sexta-feira, 28 de agosto de 2020

ARTIGO - Roncalli, Bergoglio ou Franciscos? (Padre Carlos)

 

Roncalli, Bergoglio ou Franciscos?

 

Em meio a tantas e lamentáveis perdas nestes tempos, avulta a morte de Dom Pedro Casaldáliga, para entendermos que a geração do pacto das catacumbas está partindo. Estes nossos Irmãos que partiram, muitas vezes plantaram e regaram com o próprio sangue a semente de uma Igreja dos pobres e para os pobres. Hoje, entendo como as aulas de Frater Henrique foi fundamental para entender o nosso passado e as nossas lutas.


Assim, lembrei-me hoje que vai fazer 58 anos da abertura do Concílio Vaticano II e que esta geração que vivenciou estes acontecimentos, estão partindo para casa do Pai. Foi no dia 11 de outubro de 1962, a inauguração solene do Concílio, o maior acontecimento em número de participantes na história da Igreja e de consequências mais significativas também – poderíamos afirmar que se trata de um dos maiores acontecimentos do século XX. Estavam representados 133 países neste grande evento em Roma 2540 padres conciliares; o número esperado era 2908, mas muitos não puderam comparecer. Pela primeira vez, houve mulheres convidadas e também observadores protestantes e ortodoxos.

Nos concílios anteriores, a finalidade era um tema concreto e para condenar heresias. Neste, tratava-se do aggiornamento (atualização e abertura) da Igreja, não para condenar, mas para ir ao encontro do mundo moderno, estabelecendo pontes. Como disse João XXIII, para quem o Concílio devia ser um "novo Pentecostes", a Igreja "julga satisfazer melhor as necessidades de hoje mostrando a validade da sua doutrina do que renovando condenações". Nos documentos conciliares, afirma-se que a Igreja é Povo de Deus, a hierarquia vem depois; afirma-se a colegialidade episcopal, promove-se o apostolado dos leigos; a revelação não é uma herança enregelada, mas viva e dinâmica; reformou-se a liturgia e introduziu-se o vernáculo; renovou-se a formação do clero; afirmou-se a liberdade religiosa; aprofundou-se o ecumenismo e o diálogo inter-religioso; a Igreja é um serviço a toda a humanidade.  Às vezes me pergunto: o que seria hoje a Igreja sem o Concílio?


A festa da abertura terminou com um acontecimento "inesquecível, ao anoitecer, uma multidão de meio milhão de pessoas com tochas na mão concentrou-se na Praça de São Pedro e, com o luar, formou uma cruz imensa. João XXIII veio à janela, para acenar para o povo de Deus.


        Estes dias, semanas e meses de confinamento, foi a fé que evitou o vazio na minha alma e me fez acreditar que Deus é Pai. Assim, mais uma vez as palavras de João XXIII, proferidas naquela noite, vieram aos meus ouvidos:
"Quando voltardes para casa, daí aos vossos filhos um beijo de boa noite e dizei: é um beijo de boa noite do Papa. Que saibam que o Papa, sobretudo nas horas mais tristes e duras, está junto dos seus filhos. Ele é um irmão que, por vontade de Nosso Senhor, se tornou pai."

 

 

 

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

ARTIGO - A astúcia do eleitor Conquistense (Padre Carlos)

 


 

 

A astúcia do eleitor Conquistense


 

O eleitorado de Vitória da Conquista entendeu que a polarização é melhor do que a unanimidade. Ele vê como positivo ter dois grupos políticos disputando a liderança dos poderes executivo e legislativo da municipalidade. Se só um tiver a hegemonia política pode ter a sensação de que nada precisa fazer para ter a necessária legitimidade que torna a governabilidade factível.


Os grupos que protagonizam a disputa pela prefeitura estão sendo obrigados a entender que precisam “mostrar serviço” sob pena de perderem apoios. A população constatou que quanto mais dividida mais eles terão que trabalhar em prol da comunidade. Entendeu que ter os governos do estado e da cidade disputando, através da atuação, sua preferência é algo que só a beneficia.

