sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

ARTIGO - O blog ultrapassou o número de 50 mil acessos em 18 meses!

 

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Qual o nosso objetivo?


            

Caro(a) leitor(a), hoje estamos em festa, nosso blog ultrapassou o número de 50 mil acessos. Sem contar os que seguem o blog diretamente  e recebem as atualizações por email sem precisar acessar o site; sem também levar em conta que, generosamente,  muitos destes leitores repassam aos seus contatos; e, sem contar, ainda, a reprodução dos textos em outros. 

        Os artigos que tenho publicado é fruto de quarenta e cinco anos de militância. Todos giram em torno da filosofia política, sua característica, potencial e, também, as suas dificuldades. Podemos dizer que foram escritos querendo praticar esta matéria de estudo filosofando com vocês. Escrever não é fácil, isso todo mundo já está cansado de saber, principalmente quando nos propomos a certos assuntos como: filosofia, teologia, antropóloga e história; buscando assim com este trabalho uma abordagem conjuntural. Mesmo sabendo de todas estas dificuldades, não desisto nem me intimido de colocar no papel meus sentimentos e as felicidades e dores de todos aqueles que estão precisando de alguém que possa traduzir. Assim, aprendi que as dificuldades de escrever e entender o inconsciente de um povo faz parte destas pessoas que se propõe a mergulhar cada vez mais neste mundo das ideias e só assim poderão se sentir um verdadeiro artesão das palavras e conseguir de forma precisa interpretar as alegrias e tristeza de um povo marcado pelo sofrimento e esquecido pelos poderes públicos e pelo estado brasileiro.
 Assim, acredito ter deixado claro o nosso objetivo.
           Sei que escrevendo sobre a conjuntura política e levantando as questões filosófica que estejam relacionadas com o nosso dia-a-dia, posso quem sabe, envolver esta juventude, dentro deste contexto político e filosófico da melhor forma possível. Desta forma, procuro apresentar as pessoas que não conhece o submundo da militância e desconhece a linguagem aplicada e a escrita engajada vivenciar este universo. 

          

  A ideia de uma espora surgiu das leituras de Aristóteles, ela me lembra do conceito de animal político e nos remete ao estimulo que faz o animal sair de sua inercia. Ah! Se eu pudesse de alguma forma no campo das ideias esporar, estimular, avivar, espicaçar, incitar incentivar e desta forma encorajar a todos que queiram nos honrar com suas atentas leituras, tenho certeza que seria a espora do saber. 
O que eu desejo mesmo é provocar reações no leitor, capaz de sair da inercia política e se envolver com a luta de um mundo melhor.

            Só assim poderemos entender o que queria dizer aquele antigo compositor cearense, que a pouco nos deixou: “Não me peça que eu lhe faça /Uma canção como se deve / Correta, branca, suave / Muito limpa, muito leve / Sons, palavras, são navalhas / E eu não posso cantar como convém / Sem querer ferir ninguém” (Belchior).·.

Padre Carlos

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

ARTIGO - A criminalização de Lula e a entrega de Olga Benário aos Nazistas (Padre Carlos)

 


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A criminalização de Lula e a entrega de Olga Benário aos Nazistas



Nos últimos anos, temos presenciando quase um escândalo político ou jurídico por dia e como não bastasse à fragilidade da nossa recente República, seus atores  terminam arrastando o Estado brasileiro para uma vala comum da história.


    Diante disto, quando tomamos conhecimento da forma como o Exército  exerceu uma  pressão política na votação do HC de Lula, ficou evidente que não estavam apenas os magistrados naquele salão do júri, mas as forças ocultas que Jânio Quadros um dia se referiu.  A pressão sobre Judiciário é ‘intolerável e inaceitável’, mas quando sofreram os juízes se calaram. Três anos é muito tempo para os ministros protestarem.

