Nossa
esquerda preconceituosa
Peço licença aos
leitores, para iniciar este artigo citando o grande Santo Agostinho (354-430)
disse: “Teus pecados são a tua tristeza, deixe que a santidade seja a tua
alegria”.
Faz alguns anos que li um artigo da jornalista Camila
Marciel - em sua coluna na Agência Brasil São Paulo, a repórter tratava da forma
brutal como o DOI-Codi sequestra e mata Manoel Fiel e diz que o metalúrgico
cometeu suicídio. O que causa surpresa, é que a morte do metalúrgico ocorreu
menos de três meses após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no mesmo
local e em circunstâncias parecidas, sob a versão oficial de suicídio e não
teve o impacto e a revolta que a imprensa e a “esquerda democrática”
demostraram no caso do jornalista assassinado.
A sociedade
brasileira, ou melhor, as elites e a classe média, ao se formarem, foram se contaminando
cada vez mais, com um preconceito velado de classe social, ou seja, as pessoas
são preconceituosas, mas fingem não ser em muitas situações. Diante desta
constatação, podemos dizer que a nossa esquerda não pode fugir da regra, por
fazer parte ou por ter na maioria de seus quadros, muito destas origens. Para avaliar como o preconceito está embutido
na esquerda brasileira, basta analisar o comportamento da imprensa ou da classe
média em relação ao fato citado no início deste artigo. Já paramos pra pensar
porque até hoje não temos na história da UNE um presidente negro? E porque as elites
tem um ódio de Lula e de tudo que ele representa? Embora estes exemplos sejam
dignos de ser desenvolvidos e aprofundados com relação ao nosso tema, prefiro
abordar este assunto com um fato fora das fileiras da esquerda e que demostra
claramente este preconceito. Assim, no início de fevereiro de 2015, em um único final de semana, a Rondesp
(Rondas Especiais) da Polícia Militar baiana assassinou 15 jovens negros em
crimes com características de execução. As operações policiais daquele final de
semana foram parte de uma vingança contra um policial que havia levado um tiro
nos dias anteriores. Com isto, a esquerda da boa terra, se tornou a mão
destes carrascos ao fechar os olhos e não denunciar nem se
escandalizar com aquela chacina. Naquela época, não vi ninguém do diretório
nacional ou algum deputado se posicionando contra as posições do atual governador.
Queria lembrar aos leitores que era carne preta, esta tem pouco valor no
mercado. Porem basta o mesmo homem da caneta, cortar o salario dos grevistas,
isto é, de uma elite do funcionalismo público para o circo pegar fogo. Será que
o grande mal da esquerda é só o corporativismo? Será que neste comportamento
não há um preconceito de classe e racial? Não quero omitir nem justificar os
crimes dos envolvidos, mas se este fato se desse com jovens de classe média no
mesmo local e em circunstâncias parecidas, sob a versão oficial de confronto,
teria tido o mesmo desfecho? Porque
estas mortes não provocou a mesma comoção nos nossos políticos e nas instancias
dos partidos de esquerda, como tiveram os descontos no contra cheque daqueles
funcionários públicos?
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