Essa racionalidade eleitoral contrasta (mas não nega) o comportamento apaixonado da população conquistense nos períodos eleitorais. Claro, ele é bem mais consequência da cultura política local do que algo demandado pelos atores e partidos políticos.

Vitória da Conquista é, hoje, o proscênio da política eleitoral baiana, devido os vinte anos que foi governada pelo Partido dos Trabalhadores. Uma coisa é o grupo liderado pelo, prefeito Herzem Gusmão também, à frente do terceiro colégio eleitoral do estado e outra é o grupo que lhe faz oposição e busca não apenas retornar ao governo da capital Sudoeste, mas, demostrar força para o resto do estado, que o governador Rui e o projeto a nível de estado não sofreu nenhum abalo. São cenários diferentes, com correlações de forças alteradas. E em Salvador, o maior colégio eleitoral estadual, ACM Neto firmou-se com vitórias inquestionáveis nas duas últimas eleições e nosso município pode ser o fiel da balança nos próximos embates. Também é bom não desconsiderar que as relações políticas endógenas do grupo liderado pelo senador Otto Alencar vêm demostrando de forma clara que tem pretensões de ser governador da boa terra e este deslocamento da centro direita, pode representar um abalo ao projeto de poder do PT e dos seus aliados.


O Partido dos Trabalhadores, deveria dialogar com as forças de esquerda do município e articular ainda no primeiro turno uma frente que possa levá-lo ao segundo turno com uma vantagem substancial, só assim afastaria de vez as esperanças da direita de se manter por mais quatro anos no poder. Quando a esquerda se divide fica difícil juntar os cacos depois do primeiro turno, não podemos esquecer que estarão bem vivas as cicatrizes, as mágoas, as amizades desfeitas e até mesmo a dissolução de uma frente que poderia representar um projeto e tudo isto pode acontecer devido da falta de habilidade política dos nossos líderes. Sabemos que este será o mais áspero, agressivo e intolerante processo eleitoral que já presenciamos. Por isto, uma aliança destas forças representa além de sair forte deste processo, manter unido a Frente Conquista Popular e não deixar nossos projetos pessoais atrapalharem. 


     Apresentando-se repartido não se sabe até onde, o eleitorado conquistense oferece aos atores políticos envolvidos na disputa uma sábia lição – a unanimidade pode até ser mais cômoda aos grupos políticos, mas não satisfaz aos interesses e necessidades de grande parte da população.


terça-feira, 25 de agosto de 2020

ARTIGO - Os antifascistas do ministro (Padre Carlos)

 

                        Os antifascistas do ministro

 


Dizem que Bolsonaro não é o que diz ser. Respondo que a História não avança à força de intenções inconfessadas. Hitler não podia ter dito com mais clareza para que viria. O que aconteceu foi que quase ninguém quis acreditar no que ele dizia. E não é tão claro o que o Presidente e a sua tropa de choque nunca deixaram de dizer?


Troque-se a epígrafe ‘judeu’ por ‘negro, pobre e esquerda’ e teremos o critério dominante nas redes sociais para identificar um fascista.

O “antifascismo” é hoje um libelo que os inimigos da liberdade usam para intimidar os que não se submetem. “Antifascistas” para o ministro da Justiça e para o presidente, passaram a ser todos os que não aceitam as imposições do extremismo nas variantes italiana ou do Estado Novo.

Tática que não é nova, pois está inscrita na história do fascismo. O que fazem hoje os inimigos da liberdade é deslocalizar o termo e o fantasma para um tempo e uma realidade material em que é possível se cruzarmos os braços a volta do fascismo.

Para se perceber o que é o fascismo – e avaliar se existe hoje o perigo de um retorno que ameace a democracia –, teremos de colocar a questão na perspectiva histórica. Podemos usar o termo para movimentos políticos que apresentam as características do fascismo histórico (ou revelam mesmo características deste regime).

Este fenómeno político que apareceu na Itália entre as duas guerras mundiais e foi adotado em formas mais extremas ou mitigadas por outros partidos e regimes surgidos no mesmo período – pensávamos que estivesse vencido e enterrado em 1945.