         Não foram as Forças Armadas, nem a Lava Jato que cometeram tal injustiça, não foram os generais nem o Juiz Mouro, os grandes responsáveis por tudo que tem acontecido de ruim aos brasileiros, foram os juízes da Suprema Corte. Digo isto, porque se eles não tivessem afastado o candidato que estava na frente das pesquisas, se não tivessem deposto um governo legitimamente eleito e soberano, nada disto estaria acontecendo.

Este HC me fez lembrar um fato semelhante num Brasil sob o Estado Novo de Getúlio Vargas, os ministros do STF não conheceram o Habeas Corpus impetrado em favor de Maria Prestes, nome de casada de Olga Benário. Grávida do líder comunista Luis Carlos Prestes, ela foi extraditada para a Alemanha nazista com a salvaguarda do Supremo e morta num campo de concentração aos 34 anos, depois do nascimento de sua filha, a brasileira Anita Leocádia. Mas, diante de tantas injustiças, quase esquecemos que foi o STF quem entregou Olga Benário aos Nazistas.

A história que ficou gravada nas nossas mentes e relatada pelos órgãos da imprensa, foi que no dia 23 de setembro de 1936, a judia alemã Olga Benário deu adeus ao Brasil. Presa com o marido Luiz Carlos Prestes em cinco de março do mesmo ano, ela foi deportada, embarcou no navio La Coruña rumo à cidade de Hamburgo. Nem o fato de estar grávida impedira o presidente Getúlio Vargas, que assinara decreto de expulsão no dia 28 de agosto, de entregá-la à Alemanha Nazista de Adolf Hitler. Olga ainda apelou para ter a filha no Brasil. Sem sucesso. Acabou morrendo num campo de concentração, aos 34 anos, em abril de 1942. Apagamos da memória que o grande responsável foi o STF e colocamos toda culpa em Getúlio e no Estado Novo.  

Diante desta interpretação, quem condenou Lula, foi a Suprema Corte, o juiz Mouro, os Procuradores da República ou os Juízes do Supremo? Será que os fatos hoje revelados pela Vasa Jato e pelo General Villas Bôas, não coloca a Suprema Corte só como o carrasco que estava exercendo o seu papel? Quem de fato foram os mandantes?

        No imaginário popular aquele que enverga a toga representa a justiça. Usar a toga, isto é, ser ministro da Suprema Corte é tomar parte da comunidade daqueles que devem dizer o que é justo. Assim, de forma inconsciente, ou consciente, protegemos nossos arquétipos de justiça e projetamos em outras pessoas a responsabilidade destes atos.

 


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

ARTIGO - Porque estão perseguindo a Campanha da Fraternidade? (Padre Carlos)

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Porque estão perseguindo a Campanha da Fraternidade?

 





Escrever sobre a Campanha da Fraternidade é antes de tudo, um testemunho e um gesto solidário, para que possa dar notoriedade a vidas a personagens que são excluídos pelo sistema e por parte da nossa Igreja. Estas pessoas e suas histórias são como o ouro misturado ao barro, ainda que não seja notado, nem apanhado ou devidamente reconhecido, nunca perde o seu valor. Dá uma existência àqueles que foram esquecidos pelo tempo, trazê-los de volta à vida com seus desejos, suas fraquezas... e sua coragem, sempre será um gesto profético. Assim, com o tema: "Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor" a CFE 2021 terminou pisando no calo de uma ala conservadora, além de levantar dois tabus que impedem a Igreja entrar verdadeiramente na modernidade: o diálogo e a fraternidade.

 


Se os temas ecumênicos são tratados por setores da nossa Igreja como algo que escandaliza, o que me diz do dialogo interreligioso? Não podemos nos assustar com o barulho de um setor que nunca dialogou com o pobre e os excluídos da Igreja. Na verdade, Estamos longe de refletir a diversidade de experiências que precisamos conhecer. Seja no que diz respeito às vozes das mulheres, de pessoas LGBT ou de minorias étnico-raciais. Até porque são pessoas que tem muito mais a dizer, por existir na Igreja toda uma herança de silêncios sobre elas.

