quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

ARTIGO - A criminalização de Lula e a entrega de Olga Benário aos Nazistas (Padre Carlos)

 


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A criminalização de Lula e a entrega de Olga Benário aos Nazistas



Nos últimos anos, temos presenciando quase um escândalo político ou jurídico por dia e como não bastasse à fragilidade da nossa recente República, seus atores  terminam arrastando o Estado brasileiro para uma vala comum da história.


    Diante disto, quando tomamos conhecimento da forma como o Exército  exerceu uma  pressão política na votação do HC de Lula, ficou evidente que não estavam apenas os magistrados naquele salão do júri, mas as forças ocultas que Jânio Quadros um dia se referiu.  A pressão sobre Judiciário é ‘intolerável e inaceitável’, mas quando sofreram os juízes se calaram. Três anos é muito tempo para os ministros protestarem.

         Não foram as Forças Armadas, nem a Lava Jato que cometeram tal injustiça, não foram os generais nem o Juiz Mouro, os grandes responsáveis por tudo que tem acontecido de ruim aos brasileiros, foram os juízes da Suprema Corte. Digo isto, porque se eles não tivessem afastado o candidato que estava na frente das pesquisas, se não tivessem deposto um governo legitimamente eleito e soberano, nada disto estaria acontecendo.

Este HC me fez lembrar um fato semelhante num Brasil sob o Estado Novo de Getúlio Vargas, os ministros do STF não conheceram o Habeas Corpus impetrado em favor de Maria Prestes, nome de casada de Olga Benário. Grávida do líder comunista Luis Carlos Prestes, ela foi extraditada para a Alemanha nazista com a salvaguarda do Supremo e morta num campo de concentração aos 34 anos, depois do nascimento de sua filha, a brasileira Anita Leocádia. Mas, diante de tantas injustiças, quase esquecemos que foi o STF quem entregou Olga Benário aos Nazistas.

A história que ficou gravada nas nossas mentes e relatada pelos órgãos da imprensa, foi que no dia 23 de setembro de 1936, a judia alemã Olga Benário deu adeus ao Brasil. Presa com o marido Luiz Carlos Prestes em cinco de março do mesmo ano, ela foi deportada, embarcou no navio La Coruña rumo à cidade de Hamburgo. Nem o fato de estar grávida impedira o presidente Getúlio Vargas, que assinara decreto de expulsão no dia 28 de agosto, de entregá-la à Alemanha Nazista de Adolf Hitler. Olga ainda apelou para ter a filha no Brasil. Sem sucesso. Acabou morrendo num campo de concentração, aos 34 anos, em abril de 1942. Apagamos da memória que o grande responsável foi o STF e colocamos toda culpa em Getúlio e no Estado Novo.  

Diante desta interpretação, quem condenou Lula, foi a Suprema Corte, o juiz Mouro, os Procuradores da República ou os Juízes do Supremo? Será que os fatos hoje revelados pela Vasa Jato e pelo General Villas Bôas, não coloca a Suprema Corte só como o carrasco que estava exercendo o seu papel? Quem de fato foram os mandantes?

        No imaginário popular aquele que enverga a toga representa a justiça. Usar a toga, isto é, ser ministro da Suprema Corte é tomar parte da comunidade daqueles que devem dizer o que é justo. Assim, de forma inconsciente, ou consciente, protegemos nossos arquétipos de justiça e projetamos em outras pessoas a responsabilidade destes atos.

 


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