O estigma lançado pelo ministro da Justiça, André Mendonça, contra os que na oposição democrática combatem o fascismo tentou minar em Brasília e em todo o Brasil a luta pela democracia. E tenta hoje perverter ou reverter as liberdades alcançadas ,pela Carte Magna de 1988 que os bolsonaristas tentaram aliás rasgar

O primeiro momento em que se tem notícias dessa acusação de antifascismo a combatentes da liberdade foi na década de 1924-34, na Itália, quando a utra-direita acusaram os socialistas, republicanos, liberais, democratas e conservadores de serem comunistas. Receita repetida também entre nós pelos bolsonaristas antes e depois da posse do presidente, até hoje.

Mais tarde, em 1964, contrariado pelas propostas de reformas de base dos governos nacionalistas e depois do golpe militar, também a direita e as elites que apoiaram a quebra da democracia, cederia à tese dos militares e da direita de que o perigo do totalitarismo comunista não era representado somente pelas esquerdas mas, por democratas e republicanos – que lideraram o país com um governo de caráter esquerdista.

Mas como caracterizar o fascismo?

O fascismo preconiza um regime de partido único, o culto do chefe com a concentração de todos os poderes nas suas mãos, como divulgou a revista Piaui – o fechamento do STF. O fascismo trabalha as massas cujos interesses pretende ‘diretamente’ representar (e determinar), expansionista, repressivo de todas as correntes de pensamento, das liberdades. É uma ideologia que não preconiza o fim das classes mas obriga à cooperação de todas para aquilo que o ditador decide ser o bem comum.

 

 

 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

ARTIGO - Um sacrifício pelo Brasil ( Padre Carlos )


 Um sacrifício pelo Brasil

        Decorridos 69 anos do sacrifício da própria vida (24 de agosto), para não levar o povo brasileiro a uma luta fratricida, o estadista Getúlio Vargas ainda vive pela lembrança de suas realizações, que transformaram um País agrícola, baseado na monocultura do café, em moderna nação manufatureira. 
            O suicídio não foi um ato de um homem deprimido, um ato de desespero, mas um ato de coragem. Era um plano que se não fosse executado, daria aos seus adversários e quando falo isto me refiro a todos aqueles que não queriam um projeto nacionalista e uma Pátria independente, acabar com o processo de soberania nacional. Queriam que ele fosse preso no Palácio do Catete e, possivelmente, seria deportado. Tendo isso em mente, resolveu pôr em ação um plano que salvaria a Nação. Ele sabia que o seu suicídio provocaria uma imediata reorganização das forças, democráticas e nacionalistas que foi o que aconteceu. Sua morte garantiu a continuidade da ordem democrática e as nossas riquezas.
    
        Este episódio mudou de forma drástica e manteve as conquistas do povo, além é claro de transformar bruscamente um cenário político conservador e entreguista que se consolidava a época.
            Não podemos negar que segundo governo do Vargas foi enfrentado com muita oposição e sua situação política se tornou insustentável, devido as bandeira nacionalista e um projeto de soberania que estava em curso.  Ele não poderia permanecer no poder e, se fosse derrubado ou renunciasse, seria empreendida uma campanha muito forte contra ele e o seu projeto. O suicídio foi algo que mudou a tendência da politica de um anti-varguismo. Fortaleceu não só o projeto, mas todos aqueles que estavam associados à figura de Vargas.
            As circunstâncias ligadas à morte de Getúlio Vargas foram definitivas para a forma como o presidente entraria para a História. Não podemos negar a importância da carta-testamento, uma espécie de “apresentação” de sua morte, nesse processo.
             A carta é um manifesto político e uma verdadeira obra de arte, em um estilo muito contundente. Nela, Vargas denuncia duas figuras que estavam ligados diretamente àquela conjuntura: os chamados barões e o imperialismo dos Estados Unidos. Ele acusa o país de confabular contra a independência do Brasil, e os grandes proprietários de conspirarem contra as necessidades do povo. Aquilo teve um impacto muito grande. A população recebeu essa mensagem que havia uma conspiração contra o governo Vargas com indignação e colocou em evidencia o golpe que a direita estava tramando. Lembramos que o suicídio foi seguido da fuga de Carlos Lacerda do Brasil e quebra-quebras em todo o país, devido à forma como Getúlio desmascarou os inimigos do Brasil.
             O suicídio não significou que ele desistiu da luta como alguns historiadores querem afirmar. Ele poderia sim organizar uma resistência de fora, mas não conseguiria impedir o golpe que a direita impôs ao Brasil dez anos depois.
             Era o presidente eleito e estava juridicamente respaldado para resistir se não existisse interferência externa. As condições políticas eram desfavoráveis e o golpe era eminente. Porém, a forma como ele resistiu foi tão espetacular e tão contundente que acabou ocultando o fato de que ele não estava desistindo.
       