Há muitos anos que o famoso teólogo Hans Kong não se cansa de proclamar que "não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões" e não haverá paz entre as religiões sem conhecimento e reconhecimento mútuo e, consequentemente, diálogo.

Neste contexto de diálogo, Francisco insistiu na sua mensagem constante: "O missionário não é um mercenário da fé nem um gerador de prosélitos. A evangelização não consiste em somar o número de membros nem aparecer como poderosos, mas em abrir portas para viver e partilhar o abraço, misericordioso e que cura, de Deus Pai, que nos faz família." É isto que setores da Igreja não entendem.


Ninguém é esquecido pelo Pai, apesar de saber que um dia, todos nós seremos esquecidos, esta é a lei natural, mas o que dói dentro da comunidade cristã, não é ser esquecido, mas ser ignorado é como se estivessem apagando a existência destas pessoas dentro da Igreja.  De fato, temo que entenda que antes de ser católico apostólico romano, somos humanos, e ser humano significa ser racional, mas, no meu entender, a humanidade está cada vez mais irracional. A violência, a intolerância, a maldade, a mesquinhes cresce a cada dia. A inversão de valores é gritante a cultura de morte ganha cada vez mais adeptos e o mundo fica cada vez mais excludente para os pobres e as minorias dentro da Igreja.

 

  

domingo, 14 de fevereiro de 2021

ARTIGO - As mulheres já podem receber os ministérios laicais de leitor e de acólito (Padre Carlos)





 

As mulheres já podem receber os ministérios laicais de leitor e de acólito




         Quando nos preparamos para receber os sacramentos da Ordem, isto é, para exercer o ministério sacerdotal ou diaconal, recebemos primeiro os ministérios laicais de leitor e de acólito. Apesar de estarmos acostumados principalmente aqui no Brasil com a presença de algumas mulheres servindo de acolitas e leitoras nas nossas celebrações, só agora Francisco reconheceu a presença feminina e pôs assim fim a uma tradição que, podendo “ser reconhecida como válida, e durante muito tempo estava negada as mulheres, como explica o próprio Francisco numa carta dirigida a este propósito ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé”.

        


    Estes ministérios, que são etapas para o presbiterado: primeiro o leitorado e depois o acolitado, antes de serem ordenados diáconos. Décadas atrás, Paulo VI abriu a possibilidade de os bispos instituírem leitores e acólitos, não só em ordem ao presbiterado, mas de forma estável. Fez também de forma semelhante do que sucede com o diaconato, o qual, para além de ser uma etapa para o presbiterado, também pode ser exercido de forma permanente.

Apesar de Paulo VI ter aberto essa possibilidade - e sendo certo que muitas pessoas leem nas celebrações e que crianças e jovens de ambos os sexos garantem o serviço ao altar - raros foram os homens instituídos para desempenharem esta missão.

O Papa Francisco reconhece na sua carta que "tantas" são as mulheres "que cuidaram e continuam a cuidar do serviço da Palavra e do Altar". Ou seja: muitas já o fazem informalmente, sendo que agora - tal como os homens - poderão desempenhá-lo por instituição dos seus bispos.

Infelizmente, como aconteceu com os homens, se os leigos e os párocos não criarem condições para que elas tenham acesso a estes ministérios, poucas virão a ser instituídas. Mas deixarão de ser legalmente discriminadas como hoje acontece. Este é mais um sinal do Papa para promoção da mulher no interior da Igreja, o qual implicou mesmo uma alteração do cânone 230 do Código de Direito Canónico, a legislação da Igreja Católica.


    Segundo Francisco, compete agora às "Conferências Episcopais estabelecer critérios para o discernimento e preparação dos candidatos e das candidatas para os ministérios do leitor ou do acólito". Trata-se de uma oportunidade de ouro para dignificar o papel da mulher na Igreja, devendo distinguir-se o seu exercício (e o dos homens) com uma nova designação para quem, agora, desempenha a missão de leitor e de acólito na nossa Igreja.

 


ARTIGO - Precisamos repactuar os setores da sociedade com um projeto de nação. (Padre Carlos)

 



Precisamos repactuar  os setores da sociedade com um projeto de nação.

