terça-feira, 29 de setembro de 2020

ARTIGO - O ser humano é capaz do melhor ( Padre Carlos )

 


 

 

O ser humano é capaz do melhor

 


Os próximos anos não vão ser fáceis e o retorno do crescimento econômico vai ser lento e doloroso. Espero que possamos aprender a lição. Será uma boa oportunidade para sermos mais solidários, altruístas e justos.

 


O verão ainda não começou e já nos preparamos para a segunda fase (inevitável?) do vírus. Entretanto, fazendo um balanço de meses de quarentena, da volta de uma certa normalidade e de uma economia asfixiada pelo vírus e pela crise que já tinha se instalado antes da pandemia. Contamos diariamente os casos confirmados, os internados nas UTIs, os recuperados e os que não sobreviveram. As consequências desta maldita covid-19 vão resistir ao tempo e deixarão marcas, muitas vezes, irreparáveis. Nunca desejamos tanto que um ano terminasse tão depressa!

Para os baianos, principalmente eu que nasci e me criei em Salvador, de uma hora para outra deixar de poder beijar e abraçar familiares e amigos é muito difícil, faz parte da nossa cultura. O distanciamento imposto abalou as já frágeis relações inter-humanas numa sociedade dependente das redes sociais. Impediu os avós de estarem com os netos, impossibilitou as idas à praia e ao barzinho, proibiu os jogos de futebol e instaurou um medo que até então não conhecíamos. Se ainda restavam dúvidas temos agora a certeza que sem internet quase ninguém vive. Mas os desafios do TikTok e os filmes da Netflix não substituem o contato humano. Por outro lado, a cultura é vital para alimentar o espírito e prover o sustento de todos os que dela dependem para viver. 


         Foram muitos os erros cometidos por este governo, no que diz respeito a coordenação e liderança neste momento. A falta de consenso e de união originou protestos e manifestações. Surgiram dentro do próprio governo, movimentos ‘anti-máscaras’, os grupos radicais que recusam a vacina e ainda os que afirmam que tudo isto não passa de uma conspiração para exterminar a população. Ou até mesmo os que defendem tratar-se de uma guerra virológica premeditada. Os desafios são grandes e quase toda as autoridades tentam evitar um novo confinamento.


        Sem dinheiro ninguém vive e o vírus veio acentuar as desigualdades já existentes. Quase todos os setores foram afetados, mas o mais sacrificado foi, sem dúvida, o turismo. As companhias aéreas despedem aos milhares e pedem ajuda ao Estado para assegurar a sua continuidade. Um pouco por todo o litoral nordestino, hotéis e restaurantes fecham as portas. Para sempre. No país onde o verão e o carnaval eram vividos o ano inteiro.

 

       E depois? Tenho amigos que ainda não voltaram ao trabalho, outros que       já foram dispensados. Aprendemos a viver com poucos recursos, mas a escola, o hospital, o supermercado e a farmácia são essenciais e os seus interlocutores são os novos heróis.


Os próximos anos não vão ser fáceis e a retoma vai ser lenta e dolorosa. Mais uma prova à nossa resistência de brasileiro e nordestino, isto é, da nossa capacidade de superação. Ainda assim, mantenho o otimismo. Espero que possamos aprender a lição. Será uma boa oportunidade para sermos mais solidários, altruístas e justos. Sei que o vírus não acontece só com os outros. Mas também sei que o ser humano é capaz do melhor. Basta querer.

 


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