     A carta-testamento legada por Getúlio Vargas deveria ser lida em todas as escolas, reproduzida nos jornais, rádios e televisões cada dia 24 de agosto, como símbolo de exaltação à brasilidade e de crença no futuro glorioso da pátria.

Padre Carlos
           

sábado, 22 de agosto de 2020

ARTIGO - E o vice de Zé? (Padre Carlos)

 


 

 E o vice de Zé?

 

 

Quando o prefeito Herzem Gusmão, apresentou a presidente licenciada da Câmara de Dirigentes Lojistas de Vitória da Conquista, no sudoeste, Sheila Lemos (DEM), como a parceira de chapa nas eleições deste ano, não estava apresentando apenas a filha da atual vice-prefeita, mas selando uma aliança com um setor da sociedade que estava alinhado ao petismo durante as duas décadas de administração da Frente Conquista Popular e por falta de uma avaliação mais pragmática, terminou perdendo a quatro anos atrás. Sempre achei um erro da esquerda e em especial do Partido dos Trabalhadores na nossa cidade, de não dar a devida atenção para a escolha do vice na chapa majoritária. Desta forma, as atenções sempre se voltaram para os candidatos titulares 


da chapa concorrente.

O tempo não é do candidato ou do partido, o tempo é da política. O tempo de haver um acordo mínimo em torno de um nome. Não pode ser uma decisão monocrática, não só do candidato, não só do partido dirigente, mas de todos os aliados.

A figura do vice tem se mostrado importante na composição de alianças e neste momento o partido precisa deslocar parte da força do seu adversário. Oferecer a vaga de vice numa chapa a um integrante de outro partido pode significar tempo adicional de propaganda no rádio e na televisão, e pode ainda atrair para a coligação outras legendas aliadas do partido ao qual o vice pertence. Quero lembrar aqui que em 2003, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva abriu mão de integrantes de partidos tradicionalmente aliados e escolheu o empresário José Alencar do PL. O vice também serve para atrair outro tipo de eleitor, que o candidato tem dificuldade de alcançar.

Quando levanto estas questões, quero chamar a atenção dos dirigentes do partido para se pronunciarem a respeito do assunto. Qual a importância do vice nesta eleição para o PT? Não podemos esquecer que a eleição de 2022, está sendo jogada agora e quem é nosso aliado hoje, amanhã pode não ser. Além disso, após o companheiro de chapa, o vice é a pessoa mais próxima do poder. E para isto precisamos compor com um partido da base que represente força política para governar e densidade eleitoral para ajudar na eleição. Um bom companheiro de chapa e o seu partido, pode colaborar e muito na gestão pública, dialogando com a sociedade e somando forças com o titular.

Portanto, é muito importante entender os principais fatores envolvidos na escolha de um vice. Para além de ser meramente um tapa-buracos, o vice e o partido que queremos como parceiro, tem que ser também um articulador político  visando o fortalecimento desta chapa e neutralizando através de acordos político a fragmentação da esquerda, como aconteceu na última eleição em nosso município.

 

 


terça-feira, 18 de agosto de 2020

ARTIGO No Brasil, a justiça tarda e falha (Padre Carlos)

 


 

 

 

No Brasil, a justiça tarda e falha

 

         O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Fux, decidiu nesta segunda-feira (17) que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) deve desconsiderar uma advertência aplicada contra o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, durante o julgamento de processos contra o procurador no CNMP nesta terça-feira (18). A Decisão de Fux impedindo o Concelho de fazer justiça vai de encontro a natureza da própria Corte e interferir naquele colegiado na véspera de um julgamento que poderia afastá-lo da Lava Jato, deixa claro um sinal que o crime compensa.


