A eclesiologia do Pe. Alberto Antoniazzi
Uma das Frases emblemáticas do
início do século XX, que mais animaram o debate teológico, foi sem
dúvida nenhuma : "Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio
foi a Igreja."
Hoje me deu
saudade de Belo Horizonte e dos meus formadores, tive oportunidade de conhecer
a eclesiologia pelas mãos do Pe. Alberto Antoniazzi e confesso aos
senhores que aprendi muito com aquele milanês sobre a Igreja
e como este projeto foi se afastando da proposta dos Apóstolos e do Salvador.
Sempre mostrando o caminho e afirmando que a Igreja não era lugar de pompas, privilégios
nem toque de majestade, ensinava a seus alunos que deveríamos retornar à
simplicidade límpida e transparente da fonte evangélica, onde a água é mais
cristalina. Abria as nossas mentes para as páginas contundentes dos relatos
bíblicos, notadamente os livros proféticos, onde o Deus de Israel, no Antigo
Testamento, privilegia com clareza “o pobre, a viúva e o estrangeiro”. E o Pai
de Jesus Cristo, no Novo Testamento, mostra predileção particular pelos
“pobres, oprimidos, prisioneiros, indefesos, prostitutas, excluídos, pecadores”
– como o Bom Pastor que deixa as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro
daquela que se perdeu.
Desta forma, aprendemos
com este grande teólogo, que Jesus queria a
Igreja enquanto povo de Deus, não uma Igreja instituição de poder e clerical
como presenciamos não só no período da cristandade, mas até hoje com esta
estrutura, com duas classes: de um lado, a hierarquia, o clero, que ensina e
que manda em nome de Deus, e, do outro, os leigos, os que obedecem. Veja-se o
significado da palavra leigo no Aurélio: sou um "leigo", com o
sentido de incompetente, ignorante. Ou a expressão referida aos padres, quando
lhes é retirado o ministério: "foi reduzido ao estado laical", com o
sentido implícito de ter perdido o privilégio de clérigo. Na Igreja, segundo
Jesus, há ou deveria haver uma igualdade radical e, consequentemente, nela deve
reinar a fraternidade, a igualdade e a liberdade. Evidentemente, uma vez que há
muitos cristãos e católicos, terá de haver alguma organização, algo
institucional, mas a instituição tem de estar ao serviço da Igreja povo de
Deus, e não, sacralizar-se, dando a si mesma atributos divinos. Aliás, Jesus
disse: "Eu vim não para ser servido, mas para servir." Na Igreja, há
serviços, ministérios.
O
que se passou e passa é que a hierarquia, padres e bispos, sacralizaram-se,
atribuindo-se a si mesmos privilégios sacros ao serviço dos quais estaria o
próprio celibato. Eles trazem Cristo à terra na Eucaristia, só eles perdoam os
pecados, e formam uma espécie de casta à parte, como diz a própria palavra
clero, são ministros, mas ministros sagrados... O padre é alter Christus (outro
Cristo). Isso foi de tal modo interiorizado pelo comum dos católicos que há
constantemente o perigo da deriva para o clericalismo. Me lembro que minha
geração achava, e os jovens padre até hoje pensam assim, se foi ordenado, tem
direito a uma forma de reverência, isto é um erro, de que alguns padres não
hesitam em abusar.
O mundo está cheio de
heróis sem capa, pessoas que dedicaram sua vida a criar uma Igreja mais humana,
teólogos, professores e padres que todos os dias fazem a diferença ao deixarem
seu país sua cultura e jogar-se nas mãos de Deus. Os padres que Pe. Alberto Antoniazzi ajudou formar o olham com admiração, mesmo os
que se perderam no caminho acabam por reconhecer o seu valor em algum momento.
Só uma grande alma poderia se despedi no dia de Natal. Este ano completa
quinze natais sem o padre Alberto Antoniazzi e nosso objetivo é resgatar a memória deste
grande teólogo. Receba meu amigo e professor, esta simples homenagem.
Padre Carlos
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