sexta-feira, 26 de junho de 2020

ARTIGO - O remédio é uma overdose de Utopia (Padre Carlos)




O remédio é uma overdose de Utopia


Estes dias recebi uma ligação de um amigo que estava assustado com tudo que está acontecendo no país. Naquele momento entendi que não era só as pessoas infectadas que estavam enfermas, toda a sociedade se encontra doente, não só em decorrência das doenças, mas de uma neurose coletiva, fruto do perigo iminente este vírus letal e da falta de esperança no futuro. O pior disto tudo, é diagnosticar estes problemas e não ser capaz de encontrar um remédio que possa curá-la, da angustia de não haver um amanhã.
Quando ouvir o depoimento de um paciente que tinha se recuperado do covid-19, dizendo que a sensação era que estava morrendo afogado no seco, entendi que a sociedade não poderia viver sem utopia e que esta era o ar que ela respira.  A sociedade está sem esperança, fruto da falta de visão das pessoas. Pior, a desesperança se agiganta, pois não há mais nada em que se possa sustentar. Mas, diante de todo este medo, mesmo enlouquecida, fruto da insanidade das pessoas, o milagre acontece. Passamos a enxergar uma luz no fim do túnel e acreditamos que ainda existe um pouco de bom senso, algumas vozes se levantam pelo direito da vida, pela sobrevivência de todos.
Esta patologia da sociedade está relacionada a prevalência do indivíduo sobre o coletivo. Assim, para buscarmos sua cura, ela tem que ter menos importância e passar a se preocupar mais com o desperdício sobre o comedimento, do ter sobre o ser, do insulto sobre o respeito, enfim, do eu sobre todos, depois de muito tempo poderemos criar as condições necessária para que estes antigos valores deixem de ser a regra central da vida, pela qual as pessoas hoje se guiam.
A liberdade, a vontade, o desejo, o prazer, tudo em nível individual perde o sentido quando você não tem para quem exibi-lo, o deus glutão depois do pós-guerra passa a perder sua força.
Estamos neste momento travando uma luta. A ignorância tenta oprimir a sabedoria, a força querendo superar o direito, a feiura buscando enterra a beleza, a violência querendo impor o terror, o demônio sonhando em vencer a deus. Por todos os lados ouvem-se gritos dos que ordenam, mas já não se ouve tantos lamentos porque estão começando a desobedecerem, por todos os lugares as maldades perdem força e já não eclodem mais, como se via antes desta pandemia.  Os negros, os pobres os honestos e inocentes não se apequenam mais e buscam diante do direito de existir superar a impotência de reagirem.
Os sintomas da doença que a sociedade contraiu são os seguintes: o passado é apagado, o presente é esquecido, o futuro é descartado. A história é desaprendida, a vida é jogada, o amanhã é incerto. O descompromisso é permanente, o trabalho é temporário, o resultado é indiferente. A riqueza é exaltada, a pobreza é condenada. O rico é bajulado, o pobre é espezinhado. O jovem é enaltecido, o velho é desprezado e condenado a se expor ao vírus.
A sociedade pós-moderna é líquida, já diz a sociologia e o que podemos espera da sociedade pós-pandemia? A crise sanitária, fez com que as pessoas ficassem sem rumo, como um barco à deriva num mar de tempestade. Aí, fico aqui a pensar com meus botões: o que será das futuras gerações se não buscarmos uma utopia que possa curá-la de seus demônios e males.




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