Darcy Ribeiro: 100 anos de luta!
Somos influenciados o tempo inteiro e por
mais que não queiramos, terminamos levando estas raízes com a gente. São elas que
terminam definindo como agimos em determinadas situações da nossa vida e
principalmente como interagimos com todas as outras pessoas que encontramos
durante a travessia nesta terra. Seja essa influência negativa ou positiva, ela
vai moldando e mudando não só o seu comportamento mais de toda uma região, ela
é muito mais profunda do que nós acreditamos e para falar deste Mineiro de
Montes Claros que completa hoje 100 anos, fui buscar a relação dos intelectuais
da Região do sudoeste, Anísio Teixeira e Glauber Rocha com Darcy Ribeiro e o
modo de pensar o Brasil.
O Darcy educador teve forte influência de
Anísio Teixeira, a quem considerava como seu modelo de filósofo educador. Ele
costumava dizer que, sem a educação, os colonizadores acabariam vencendo. E para
traçar sua estratégia no campo da educação, as ideias revolucionárias deste
baiano foram fundamentais. Só retornando aos textos de Anísio é que podemos
entender como ele inspirou Darcy e a sua geração. Como dizia o baiano de Caetité: “Uma coisa que sempre cogito, que sempre estou
me perguntando, como é que o Brasil conseguiu ser tão ruim em educação e
continua sendo tão ruim em educação? A única explicação que tenho é que é um
defeito da nossa classe dominante. A nossa sociedade é uma sociedade enferma de
desigualdades, suponho que a causa básica está em que somos descendentes dos
senhores de escravos, fomos o último país do mundo, a acabar com a escravidão,
ela cria um tipo de senhorialidade que se autodignifica, que se acha branca,
bonita, civilizada, come bem, é requintada, mas que tem ódio do povo, trata o
povo como carvão para queimar.”
Foi com estas certezas que Darcy chega a
Brasília para assumir o ministério da Educação no governo de João Goulart e
criar um projeto inovador de Universidade, sem segmentação por departamentos.
Mesmo cassado e exilado, não se esqueceu do projeto e ao retornar ao Brasil criou
uma experiência inovadora que oferecia às crianças e jovens menos favorecidos,
uma educação de qualidade – os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs).
Este projeto, idealizado por Darcy Ribeiro, baseava-se em uma visão ampla de
educação, vista como formadora de cidadania. .
Darcy também era um admirador do trabalho
de Glauber Rocha e acompanhava de perto o baiano na sua saga por cultura e
liberdade. Dizia ele: "A classe dominante sempre se deu bem e continua se
dando bem. Mas o povão tá aí, com uma fome que é espantosa. Por que há fome
nesse país?", disse e escreveu há quase 30 anos.
Só quem conhece o sudoeste baiano e o norte
de Minas Gerais, poderá entender porque ele provocou prantos no discurso que
fez no enterro do cineasta Glauber Rocha, em 1981, ao afirmar que, certa vez, o
artista chorava e dizia "o país que não deu certo".
"Glauber chorava a dor que todos os
brasileiros deveriam chorar a dor das crianças com fome no Brasil, a dor do
país que não deu certo. Glauber chorava a estupidez, a brutalidade, a
mediocridade, a tortura."
Estes homens denunciaram e lutaram contra uma
classe dominante que vê o povo com reles. Por isto, não tem interesse em educar
nem alimenta-lo.