O Ministério Público precisa olhar em retrospectiva e entender porque suas estrelas da Lava Jato adotaram um modus operandi de justiceiros, de milicianos. Houve uma manipulação da opinião pública pelo então juiz federal Sergio Moro com a divulgação ilegal de um grampo entre a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula em março de 2016 e influenciou diretamente nas eleições.

Na época, procuradores endossaram essa ilegalidade para impedir a nomeação de Lula para a Casa Civil. A ida de Lula para o ministério de Dilma poderia ter evitado o impeachment, de acordo com entrevistas do ex-presidente Michel Temer e do ex-senador Aloysio Nunes Ferreira. O emedebista Temer e o tucano Aloysio são adversários do PT e foram beneficiados pelo golpe parlamentar alimentado pela Lava Jato. Por isto esta decisão do magistrado impede o Concelho de levantar o mérito desta questão.

 

Faz diferença quem está à frente das instituições? Há quem diga que não, que não há pessoas insubstituíveis. Ainda assim, fica a impressão de que certas mudanças precisam acontecer em peças-chave da Suprema Corte e do Ministério Público, não podemos negar que algumas decisões monocráticas, como esta, tenham reflexos em decisões importantes para o país. Para alguns órgãos da imprensa ou parte da classe política, o entendimento é que não passa de uma coincidência.

A Constituição brasileira reserva ao Supremo uma missão extra: conduzir as investigações e julgar as acusações criminais contra deputados, senadores e outras autoridades federais. Nesse caso, nem a proximidade física entre o tribunal o Parlamento e a Procuradoria Geral da República são capazes de fazer com que a Justiça atravesse a Praça dos Três Poderes com celeridade. As imperfeições dos sistemas político e judicial do país tornam essa distância abissal e, por vezes, insuperável.

Na nossa cultura existe uma máxima que se acredita que a justiça tarda, mas não falha. A realidade tem mostrado agora no caso do presidente Lula, que falha muitas vezes, porque veio tarde demais.

Desde 1988, mais de 500 parlamentares foram investigados no Supremo. A primeira condenação ocorreu apenas em 2010. De lá para cá, apenas 16 congressistas que estavam no exercício do mandato foram condenados por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de verba pública, segundo levantamento da Revista Congresso em Foco. Decisões que podem ajudar a desfazer o mito de que o Judiciário é cego aos malfeitos dos políticos brasileiros, mas que ainda estão longe de enterrar a sensação de impunidade. Casos como o de Aécio Neves ou os mais recentes como o do Senador José Serra e do ex governador Alckmin são tratados como parcialidade. Isto justifica, porque apenas oito, metade dos condenados, pagaram ou estão acertando suas contas com a Justiça. A outra metade já se livrou definitivamente ou ainda luta para escapar da punição. Nos últimos dois anos, a prescrição beneficiou pelo menos 34 dos 113 congressistas da atual legislatura, que tiveram casos arquivados pelos ministros da suprema corte.

     Num país que não é propriamente conhecido pela pontualidade, e onde a justiça se arrasta penosamente, faz muita confusão que os crimes possam prescrever tão facilmente. Os trâmites são bem conhecidos: quem dispõe de meios para isso coloca todos os entraves possíveis, de amigos na Corte (In Fux we trust), ou com recursos e outros artifícios que só os advogados dominam, tentando protelar ao máximo uma decisão definitiva. E, quando finalmente o tribunal ou o Colegiado do Ministério Público

chegam a uma conclusão, os crimes que demoraram anos para o tribunal ou o Concelho reconhecer, terminam prescrevendo?! Repito: trata-se de crimes que foram dados como provados em tribunal. Mas aí do pobre mortal que se atreva a questionar a participação de algum ministro da nossa corte ou do corporativismo do Ministério Público ou parte dele para que o processo prescrevesse. Se isto acontecesse, logo a Autoridade moveria um processo em cima do pobre coitado ou seria preso por agredir um Poder da República. E desta prisão, não há prescrições nem recursos para ninguém. Perdoem a linguagem, mas estamos brincando com coisas sérias.

