sábado, 10 de julho de 2021

ARQUIVO Papa Francisco e as reformas (Padre Carlos)

 


Papa Francisco e as reformas

 


Quando estudei eclesiologia com o Pe. Nereu, havia um texto do Papa Pio X que ele gostava de citar e terminou chamando muita minha atenção aquelas palavras.  Ele exprime bem o que a Igreja não é nem pode ser. Mas foi esse o modelo que tantos, contra a vontade de Jesus e até contra a consciência democrática, quiseram impor, incluindo o próprio  Pio X.


O texto começa assim: "A Igreja é, por natureza, uma sociedade desigual. É uma sociedade composta por uma dupla ordem de pessoas: os pastores e o rebanho, os que têm um posto nos diferentes graus da hierarquia e a multidão (plebs) dos fiéis. As categorias são de tal modo diferentes umas das outras que só na hierarquia residem a autoridade e o direito necessário para mover e dirigir os membros para o fim da sociedade, enquanto a multidão não tem outro dever senão o de aceitar ser governada e cumprir com submissão as ordens dos seus pastores." (na Encíclica Vehementer Nos).

Este é o modelo de uma Igreja desigual e hierárquica, desembocando numa hierarcocracia não tem mais espaço na nossa Igreja, apesar de algumas autoridades eclesial não entenderem o momento que estamos vivendo.

 O pontificado de Francisco e suas mudanças proposta para Igreja, tem como base uma  "Igreja participativa e co-responsável". Em outubro, o Papa dará início a um caminho sinodal de três anos e articulado em três fases (diocesana, continental, universal), feito de consultas e discernimento, que culminará com a assembleia de outubro de 2023 em Roma. O processo sinodal (sínodo é uma palavra de origem grega, com o significado de caminhar juntos) foi decisivo para este Sínodo, e o documento convida a que as Conferências Episcopais e as Igrejas locais continuem este percurso, "empenhando-se em processos de discernimento comunitários que incluam também aqueles e aquelas que não são bispos nas deliberações, como propõe este Sínodo". A experiência vivida fez "tomar consciência da importância de uma forma sinodal da Igreja para o anúncio e a transmissão da fé. A participação das comunidades de fé contribui para acordar a sinodalidade, que é uma dimensão constitutiva da Igreja: Igreja e Sínodo são sinónimos".


As palavras e ações  de João XXIII, nunca foram tão necessária  como neste  momento em que vive a Igreja. Assim, podemos dizer que   nos concílios anteriores, a finalidade era um tema concreto e para condenar heresias. Neste, tratava-se do aggiornamento (atualização e abertura) da Igreja, não para condenar, mas para ir ao encontro do mundo moderno, estabelecendo pontes. Como disse João XXIII. Foram preciso mais de cinco décadas, para que surgise um novo Papa que tivesse a coragem de sonhar com  "novo Pentecostes", Nos documentos conciliares, afirma-se que a Igreja é Povo de Deus, a hierarquia vem depois; afirma-se a colegialidade episcopal, promove-se o apostolado dos leigos; a revelação não é uma herança enregelada, mas viva e dinâmica; reformou-se a liturgia e introduziu-se o vernáculo; renovou-se a formação do clero; afirmou-se a liberdade religiosa; aprofundou-se o ecumenismo e o diálogo inter-religioso; a Igreja é um serviço a toda a humanidade.  Às vezes me pergunto: o que seria hoje a Igreja sem o Concílio?


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