O
diaconato feminino. Uma questão em aberto.
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Quando passamos a
conviver com um presbitério, ou mesmo com um clero de determinada diocese,
percebemos que a ordenação de mulheres enfrenta hoje uma resistência muito mais
de caráter cultural, do que históricas e, até, teológicas.
Aconteceu o mesmo com o acesso das
mulheres para assumir papéis de liderança na sociedade, na economia e na
política. Até a década de quarenta do século passado, podemos constatar que a presença
de mulheres estava limitada a setores da nossa economia e não exercia algumas
atividades os quais só eram reservadas os homens: hoje não existe mais esta
separação e em quase todos os setores econômicos encontramos a presença
feminina.
Em muitos casos, as mulheres tornaram-se
maioritárias, como na docência nas universidades e politécnicos. Nos cargos de
gestão, porém, os homens continuam a ter uma presença preponderante.
Em agosto de 2016 o Papa Francisco
criou a Comissão Pontifícia para o Diaconato Feminino, com o objetivo de
estudar se, no passado, as mulheres já teriam sido ordenadas diáconos. No final
do ano passado, a comissão entregou ao Papa as suas conclusões, que ainda não
foram tornadas públicas.
Segundo os pesquisadores: Phyllis
Zagano, professora de espiritualidade na universidade americana de Hofstra, em
Hempstead, Nova Iorque, e o padre jesuíta Bernard Pottier, docente no Institut
d"Etudes Théologiques de Bruxelas, na Bélgica." Ambos estudam há
décadas a questão da ordenação de mulheres. Não têm dúvidas de que já foram
ordenadas diáconos no passado, sustentando que há razões teológicas para serem
novamente admitidas ao diaconato, como acontece noutras igrejas cristãs não
católicas. Não impõem as suas convicções ao Papa no relatório entregue, mas,
nas suas declarações à Agência Ecclesia, transparece o desejo de que ele atue
no sentido da restauração do diaconato no feminino, deixando algumas sugestões.
Há mais de 50 anos, podemos
presenciar a participação de leigos e leigas, pregando a Boa Nova nas
Comunidades Eclesiais de Base a Celebração da Palavra e o trabalho de
evangelização, tem demostrada que a presença feminina é fundamental para a
Igreja em movimento. Apesar da presença constante das mulheres na Igreja,
podemos constatar como o clericalismo e o machismo tem ocupado o imaginário do
católico e não podemos negar que esta cultura é fruto de uma mentalidade
clerical. Quando exercia o ministério, em
conversa com uma paroquiana sobre essa modalidade, ela referiu que gostavam
muito das celebrações orientadas pelas religiosas, mas preferiam quando era um
leigo, "porque um homem no altar é outra imponência!". O padre -
surpreendido com esta resposta que sublinhava as resistências culturais que a
ordenação de mulheres tem de vencer - era eu, nos meus primeiros anos de
pároco.
A história da Igreja, segundo os
peritos, parece comprovar que já houve mulheres ordenadas pelo menos diácono.
As razões teológicas e práticas que justificaram essa opção no passado podem
ser invocadas para voltar a ordenar mulheres. Sobretudo agora, depois de o
diaconato permanente ter sido restaurado e permitir a ordenação de homens
casados. As objeções culturais, essas, serão mais difíceis de vencer. Mas
acabarão por ceder.
Padre
Carlos
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