivos. Inovações tecnológicas são fundamentais, mas não mudam o essencial! O tempo, à distância e a ausência de contato não suprimiram a amizade. Ainda que ausentes e distantes geograficamente, os amigos permanecem presentes. Apesar das dificuldades, consegui manter contato com alguns deles e não esqueci os que não vejo há anos!
Afora o passado, há o presente, o tempo em que vivemos. Neste, é fundamental as amizades construídas em Vitória da Conquista e na vida nos últimos anos. Triste do indivíduo que não tem amigos reais, ainda que os dedos das mãos sejam suficientes para contá-los. Para ter milhares de amigos virtuais bastam apenas alguns clicks; para perdê-los também. No entanto, é muito mais complexo ter amizades reais e duradouras! O importante é saber discernir bem os amigos e “amigos”, realidade e virtualidade!
Padre Carlos

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