 


Os desafios que enfrentamos exigem um programa de governo à esquerda, mas o posicionamento ideológico não é condição suficiente para se vencer uma eleição. A correlação de forças dentro e fora do Congresso e o diálogo com  setores produtivos precisam ser levado em conta para que possamos não só vencer, mas ter capacidade de governar.  Precisamos também de uma relação de compromisso político que proporcione ao Governo as condições para não só ser estável, mas também forte e ágil nas respostas que precisamos dá a nação.


O país atravessa neste momento a maior crise econômica desde 1929. Apesar das reservas econômicas deixadas pelos governos de Lula e Dilma, não será o suficiente para barrar a Armageddon na economia do nosso país que os analistas vêm anunciado.  O desgoverno de Temer e Bolsonaro a pandemia, bem como o confinamento, colocaram em evidencia a necessidade de um Estado Forte e a importância do SUS para que pudéssemos atravessar este momento de perdas e dores. Ninguém estava preparado para medidas tão drásticas. Parar de forma súbita a economia foi e está sendo em alguns casos um mal necessário, mas o Estado deve continuar protegendo quem está mais exposto enquanto investe na recuperação da economia e no combate ao vírus.

 Esse é um compromisso que não é só entre o PT e seus eleitores, mas com o país. Não é, também, um compromisso novo, inusitado, que desfigura ou castre a nossa vitória. O Partido precisa se reconectar com o setor produtivo e com o eleitor de centro como fizemos em 2002, quando trouxemos o empresário mineiro José Alencar para nossa chapa. Quem sabe não é hora de trazermos uma empresária progressista que tenha relação com o mercado interno e com setores do centro democrático, para que possamos incluir este importante setor da sociedade no projeto e construir uma chapa competitiva. O certo, é que  precisamos neste momento histórico, mais que uma carta de intenções, precisamos repactuar todos os setores da sociedade com o projeto de nação.


Os resultados das eleições municipais do ano passado impuseram uma realidade diferente da que gostaríamos de está enfrentando. Se o PT não saiu derrotado eleitoralmente, pelo menos passou a entender que a correlações de força hoje, exige do partido hegemônico, disposição para o diálogo, seja com o centro, seja dentro do bloco de esquerda.  
 Temos que entender que não haverá governo sem parceiros no centro e na esquerda. Porque nenhum tema onde haja injustiça pode ser tabu dentro do Congresso, temos que encarar os grandes problemas das desigualdades que tanto tem levado os pobres deste país a uma situação de vulnerabilidade. Por isto, o PT não pode dispensar apoios nem abrir mão da cabeça de chapa.

 Se alguns dentro ou fora do PT se acham no direito de construir seu próprio projeto, precisam antes de qual quer coisa, construir soluções e não fazer apenas a critica da falta delas como forma de protesto ou de descontentamento. Não podemos construir pontes se os pilares deste projetos não estiverem bem alicerçados.

  

sábado, 13 de fevereiro de 2021

ARTIGO - Nossa esquerda preconceituosa (Padre Carlos)

 


Nossa esquerda preconceituosa




Peço licença aos leitores, para iniciar este artigo citando o grande Santo Agostinho (354-430) disse: “Teus pecados são a tua tristeza, deixe que a santidade seja a tua alegria”.
Faz alguns anos que li um artigo da jornalista Camila Marciel - em sua coluna na Agência Brasil São Paulo, a repórter tratava da forma brutal como o DOI-Codi sequestra e mata Manoel Fiel e diz que o metalúrgico cometeu suicídio. O que causa surpresa, é que a morte do metalúrgico ocorreu menos de três meses após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no mesmo local e em circunstâncias parecidas, sob a versão oficial de suicídio e não teve o impacto e a revolta que a imprensa e a “esquerda democrática” demostraram no caso do jornalista assassinado.


