terça-feira, 25 de agosto de 2020

ARTIGO - Os antifascistas do ministro (Padre Carlos)

 

                        Os antifascistas do ministro

 


Dizem que Bolsonaro não é o que diz ser. Respondo que a História não avança à força de intenções inconfessadas. Hitler não podia ter dito com mais clareza para que viria. O que aconteceu foi que quase ninguém quis acreditar no que ele dizia. E não é tão claro o que o Presidente e a sua tropa de choque nunca deixaram de dizer?


Troque-se a epígrafe ‘judeu’ por ‘negro, pobre e esquerda’ e teremos o critério dominante nas redes sociais para identificar um fascista.

O “antifascismo” é hoje um libelo que os inimigos da liberdade usam para intimidar os que não se submetem. “Antifascistas” para o ministro da Justiça e para o presidente, passaram a ser todos os que não aceitam as imposições do extremismo nas variantes italiana ou do Estado Novo.

Tática que não é nova, pois está inscrita na história do fascismo. O que fazem hoje os inimigos da liberdade é deslocalizar o termo e o fantasma para um tempo e uma realidade material em que é possível se cruzarmos os braços a volta do fascismo.

Para se perceber o que é o fascismo – e avaliar se existe hoje o perigo de um retorno que ameace a democracia –, teremos de colocar a questão na perspectiva histórica. Podemos usar o termo para movimentos políticos que apresentam as características do fascismo histórico (ou revelam mesmo características deste regime).

Este fenómeno político que apareceu na Itália entre as duas guerras mundiais e foi adotado em formas mais extremas ou mitigadas por outros partidos e regimes surgidos no mesmo período – pensávamos que estivesse vencido e enterrado em 1945.

O estigma lançado pelo ministro da Justiça, André Mendonça, contra os que na oposição democrática combatem o fascismo tentou minar em Brasília e em todo o Brasil a luta pela democracia. E tenta hoje perverter ou reverter as liberdades alcançadas ,pela Carte Magna de 1988 que os bolsonaristas tentaram aliás rasgar

O primeiro momento em que se tem notícias dessa acusação de antifascismo a combatentes da liberdade foi na década de 1924-34, na Itália, quando a utra-direita acusaram os socialistas, republicanos, liberais, democratas e conservadores de serem comunistas. Receita repetida também entre nós pelos bolsonaristas antes e depois da posse do presidente, até hoje.

Mais tarde, em 1964, contrariado pelas propostas de reformas de base dos governos nacionalistas e depois do golpe militar, também a direita e as elites que apoiaram a quebra da democracia, cederia à tese dos militares e da direita de que o perigo do totalitarismo comunista não era representado somente pelas esquerdas mas, por democratas e republicanos – que lideraram o país com um governo de caráter esquerdista.

Mas como caracterizar o fascismo?

O fascismo preconiza um regime de partido único, o culto do chefe com a concentração de todos os poderes nas suas mãos, como divulgou a revista Piaui – o fechamento do STF. O fascismo trabalha as massas cujos interesses pretende ‘diretamente’ representar (e determinar), expansionista, repressivo de todas as correntes de pensamento, das liberdades. É uma ideologia que não preconiza o fim das classes mas obriga à cooperação de todas para aquilo que o ditador decide ser o bem comum.

 

 

 

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