sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

ARTIGO - A eclesiologia do Pe. Alberto Antoniazzi (Padre Carlos)


A eclesiologia do Pe. Alberto Antoniazzi



Uma das  Frases emblemáticas do início do século XX,  que  mais animaram o debate teológico, foi sem dúvida nenhuma : "Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi a Igreja."
Hoje me deu saudade de Belo Horizonte e dos meus formadores, tive oportunidade de conhecer a eclesiologia pelas mãos do Pe. Alberto Antoniazzi e confesso aos senhores que aprendi muito com aquele milanês sobre a Igreja e como este projeto foi se afastando da proposta dos Apóstolos e do Salvador. Sempre mostrando o caminho e afirmando que a Igreja não era lugar de pompas, privilégios nem toque de majestade, ensinava a seus alunos que deveríamos retornar à simplicidade límpida e transparente da fonte evangélica, onde a água é mais cristalina. Abria as nossas mentes para as páginas contundentes dos relatos bíblicos, notadamente os livros proféticos, onde o Deus de Israel, no Antigo Testamento, privilegia com clareza “o pobre, a viúva e o estrangeiro”. E o Pai de Jesus Cristo, no Novo Testamento, mostra predileção particular pelos “pobres, oprimidos, prisioneiros, indefesos, prostitutas, excluídos, pecadores” – como o Bom Pastor que deixa as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro daquela que se perdeu.
Desta forma, aprendemos com este grande teólogo, que  Jesus queria a Igreja enquanto povo de Deus, não uma Igreja instituição de poder e clerical como presenciamos não só no período da cristandade, mas até hoje com esta estrutura, com duas classes: de um lado, a hierarquia, o clero, que ensina e que manda em nome de Deus, e, do outro, os leigos, os que obedecem. Veja-se o significado da palavra leigo no Aurélio: sou um "leigo", com o sentido de incompetente, ignorante. Ou a expressão referida aos padres, quando lhes é retirado o ministério: "foi reduzido ao estado laical", com o sentido implícito de ter perdido o privilégio de clérigo. Na Igreja, segundo Jesus, há ou deveria haver uma igualdade radical e, consequentemente, nela deve reinar a fraternidade, a igualdade e a liberdade. Evidentemente, uma vez que há muitos cristãos e católicos, terá de haver alguma organização, algo institucional, mas a instituição tem de estar ao serviço da Igreja povo de Deus, e não, sacralizar-se, dando a si mesma atributos divinos. Aliás, Jesus disse: "Eu vim não para ser servido, mas para servir." Na Igreja, há serviços, ministérios.
O que se passou e passa é que a hierarquia, padres e bispos, sacralizaram-se, atribuindo-se a si mesmos privilégios sacros ao serviço dos quais estaria o próprio celibato. Eles trazem Cristo à terra na Eucaristia, só eles perdoam os pecados, e formam uma espécie de casta à parte, como diz a própria palavra clero, são ministros, mas ministros sagrados... O padre é alter Christus (outro Cristo). Isso foi de tal modo interiorizado pelo comum dos católicos que há constantemente o perigo da deriva para o clericalismo. Me lembro que minha geração achava, e os jovens padre até hoje pensam assim, se foi ordenado, tem direito a uma forma de reverência, isto é um erro, de que alguns padres não hesitam em abusar.
O mundo está cheio de heróis sem capa, pessoas que dedicaram sua vida a criar uma Igreja mais humana, teólogos, professores e padres que todos os dias fazem a diferença ao deixarem seu país sua cultura e jogar-se nas mãos de Deus. Os padres que Pe. Alberto Antoniazzi  ajudou formar o olham com admiração, mesmo os que se perderam no caminho acabam por reconhecer o seu valor em algum momento. Só uma grande alma poderia se despedi no dia de Natal. Este ano completa quinze natais sem o padre Alberto Antoniazzi  e nosso objetivo é resgatar a memória deste grande teólogo. Receba meu amigo e professor, esta simples    homenagem.

Padre Carlos


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