Neste texto, Gostaria de levantar algumas questões para que possa servir de reflexão para o conjunto da esquerda no que se referem aos erros, conceitos e pré-conceitos de classe que persistem em existir em nosso meio. Assim, é preciso dizer que nem sempre colocar de forma clara e corajosa aquilo que muitos não têm coragem e/ou interesse em fazê-lo, pode não ser interessante ou compensador para o articulista, mas quando o objetivo é ajudar o leitor a refletir, temos a obrigação de correr este risco. Demostrar como a imprensa e a esquerda brasileira tratou ao longo da sua história alguns fatos de forma desigual, chamou nossa atenção para alguns acontecimentos que tiveram como referencia dois pesos e duas medidas.

            A sociedade brasileira, ou melhor, as elites e a classe média, ao se formarem, foram se contaminando cada vez mais, com um preconceito velado de classe social, ou seja, as pessoas são preconceituosas, mas fingem não ser em muitas situações. Diante desta constatação, podemos dizer que a nossa esquerda não pode fugir da regra, por fazer parte ou por ter na maioria de seus quadros, muito destas origens.  Para avaliar como o preconceito está embutido na esquerda brasileira, basta analisar o comportamento da imprensa ou da classe média em relação ao fato citado no início deste artigo. Já paramos pra pensar porque até hoje não temos na história da UNE um presidente negro? E porque as elites tem um ódio de Lula e de tudo que ele representa? Embora estes exemplos sejam dignos de ser desenvolvidos e aprofundados com relação ao nosso tema, prefiro abordar este assunto com um fato fora das fileiras da esquerda e que demostra claramente este preconceito. Assim, no início de fevereiro de 2015, em um único final de semana, a Rondesp (Rondas Especiais) da Polícia Militar baiana assassinou 15 jovens negros em crimes com características de execução. As operações policiais daquele final de semana foram parte de uma vingança contra um policial que havia levado um tiro nos dias anteriores.  Com isto, a esquerda da boa terra, se tornou a mão destes carrascos ao fechar os olhos e não denunciar nem se escandalizar com aquela chacina. Naquela época, não vi ninguém do diretório nacional ou algum deputado se posicionando contra as posições do atual governador. Queria lembrar aos leitores que era carne preta, esta tem pouco valor no mercado. Porem basta o mesmo homem da caneta, cortar o salario dos grevistas, isto é, de uma elite do funcionalismo público para o circo pegar fogo. Será que o grande mal da esquerda é só o corporativismo? Será que neste comportamento não há um preconceito de classe e racial? Não quero omitir nem justificar os crimes dos envolvidos, mas se este fato se desse com jovens de classe média no mesmo local e em circunstâncias parecidas, sob a versão oficial de confronto, teria tido o mesmo desfecho?  Porque estas mortes não provocou a mesma comoção nos nossos políticos e nas instancias dos partidos de esquerda, como tiveram os descontos no contra cheque daqueles funcionários públicos?

           


Quando chegamos a uma determinada  idade, podemos com nossa experiência afirmar que a arte de fazer política, com certeza é a capacidade de engolir sapo. Infelizmente, as questões citadas vão além dos sapos engolidos, estamos falando de princípios e dignidade.  Por isto, acredito que ser de esquerda é um desafio. Acredito que requer muita “dureza”, mas, também, um senso de justiça sem nenhum preconceito, para que possamos criar uma comunidade justa e democrática.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

ARTIGO - A voz do ódio ouve-se bem. (Padre Carlos)

 


A voz do ódio ouve-se bem.



Com a perda de mobilização e organização política dos movimentos sociais, presenciamos de forma inerte o avanço não só da destruição da estrutura do estado brasileiro, mas uma coordenada tentativa de anular com as conquista que o povo brasileiro acumulou ao longo do século XX sobre os direitos humanos.


