Os antifascistas do ministro
Dizem que Bolsonaro não é o que diz ser. Respondo que a
História não avança à força de intenções inconfessadas. Hitler não podia ter
dito com mais clareza para que viria. O que aconteceu foi que quase ninguém
quis acreditar no que ele dizia. E não é tão claro o que o Presidente e a sua
tropa de choque nunca deixaram de dizer?
Troque-se a epígrafe ‘judeu’ por ‘negro, pobre e esquerda’ e teremos o critério dominante nas redes sociais para identificar um fascista.
O “antifascismo” é hoje um libelo que os inimigos da liberdade usam para intimidar
os que não se submetem. “Antifascistas” para o ministro da Justiça e para o
presidente, passaram a ser todos os que não aceitam as imposições do extremismo
nas variantes italiana ou do Estado Novo.
Tática que não é nova, pois está inscrita
na história do fascismo. O que fazem hoje os inimigos da liberdade é
deslocalizar o termo e o fantasma para um tempo e uma realidade material em que
é possível se cruzarmos os braços a volta do fascismo.
Para se perceber o que é o fascismo – e
avaliar se existe hoje o perigo de um retorno que ameace a democracia –,
teremos de colocar a questão na perspectiva histórica. Podemos usar o termo para
movimentos políticos que apresentam as características do fascismo histórico
(ou revelam mesmo características deste regime).
Este fenómeno político que apareceu na
Itália entre as duas guerras mundiais e foi adotado em formas mais extremas ou
mitigadas por outros partidos e regimes surgidos no mesmo período – pensávamos que
estivesse vencido e enterrado em 1945.
O estigma lançado pelo ministro
da Justiça, André Mendonça, contra os que na oposição democrática
combatem o fascismo tentou minar em Brasília e em todo o Brasil a luta pela
democracia. E tenta hoje perverter ou reverter as liberdades alcançadas ,pela
Carte Magna de 1988 que os bolsonaristas tentaram aliás rasgar
O primeiro momento em que se tem notícias dessa
acusação de antifascismo a combatentes da liberdade foi na década de 1924-34,
na Itália, quando a utra-direita acusaram os socialistas, republicanos,
liberais, democratas e conservadores de serem comunistas. Receita repetida também
entre nós pelos bolsonaristas antes e depois da posse do presidente, até hoje.
Mais tarde, em 1964, contrariado pelas
propostas de reformas de base dos governos nacionalistas e depois do golpe
militar, também a direita e as elites que apoiaram a quebra da democracia,
cederia à tese dos militares e da direita de que o perigo do totalitarismo
comunista não era representado somente pelas esquerdas mas, por democratas e
republicanos – que lideraram o país com um governo de caráter esquerdista.
Mas
como caracterizar o fascismo?
O fascismo preconiza um regime de partido
único, o culto do chefe com a concentração de todos os poderes nas suas mãos,
como divulgou a revista Piaui – o fechamento do STF. O fascismo trabalha as
massas cujos interesses pretende ‘diretamente’ representar (e determinar),
expansionista, repressivo de todas as correntes de pensamento, das liberdades.
É uma ideologia que não preconiza o fim das classes mas obriga à cooperação de
todas para aquilo que o ditador decide ser o bem comum.
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