quarta-feira, 26 de outubro de 2022

ARTIGO - Os 100 anos de Darcy Ribeiro e a influencia do Sudoeste baiano em sua obra.

 


Darcy Ribeiro: 100 anos de luta!

 

 


Somos influenciados o tempo inteiro e por mais que não queiramos, terminamos levando estas raízes com a gente. São elas que terminam definindo como agimos em determinadas situações da nossa vida e principalmente como interagimos com todas as outras pessoas que encontramos durante a travessia nesta terra. Seja essa influência negativa ou positiva, ela vai moldando e mudando não só o seu comportamento mais de toda uma região, ela é muito mais profunda do que nós acreditamos e para falar deste Mineiro de Montes Claros que completa hoje 100 anos, fui buscar a relação dos intelectuais da Região do sudoeste, Anísio Teixeira e Glauber Rocha com Darcy Ribeiro e o modo de pensar o Brasil.

O Darcy educador teve forte influência de Anísio Teixeira, a quem considerava como seu modelo de filósofo educador. Ele costumava dizer que, sem a educação, os colonizadores acabariam vencendo. E para traçar sua estratégia no campo da educação, as ideias revolucionárias deste baiano foram fundamentais. Só retornando aos textos de Anísio é que podemos entender como ele inspirou Darcy e a sua geração. Como dizia o baiano de  Caetité: “Uma coisa que sempre cogito, que sempre estou me perguntando, como é que o Brasil conseguiu ser tão ruim em educação e continua sendo tão ruim em educação? A única explicação que tenho é que é um defeito da nossa classe dominante. A nossa sociedade é uma sociedade enferma de desigualdades, suponho que a causa básica está em que somos descendentes dos senhores de escravos, fomos o último país do mundo, a acabar com a escravidão, ela cria um tipo de senhorialidade que se autodignifica, que se acha branca, bonita, civilizada, come bem, é requintada, mas que tem ódio do povo, trata o povo como carvão para queimar.”  

Foi com estas certezas que Darcy chega a Brasília para assumir o ministério da Educação no governo de João Goulart e criar um projeto inovador de Universidade, sem segmentação por departamentos. Mesmo cassado e exilado, não se esqueceu do projeto e ao retornar ao Brasil criou uma experiência inovadora que oferecia às crianças e jovens menos favorecidos, uma educação de qualidade – os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). Este projeto, idealizado por Darcy Ribeiro, baseava-se em uma visão ampla de educação, vista como formadora de cidadania.  .

Darcy também era um admirador do trabalho de Glauber Rocha e acompanhava de perto o baiano na sua saga por cultura e liberdade. Dizia ele: "A classe dominante sempre se deu bem e continua se dando bem. Mas o povão tá aí, com uma fome que é espantosa. Por que há fome nesse país?", disse e escreveu há quase 30 anos.

Só quem conhece o sudoeste baiano e o norte de Minas Gerais, poderá entender porque ele provocou prantos no discurso que fez no enterro do cineasta Glauber Rocha, em 1981, ao afirmar que, certa vez, o artista chorava e dizia "o país que não deu certo".

"Glauber chorava a dor que todos os brasileiros deveriam chorar a dor das crianças com fome no Brasil, a dor do país que não deu certo. Glauber chorava a estupidez, a brutalidade, a mediocridade, a tortura."

Estes homens denunciaram e lutaram contra uma classe dominante que vê o povo com reles. Por isto, não tem interesse em educar nem alimenta-lo.

 


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