Entre silêncios e omissões, tomamos conhecimento através da imprensa sobre a forma como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) exaltou os cinco presidentes militares que o Brasil teve de 1964 a 1985 e classificou a ditadura militar, período marcado por violações à democracia e aos direitos humanos, como um regime um pouco diferente do que temos hoje. Não podemos ouvir as vozes das pessoas que foram mortas e torturadas pelo regime que o presidente chama de “pouco diferente”. Confesso os senhores que naquela hora me veio à mente as palavras de Martin Luther King e pensei: não são as palavras de Bolsonaro que tenho medo, mas o silêncio da imprensa brasileira e das elites que demostraram desprezo ao pobre e todos aqueles que de uma forma ou outra possa ameaçar seus privilégios.

Estas pessoas, vem se aproveitando do silêncios de quem deveria defender o estado de direito, estas figuras que mais parecem que saíram do armário da história, ainda com cheiro de naftalina, aproveita para mobilizar o ódio. A voz do ódio ouve-se bem. E há quem não perceba a ameaça que isso significa, porque não conhece bem o que é viver com o medo.

Sempre estará lá, o medo daquelas botas, sabendo que ninguém entenderá as marcas –  a dor, se não o dissermos. Sempre lá, as razões para ter medo. Sempre posta em causa, à primeira liberdade de expressão – a da expressão política.

Todas as pessoas sabem o que é ter medo, mas não o que é viver com medo. Um medo permanente, tatuado na alma de muitos companheiros, o medo de Frei Tito.


Sempre, na vida, procurei – em conjunto com quem militava a partilha deste medo que persiste – ajudei a construir segurança. Leis que não nos agridam, práticas que não desviem os olhares. Construímos segurança que até pouco tempo coexista com o medo que sempre esteve lá. E construir calor e denunciei nos meus mais de quarenta anos de militância o medo que é frio.

A natureza ensina o homem a ser democrático, digo isto, porque foi justamente em plena pandemia, que todas as pessoas passaram a convivem com o medo. Por entre tantas perdas de tantas pessoas e por entre tanto sofrimento, ainda que diferenciado por todas as desigualdades, é a primeira vez que sinto que as elites e o povo, de forma real, democratizaram a convivência com o medo.  Mas é só um. Para pessoas que conheço e respeito suas escolhas, outros medos persistem para elas – e se agravam.

Desde logo, continua o medo de dizer.

É por isso ainda mais importante a visibilidade a outros níveis, como nos espaços de opinião que estão longe de refletir a diversidade de experiências que precisamos conhecer. Seja no que diz respeito às vozes de mulheres, de pessoas LGBT ou de minorias étnico-raciais. Até porque são pessoas que tem muito mais a dizer, por existir entre elas toda uma herança de silêncios.

Mas há também um medo que tem chamado minha atenção e tem se agrava. É que existem um silêncio e uma omissão as agressões ao estado de direito. Presenciamos nas mais altas cortes, o uso estratégico do Direito para fins de deslegitimar, prejudicar ou aniquilar o inimigo. No fundo, trata-se, de um uso indevido do Direito – pois, supostamente, este tem como função restabelecer a paz e não operar como instrumento de agressão – que, assim, é utilizado para realizar objetivos exatamente contrários à sua essência. 


É sob o silêncio cúmplice dos decentes que alguns dos maiores crimes acabam sendo perpetrados.  Aproveitando esta conjuntura, esses silêncios  tem dado cada vez mais  vozes estas forças para mobilizar o discurso de ódio. A voz do ódio ouve-se bem. E há quem não perceba a ameaça que isso significa, porque não conhece bem o que é viver com o medo. Podemos dizer que – na política e na direita, estas forças do mal, têm nome e endereço e mesmo diante destes crimes – encontramos quem relativize, justifique, pondere, calcule. Há quem confie num sistema que, afinal, nunca deu segurança a muitas pessoas. E há quem não se lembre de ouvir e fazer ouvir as vozes de quem sempre soube e tem marcado na carne, que há razões para o medo.

Gostaria de ouvir e ler mais pessoas que não têm mais medo de denunciar o discurso do ódio.  Sim, chegou a hora de dar voz a quem sabe tratar o medo por tu. E ter certeza que não estaremos sozinhos nesta luta e assim podermos dizer nós.

 


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...