segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

ARTIGO - Assim, se passaram sessenta anos (Padre Carlos)




Assim, se passaram sessenta anos



Não. Não vou falar do governo de Bolsonaro nem das suas maldades. Não vou falar da crise da democracia e da representação dos poderes. Não vou falar do momento complexo que o Brasil vive neste início de ano. Também não vou falar do governo de Herzem Gusmão e da demora do Partido dos Trabalhadores definir quem será seu candidato em Vitória da Conquista.    Não vou falar em nada disto porque os meios de comunicação estão cheios destes  artigos e os comentários proliferam, as análises sobrepõem-se e resta aguardar o seu desfecho – bons ou maus – se confirmem e esperar que a realidade das coisas não nos surpreenda.
   

 Se vocês permitirem, hoje vou falar do sentimento de perda e nostalgia que esta semana registei ao saber da morte de um grande companheiro que a muito não tinha notícias, amigo e irmão dos anos de chumbo. É uma geração que vai desaparecendo e, com ela, certa forma de estar, de ser, de se relacionar, de escrever, de cantar, mas, também de lutar e acima de tudo de amar. Esta perda me fez viajar nas minhas lembranças e resgar aquele momento da fundação do PT, da primeira campanha em 82 com voto vinculado, da propaganda politica que parecia uma página policial, afinal a maioria tinha sido preso político, do grupo de jovens, da militância do núcleo de base do partido e dos amigos da infância da Pituba.
       Alguns momentos da nossa vida são guardados e de vez em quando lembrados com carinho, como os que eu descrevi nos primeiros parágrafos. Um lugar que você ia, coisas que fazia pessoas que já não convive mais. Lembro-me do que se passou na minha infância e juventude, com ternura e muita emoção. E muitas vezes desejamos que tudo aquilo voltasse, nem que só por alguns momentos. "Como era bom"
       Hoje, me sinto como se quisesse reencontrar um mundo que eu pensava que ainda existia e agora descubro de forma dolorosa que acabou. A sensação é de querer rebobinar a vida e reencontrar-me com certa forma de ser e de estar que vivi nestes últimos 60 anos e que o tempo de forma cruel tragou com tanta voracidade. Neste momento, fecho os olhos e como numa oração, busco de forma desesperada ressuscitar tempos, valores, sentimentos, modelos de sociedade que sucumbiram a esta loucura cujo destino me afastou, quando entrei no seminário!
     
 Ao completar neste vinte e sete de janeiro sessenta anos, temos que agradecer a Deus por esta conquista! Outro fato importante é poder festejar também neste dez de fevereiro os quarenta anos do Partido dos Trabalhadores. Assim, convoco os menestréis   e os poetas para expressar o que eu sinto neste dia:

 Chega de saudade, A realidade, É que sem ela não há paz, Não há beleza, É só tristeza, E a melancolia, Que não sai de mim, Não sai de mim, não sai”.


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