Diga Que Valeu!
Quando nos separamos de uma grande paixão, seja em decorrência do falecimento ou em vida, nós lidamos com a morte. Somos culturalmente criados para as vitórias, conquistas e sucesso, mas recebemos pouquíssima (ou quase nenhuma) educação para as derrotas ou perdas. E quando a maior delas surge, não sabemos lidar com estes infortúnios e em muitos casos, algumas delas são irreparáveis. Depois de tanto tempo, não interessa mais saber o que aconteceu. Por quê? A vida fez o seu trabalho. As circunstâncias levaram a este desfecho. Sim, foi um grande choque, sentir o baque durante anos, conversou com um amigo como se estivesse confessando com um padre. E é justamente aí que mora o perigo: a gente precisa lidar com uma perda sem esperança. Uma perda com um ponto final. O grande problema é que ele não consegue pensar em se despedir um dia desta vida sem ter a certeza que foram felizes, pelo menos naquele tempo. “Então, diga que valeu”!
Só o poeta consegue interpretar o que sentimos, quão grande é a nossa dor e com uma precisão de um cirurgião ou como um artesão das palavras, retrata estes sentimentos através da sua obra. Encontrei este artista das letras em Paulo Afonso, na década de noventa e seu poema lembrou-me o trabalho de uma diva da música francesa, a suplica é a mesma e o sentimento de perda fica latente: “Então diga que valeu”. A necessidade de saber se foi amado, se aquelas juras de amor foram verdadeiras, se valeu apena viver todo aquele amor na juventude é importante. Para uma boa parte da minha geração esta certeza é fundamental, “o nosso amor valeu demais, foi lindo, ficou pra trás”.
Provavelmente, a resposta para tudo isso ele jamais saberá. Ele não aceitou a sua perda ela já faz parte dele e soube conviver com esta todos estes anos da sua vida, como uma companheira de viagem. Desta forma, ele se acostumou com a presença desta perda e sempre que ela surge, ele com toda paciência, lambe suas feridas. Sem dúvida, é um dos sentimentos mais dolorosos que existem, mas é através dele que deveríamos amadurecemos e aprendemos a dar valor ao que temos e enquanto temos.
Padre Carlos
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