 

Padre Carlos

 

 

 


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

ARTIGO - Delação premiada é um instituto do Estado fascista. (Padre Carlos)



Delação premiada é um instituto do Estado fascista.



Durante uma palestra sobre conjuntura política, um jovem me perguntou o que eu achava sobre a utilização da ‘delação premiada’ no combate à corrupção.
As opiniões sobre este tema dividem-se muito, mas de uma forma geral a esquerda sempre foi contra e a direita a favor, o que não deixa de ser surpreendente. Diante disto, poderíamos supor que o ataque à corrupção seria uma ‘causa’ mais da esquerda do que da direita o que não é verdade.
A minha opinião e das pessoas de bom senso, está claro: a delação premiada é uma prática abominável, que qualquer Estado de direito deveria sumariamente rejeitar.
Quando falamos em denúncia, estamos nos referindo a algo de desagradável, de eticamente duvidoso, principalmente quando elas são apresentadas sem provas. Esta colaboração, só poderia ser aceita em casos extremos – quando se trata de crimes de morte ou situações em que estão em perigo vidas humanas – a denúncia não é uma prática saudável. E, quando o denunciante pode receber favores pela denúncia, esta pode conter o que existe de mais absurdo no seu delírio para se salvar.
Temos que admitir, que esta prática se torna um prémio ao criminoso por denunciar os cúmplices para conseguir uma redução da pena. Isto nada mais é, que estimular o que há de pior na natureza humana. O seu lado negro, a sua natureza vil, como fazia os nazistas com suas vítimas.
Foi a adesão desta modalidade de se conseguir provas, que a Operação Lava Jato partiu da ideia de que os fins justificam os meios. De que todos os meios são legítimos desde que os fins sejam bons. Ora, não é assim e o Juiz e o Procurador do Ministério Público, deveria saber, por uma razão simples: os meios contaminam os fins e as provas. Através de meios condenáveis, de meios obscuros, de meios ilegítimos, nunca se atinge um ‘bom fim’. O ‘fim’ fica manchado pelos meios usados para alcançar, como aconteceu com toda a operação.
O Supremo, deixou que o Estado fosse regido por valores e princípios de caráter duvidoso. Há princípios que um Estado não pode alienar. Em nome do pragmatismo, o Estado não pode abdicar da sua dignidade – pois isso pode levar as instituições do país a deixarem de ser uma referência, para o conjunto da sociedade, um exemplo a seguir.
Podemos afirmar que as escutas telefónicas ultrapassaram todos limiar do que é aceitável. As autoridades escutarem conversas particulares dos advogados de defesa e assim, violaram tudo que diz respeito a imunidade do defensor e de um cidadão, mesmo com autorização de um juiz, é uma invasão da privacidade que beira o abuso. Apesar de tudo, as escutas não são comparáveis à delação premiada. E porquê? Porque nas escutas não há um indivíduo denunciando o outro para se ‘safar’ – é o próprio a denunciar-se, como estamos vendo na vasa Jato. Não estão envolvidos terceiros – é o suspeito que revela fatos que o incriminam. E isto é muito diferente quando um outro faz.
A delação premiada, ao longo dos séculos, tem proporcionado situações terríveis. Tremendas injustiças, atos hediondos. Recordem-se os tempos da Inquisição, em que por vingança se denunciavam ‘hereges’ com ou sem razão. Recordem-se os tempos do fascismo, nazismo e do estalinismo, em que, para salvarem a pele, pais chegavam a denunciar os filhos e filhos denunciavam os pais, acusando-os de serem, comunistas ou contrarrevolucionários. Recordem-se os tempos do nazismo, em que por medo ou maldade se apontava o dedo aos judeus entregando-os a uma morte certa.
A delação premiada de quem estava no topo da cadeia do poder, (Eduardo Cunha e Cabral) traz toda a podridão que as sociedades escondem por vergonha e poderia fazer com que a nossa sociedade ruísse e não ficasse pedra sobre pedra.


Padre Carlos












ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...