Nenhuma vida é mais importante de que
a outra
Quando
estudamos teologia, descobrimos que o significado da palavra apocalipse não
significa somente o fim dos tempos, mas também profecia e revelação. Não faz
muito tempo que escrevi para um amigo dizendo que um vírus pode escrever certo
em linhas tortas e ensinar aos economistas, que algo precisava ser feito para
desmascarar o culto ao estado mínimo e a auto-regulamentação da economia.
O
que este vírus quer revelar?
Urge
entender o que o vírus está tentando ensinar com isto tudo. Fugir da ignorância
que nos assola é primordial. A visão falsa moralista da pandemia não nos serve,
pois ela não existe “por que Deus quer” ou por ser “uma vingança da natureza”,
apesar de que parece ser isso, também. O mais importante são os ensinamentos
que este acontecimento tem nos proporcionado! Saberemos tirar lições disso
tudo? Antes de tudo, revelou-me uma nova diferença entre as ciências econômicas
e as ciências sociais e a filosofia. Desde a Grécia Antiga foi assim, quando os
homens não sabiam explicar os fenômenos da natureza, terminavam responsabilizando
estas forças as divindades. Assim, os economistas recorreram à literatura para
explicar como a economia funciona. Um caso clássico disto foi protagonizado por
Adam Smith quando pegou emprestado de Shakespeare a ideia de “mão invisível” para
creditar o equilíbrio do mercado.
Para
os filósofos, a pandemia atual representa uma oportunidade, previsível, vindo a
confirmar que só os governos, suas instituições, e sistemas públicos de saúde
como temos aqui no Brasil (SUS), é capaz de enfrentar uma pandemia como esta.
Pois, por definição, o capital privado se preocupa com os lucros e faturamento
na área da saúde enquanto o Estado cuida das pessoas. O fato é que o vírus se
alastra num mundo capitalista e, como sabemos, lucrar é o oposto de salvar
vidas.
Um
dos grandes problemas da humanidade é achar que algumas vidas valem mais que
outras. Não aprendemos com nossos desacertos e deixamos por negligencia que a
história e os nossos erros se repetissem. O que aprendemos realmente com a segunda
guerra mundial? Se tiramos alguma lição do Shoá ou holocausto, porque estamos
deixando o fascismo voltar? Porque aprendemos tão pouco com Influenza, Ebola,
H1N1, Gripe Aviária?
É preciso lembrar que a vida é um bem de todas as pessoas, de todas as
idades e de todas as partes do mundo. Nenhuma vida humana é diferente de outra,
nenhuma vale mais nem vale menos do que outra. Se isto é uma verdade universal,
por que só tomamos consciência dos horrores do nazismo, quando ele entrou na
França e ameaçou invadir a Inglaterra, enquanto matava judeus e poloneses, a
Europa não enfrentou Hitler?
Se não é justo matar uma pessoa ou muitas pessoas para que alguns homens
fiquem mais ricos ou mais poderosos, porque enquanto as pragas estavam
confinadas e matando no Continente Africano e Asiático, o mundo virava o nariz
ou fingia não enxergar para o perigo iminente desta chegar ao seu quintal?
O vírus revelou que somos feitos do mesmo
barro!